Diário de um diabo - Nuvem passageira

É incrível como a vida nas grandes cidades nesse começo de século pode ser estressante, intrigante e interessante. Neste começo de ano, aonde eu vim parar, num amontoado de gentes, casas, carros, pássaros e águas. Por todos os lados, em cima e embaixo, gentes, pássaros e águas.

Os rios voadores não pedem licença, vão passando e caindo.

Eu tô passando maus bocados, não que eu não goste do que tô fazendo, é que sinto muitas saudades, é que sinto muito essa cidade...

Já vou contando 30 e caralhada de anos, ainda consigo me emocionar com tanta coisa, houve um tempo em que eu estava frio, de tempos em tempos era um vazio, mas agora estou quente, me sinto diferente, mesmo impaciente, olho para o rio, olho para as nuvens, acho que vai chover...

Tudo passando bem ali nas nuvens da memória, aquela velha estória, um amor pra recordar, um amor pra viver, um amor pra sonhar.

É sirene, alarme, buzina. Pássaro, passarinho, passarão. Nuvem, nuvem, nuvem, gente feia. Minha caneta é minha companheira, aquela que deita no papel os meus sonhos, minha saudade, minha solidão, minha, minha, só minha, só eu sei da sólida solidão, concreta solidão passando o dia entre os prédios, carros e gentes.

Tudo passa, logo passa, antes eu dizia. Passar passa, só não passa essa azia.

A vida vai passando, já passou um mês, um mês é dia demais. Um dia demora, o dia passa voando, um dia de espera, um dia de bora! Quem foi, foi.

Se eu soubesse ser como o passarinho que espera quietinho quedado em um galho, os raios de sol vindo secar o orvalho, levando a noite escura, o frio e a solidão, juntando os outros pássaros, os cantos. Emocionados, alegres o dia todo, não é uma alegria em vão, um dia após o outro. Tem nuvem que deixa o meu dia escuro, mas é nuvem passageira.