UM POETA... PARAENSE ?!
UM POETA... PARAENSE ?!
"Ubi bene, ibi pátria" ! (*1)
(provérbio latino)
"Um país que se chama Pará"!
(poeta RUY BARATA, trecho)
Nessa madrugada pós-Páscoa "chove nos campos de Cachoeira"... aliás, chove em todo lugar aqui no Pará, são seis longos meses de água. Resta saber onde cabe, nos céus, tanta água ! Não vou abordar a extensa obra do romancista Dalcídio Jurandir, paraensíssimo em seus escritos, narrando as dificuldades e tristezas de um povo cercado de águas e matas, duas imensidões que oprimem, quase diria eu deprimem. Nos romances de Dalcídio -- que nem li, conheço apenas a partir de análises alheias -- há críticas contra o ser "alienígena e alienado", que vem para "consertar a Amazônia", mudá-la, modificá-la, fazê-la PROGREDIR... talvez o termo que mais "incomoda" a todos aqui ! Mudanças só são aceitas -- e só podem ser feitas -- pela "gente da terra". Porém, meu objetivo é falar de POESIA.
Não compreendo porque nós -- escritores e poetas -- precisamos de "apêndices regionalistas", meros adjetivos restritivos, castradores (?!) até. O que seria, será, um poeta... PARAENSE ?! Escreveu um pensador, mexicano eu acho -- e cá estou eu "delimitando" a personna(lidade) do sujeito -- que "nada é mais UNIVERSAL do que cantar a própria terra", o lugar onde se nasce. Ainda assim, sua declaração se restringe a LOAS, a elogios, bajulação, utopias, quase ignora a descrição fria de realidades locais.
Seria PARAENSE um Gonçalves Dias descrevendo as palmeiras "onde (en)canta o sabiá" e o índio "bravo e forte / que é filho do Norte" ?! Seria poet(is)a PARAENSE tão-somente quem destacasse em sua obra as belezas locais ? Uma Adalcinda Camarão ou Sílvia Helena Tocantins, um Paes Loureiro entre os homens, a descrever o imaginário amazônico ?! Poetas da Modernidade -- reformatando palavras em "nova arquitetura" -- como Max Martins ou Age de Carvalho não seriam PARAENSES... nem sequer poetas ?
Relembro a toda hora do "livro verde" de José Ildone, o inesquecível "A HORA DO GALO", professor que conheci na minúscula Vigia (de onde foi até prefeito), êle regionalíssimo em sua simplicidade e hospitalidade. O que já foi TRADIÇÃO de um povo inteiro tem, agora, jeito e "cheiro" de camuflagem, vem do cérebro e não do coração. De Ildone "salta" de seu livro trecho sobre o "fazer literário", no qual condena poemas "cheios de tucupi e açaí, de tacacá e mapará"... não com essas palavras, mas com igual sentido.
Cantar a terra, sim, porém jamais de forma vulgar, popularesca, fácil, comum. Huumm, vai ser difícil ser poeta ! O jornalista baiano (epa, lá vou eu de novo "delimitar") Rui Santana produziu o que parece ser a primeira coletânea de escritores de Ananindeua, meia-dúzia, dos quais nascidos aqui só 1, talvez 2... a cidade tinha somente uns 55 anos em 2008 e nosso bairro-cidade metade disso. Me coube a tarefa de "revisar" e também a de prefaciar, esta a meu pedido. Sem saber que PCs são idiotas e só cumprem ordens após muita insistência de nossa parte, NÃO SALVEI as correções feitas... ora, para mim isso era automático, por uma questão de lógica. Curiosamente, ele "SALVA" a cada minuto e meio o texto que digitamos, só não salva AS CORREÇÕES que fazemos no mesmo texto, depois de pronto.
Quanto ao Prefácio, as obras lá -- com 3 ou 4 páginas por autor, 1 mulher somente -- pouco tinham de PARAENSES: nada de curupiras, botos, boiúnas, igarapés, tacacás e açaís, yaras e maguaris, etc... eram todas elas poemas URBANOS, com temas pessoais, portanto "NÃO-PARAENSES" para o "status quo" vigente, para o "SISTEMA", "stablishment" como citavam os ingleses.
Sejamos, pois, poetas e escritores UNIVERSAIS, para todos em todas as regiões e não apenas vates locais, quem se fecha "em seu próprio Mundo" está mais perto do desequilíbrio do que da sanidade mental. Quem agride ou DESPREZA o diferente, o "de fora" de nosso círculo de amizades ou região, Estado, ignora que o Homem é um ser SOCIAL, gregário, que vive em "grupos" e tais Grupos fazendo contato e tendo convivência com os demais.
Nesses "tempos bolsoloucos" -- e a partir do doido maior, em Brasília -- o "diferente", o que vive "como quer" e não como "lha manda viver" o Sistema, a "Sociedade", a "Religião", vira alvo de um monte de agressores inúteis, usando de um "bairrismo tosco" como arma, embora de digam hospitaleiros. Nem no triste período (nos anos 80) em que o terrível "slogan" "você não é daqui !" fazia parte do "discurso oficial" não se via (ou se enfrentava) tanta discriminação. O "patrulhamento bolsonarista" serviu de exemplo e incentivo e, atualmente, um bocado de gente insensível "cura" suas frustrações agredindo verbalmente (por enquanto) pessoas que nem conhece direito, por vezes nunca viu.
Mas, eu ía falar de Poesia... nesses clima de hostilidade latente fica impossível ! Que ao menos os escritores e POETAS sejam UNIVERSAIS, não se vejam "obrigados" a levarem seus Estados "nas costas" ! A fraternidade, conceito mundial, precisa superar "ideais" políticos, "discursos oficiais", politiqueiros, afinal não somos ROBÔS... ainda ! Não sejamos na Vida meros MANEQUINS "vestindo a camisa" nos imposta pelo Destino, pela "sociedade", por "grupelhos"... somos individualidades -- com gostos pessoais, objetivos particulares, hábitos únicos -- antes de sermos COLETIVIDADE, contingente social de uma região, Estado, país. É de Oscar Wilde a definição definitiva: ESTRATIFICAR o povo, a população É EGOÍSMO... que cada um viva como quiser !
"NATO" AZEVEDO (em 10/abril 2023, 6hs)
OBS: (*1) - milenar ditado romano que significa: "ONDE EU ESTIVER BEM, LÁ É MINHA PÁTRIA"!, pensamento que vai CONTRA todo discurso político, desde aquela época, diga-se de passagem.