Ser Sensível
Sento na poltrona de sempre, coloco meus fones de ouvido em 432 Hz, isso me acalma e me deixa focada no que eu preciso fazer, e assim, esqueço o mundo a minha volta. Ouvir essa vibração cura o corpo, deixa minha mente tranquila, pois a melodia traz paz ao meu espírito. Dessa forma, me concentro na elaboração burocrática que é o pós-sala de aula.
Ao mesmo tempo que me acalma, me deixa vulnerável à sensibilidade que tanto tento evitar. De repente… um sentimento ruim me invade e se intensifica, retiro os fones e no momento em que abro a boca, alguém bate à porta. Que vontade de chorar. Digo com os olhos envoltos por lágrimas.
— Pode chorar. — Diz a voz que acabara de bater.
Os rostos dos que comigo estavam demonstram o espanto do momento, e o meu é banhado por uma sequência recorrente de lágrimas, meu corpo inteiro treme. Sinto… Algo ruim aconteceu.
— Seu amigo perdeu um familiar.
Perco o senso, perco o chão! Coloco novamente os fones na vã e tola tentativa de dissipar a angústia de sentir o que outra pessoa sente. Ser sensível é doloroso. Ter o sexto sentido aflorado é uma faca de dois gumes, causa ansiedade antes, durante e depois, mas também me faz enxergar o real das pessoas.
Ser sensível no frenético mundo imediatista é o mesmo que ter uma tonelada sobre os ombros e sentir as duras chagas dos outros é doloroso de mais.