Entre o amor e as batatas Ruffles
Era uma vez uma jovem que, após muitos desencontros amorosos, andava com o coração na tipoia. Ela achava que era impossível encontrar alguém com quem se reunisse extraoficialmente, alguém com quem pudesse compartilhar um pacote de batatas Ruffles, seus sonhos alucinógenos, sua vida assalariada municipal.
Um dia, enquanto caminhava pela cidade, ela viu um jovem sentado em um banco de praça. Esse jovem estava lendo um livro, como se espera de um jovem sentado em um banco de praça. Ela era alta, longos cabelos negros, olhos cor de abacate, um sorriso escandinavo escondido entre os lábios, um sorriso que brilhava ofuscantemente, sob os auspícios do sol de janeiro de um corrente ano.
O jovem lia o livro, cabisbaixo, quando, não mais que de repente, sentiu seu coração acelerar e, sem pensar duas vezes, achou que era enfarte. Ergueu a cabeça, respirou fundo, avistou a jovem, que se aproximou dele. O coração do jovem, sem pensar duas vezes, reduziu a velocidade, voltando à velocidade padrão, ao perceber que não era assalto. Era apenas uma linda jovem a lhe conceder oficialmente e de graça um "Bom dia!".
Um "Bom dia!" que antecedeu assuntos e visões astrais diversificadas, conversar por horas, descobertas de coisas e opiniões em comum. Foi como se se conhecessem há séculos, mesmo antes de Cristo, e não apenas há algumas horas atrás. O jovem sentiu um calor no peito que há muito tempo não sentia, mesmo depois da Redemocratização, e sentiu que estava se apaixonando.
Os dias se passaram, e eles se viram novamente várias vezes. Cada vez que estavam juntos, o jovem sentia esse calor crescer ainda mais forte e devastador. A jovem parecia concordar que estavam nas preliminares do que a sociedade chama de "relação conjugal", mas veio um dia.
Um dia, um dia, um dia, que pôs água na fervura.
Aquele dia em que a jovem lhe disse, emocionada e com a voz embargada, na presença física do mesmo banco de praça em que se reconheceram: "Você sabe, eu nunca acreditei muito no amor. Sempre achei que era algo que só existia nos filmes e nos livros. Mas agora, esperando com você, descobrindo que o amor pode ser palpável, decidi não mais me arriscar". E então deu adeusinho ao jovem, ali mesmo, sem se demorar nem sequer lhe desejar um módico "Bom dia!".
O jovem, até o presente momento, encontra-se diante de dilema universal, isto é, não tem certeza se, como dizem, o amor existe ou se realmente as batatas Ruffles são excessivamente salgadas.