O que é o Identitarismo ?
Identitarismo e Diversidade são novos conceitos muito utilizados na mídia e nos grupos políticos, atingindo a maioria de classe média e alguns grupos culturais dos trabalhadores. O “identitarismo” trata de agrupamentos de pessoas com características similares como sexo, etnia, classe (?), nacionalidade que lutam por seus direitos (Google). Já a “diversidade” para o político americano Bernie Sanders: “é importante, pois converge com a ideia inicial do “identitarismo”, respeitando as particularidades, mas unindo-se contra um inimigo em comum. Entretanto, esta “diversidade” (brancos, negros, latinos) se tivessem como trabalhadores explorados, todos fariam parte da mesma política de precarização da força de trabalho”. Para nós, a “política identitária” pulveriza as questões sociais e separa grupos que poderiam caminhar juntos em suas reivindicações. Lembra o famoso lema utilizado nas estratégias de guerra o “dividir para reinar”.
Queremos esclarecer através de exemplos, o uso intencional dessa proposta, e seus resultados no enfraquecimento das organizações sociais e da consciência crítica. Um caso corriqueiro em final de março p.p., citado pela rádio CBN, na Câmara Municipal do Rio de Janeiro trata do discurso de um vereador sobre a proposta de banheiros públicos e se os “trans” deviam ou não usar o banheiro feminino. O assunto tratado era para condenar banheiros unissex.
O que poderíamos dizer sobre isso? 1) O “identitarismo” faz o lobby no plenário da Câmara Municipal; 2) para apressar a decisão nada melhor que o ponto de vista da natureza, onde as diferenças físicas vencem as psicológicas; 3) um outro aspecto seria a mudança sexual por prótese, mas poderia confundir mais que esclarecer. Porém o vereador continuava animado na defesa “do sexo dos anjos”. O plenário comenta sobre a criação de um banheiro “neutro “o que pode complicar a tal identificação sexual. Um outro faz um aparte com o recurso às fábulas mostrando o absurdo de um banheiro comum pela comparação entre animais de diferentes tamanhos. A fala era tão ridícula que esqueci os nomes dos animais.
Diante de debate tão superficial, lembramos dos banheiros unissex nos albergues da Europa. Imagine se estes ilustres vereadores tivessem que dormir em quartos coletivos com camas beliches, comuns, aos homens e mulheres que nunca se viram? Depois deste primeiro impacto, dormir e acordar vendo as pessoas mudando de roupa ou indo para banheiro unissex em trajes íntimos? Para o brasileiro seria um espanto com nossos costumes atrasados. Convenhamos que tais propostas culturalistas, somadas à “ausência de ética” complicam o dever de respeitar o próximo.
Outro tema “abobrinha” ou como se dizia “cultura de almanaque” veiculado nas plataformas digitais é o costumeiro preconceito contra a velhice, sempre renovado com a “velhofobia” ou “etarismo” espalhado nas redes virtuais e que incluem futilidades sobre a aparência gasta e desglamourizada de celebridades como Cláudia Raia e Fafá de Belém. A bandeira do “identitarismo” que se pretende inovadora e vanguardista no avanço cultural só está incluindo os indivíduos que têm chances de ascender ( poucos negros, trans, mulheres) e, por outro, descarta os grupos que não podem ser incluídos ( os afastados das luzes da ribalta, as vítimas de feminicídio, os pobres da periferia, os aposentados, desempregados e o alto índice de assassinatos de transexuais).
O enfoque na mobilidade social é mais um valor que realidade. O site Diálogos do Sul (06/abr/2023) destaca: “ É falsa a polêmica que apenas o capitalismo traz a liberdade individual, assim como é absolutamente correta a caracterização que este mesmo capitalismo é controlado ou pelo poder de Estado ou por um nível muito intenso de luta de classes, gerando quase a incapacidade parcial de governo, tal é o caso da França neste momento de imposição de perdas de direitos”. (Bruno L.R. Beaklini)
Vivemos um mundo em declínio (anomia) cercado pelo ódio social e individual, ódio difuso que permitiu a ascensão da extrema-direita. O crescimento dos atentados individuais, do feminicídio, dos jogos virtuais e das manipulações da internet, da pedofilia, dos massacres nas escolas são formas de violência costumeiras e, algumas, até então raras e mesmo sem tradição no Brasil. Este amplo espectro social não desapareceu com a inovação das “politicas identitárias”, pois estas, não interferem nos graves efeitos da crise sistêmica como o desemprego, a fome, a violência urbana e rural, a corrupção endêmica e as guerras que são a consequência de um mundo em decomposição.
A pergunta do início chega ao final, o que é o “identitarismo”? É uma perspectiva de ascensão proposta para diluir a “consciência de classe”, ampliando a inclusão social de minorias pela via do acesso aos bens e serviços do mercado. É uma estratégia camuflada do capitalismo, bem próxima do chamado “darwinismo social”.