A LINHA FÉRREA

 

 

O apito de trem me acompanha desde que vim morar em Curitiba. Em 1971 papai comprou uma antiga casa na Rua Prefeito Ângelo Lopes, com fundos para a Rua Flávio Dallegrave, onde há uma linha férrea. Nem o apito e nem o barulho das composições passando pelos trilhos, bem perto de nosso quintal, me incomodaram por todos aqueles anos que lá residimos. Aliás, o ruído, para mim, nem era desagradável. Às vezes descíamos até o portão dos fundos para ver os vagões passando, com carga ou passageiros, cujo destino era Rio Branco do Sul, onde trabalhavam nas fábricas de cal e cimento.

 

Os vagões de passageiros passavam às 7 h da manhã e retornavam entre 18 e 19 h. Aquelas pessoas que abanavam para nós, iam e vinham com seus interesses, seus sonhos e esperanças. Rio Branco do Sul, cidade da grande Curitiba, é rica em alguns minérios e indústrias se estabeleceram no município há muitos anos. Uma delas é a Votorantim, uma das mais importantes clientes da Rumo para o transporte de sua produção de cal e cimento até o porto de Paranaguá.

 

Hoje não moro mais naquela casa, mudei-me para outro bairro, porém o trem me persegue. Toda manhã e todo fim de tarde ouço seu apito ao atravessar a Avenida Anita Garibaldi, não longe de onde resido agora.

 

Lá, naquela velha casa, vimos muitos acidentes, carros e ônibus colhidos pela locomotiva. Hoje em dia o problema se acentuou, pois as muitas avenidas que atravessa têm tráfego intenso de carros, caminhões e ônibus. Há um lobby junto às autoridades municipais e estaduais para a remoção dessa via, que passa por bairros hoje muito mais populosos. Até agora não há nenhum plano aprovado para que isso aconteça. Com a economia ruim, alegam que não há recursos para obra tão complexa e dispendiosa.

 

Faz tempo que o trem não transporta mais passageiros nessa linha, somente em outra, essencialmente turística que, saindo da Rodoferroviária, leva passageiros para Morretes e Antonina, atravessando a Serra do Mar, com vegetação luxuriante, montanhas e cachoeiras. Suas pontes sobre precipícios e seus túneis são de tirar o fôlego. Um roteiro turístico encantador, oferecido pela Serra Verde Express, em vagões confortáveis, com amplas janelas, guias e lanches.

 

Nesta Manhã de Sexta-Feira Santa, ouço o apito do trem e o som ritmado dos trilhos, tão familiares na minha juventude, quando dormíamos e acordávamos com sua passagem pelos fundos de nossa casa. Os trens dessa minha fase de vida marcaram uma época que por mim é revivida cada vez que ouço seu apito. Me remete a ilusões, esperanças e expectativas daquele tempo. E a melhor palavra que encontro hoje para definir tudo o que passou é saudade, somente saudade.

 

 

 

 

Aloysia
Enviado por Aloysia em 09/04/2023
Reeditado em 09/04/2023
Código do texto: T7759812
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