Os passarinhos
Os passarinhos (José Carlos de Bom Sucesso)
Já era tarde do início do mês de abril. A temperatura foi alta pela manhã. No decorrer do dia, algumas nuvens negras encobriam o vasto céu azul, trazendo o cenário triste para aquele dia de outono. A chuva iniciava-se lentamente, com um pingo aqui, outro ali, mais dois pingos aqui, mais três do outro lado. Aos poucos, os pingos de chuva se transformavam em bicas de água, que caiam pelo vasto chão coberto por verdes gramas. A pequena pressão do vento ia balançando os pequenos arbustos que derramavam tinas de água clara caída da chuva daquela tarde. Folhas de bananeiras balançavam no verdadeiro compasso, que mais se pareciam lindos passos de dança.
Pousados no fio de arame que liga dois mourões da grande cerca, próxima à varanda da casa de verão, os pássaros pousaram ali. Deveriam eles ser o casal de canários, que se prepararam para o pouso noturno.
A chuva caia, mas não tão quão intensidade como antes. As fortes pancadas diminuíam à medida que o tempo passava. No calendário marcava-se o dia destinado à comemoração de Sexta-Feira da Paixão, data especial para celebrar o final da Semana Santa.
No horizonte, ainda coberto por algumas nuvens negras, encontravam-se algumas rajadas dos raios solares, que já não brilhavam tanto, mas o suficiente para mostrar que a chuva passaria em alguns minutos.
A rolinha, conhecida por “fogo apagou”, murmurava sua canção ao longo da tarde. Ela possuía o ninho naquele local. Observando, estava ela com dois filhos. O cântico soprado por ela era o pedido ou o chamado do companheiro ou da companheira, não se sabe ao certo quem era a fêmea ou qual seria o macho.
Próxima daquele lugar, pousada no poste de energia elétrica, a canária cantava sossegada. Sua canção era alegre, mas sempre olhava para a varanda da casa. Há alguns dias, ela chocara na comunheira daquela cobertura. Não se sabe se os filhotes nasceram ou se algum gavião ou coruja tenha desfeito o ninho.
Outros pássaros voavam por ali. O casal de tico-ticos aterrissou sobre a verde grama. Nela, fez o jantar saboreando as sementes úmidas da chuva.
Novamente, as rolinhas entoavam a canção. Deveriam estar elas comunicando sobre a noite que se aproxima.
O vento tardio sopra com mais intensidade. Outras nuvens negras vão surgindo e parece que virá mais chuva.
Outros pássaros vão voando naquelas dimensões e devem estar procurando algum lugar para vencer a noite. Os tucanos fazem barulho do outro lado do rio. Devem ter ajeitado em algum galho alto e protegido da chuva. Lá em cima, ouve-se o bater das asas do grande gavião. Voa ele bem rápido e nem mesmo olha para o chão.
As maritacas ainda não passaram. Devem elas chegar em breve, na safra dos coquinhos ou das jabuticabas, estas demoram um pouco a mais.
Assim a noite vai chegando. Vê-se pouca luz dos raios de sol no horizonte, pois parecem riscos luminosos.
Os pássaros param o cântico, pois o escuro vai se aproximando das árvores em torno da casa de verão. Ao longe, bem acima do rio, repentinamente, a luz do terreiro é acessa. Ouve-se, ainda, a serenata da descuidada cigarra, que se esconde junto ao galho mais alto da árvore de ipê.
Tudo fica escuro. Então, as luzes da varanda são acesas e o olhar do poeta se perde na escuridão da noite.