LADRÃO DE GALINHAS
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Acredito ser mínimo o número de pessoas em nosso país que desconheçam o significado da expressão: ladrão de galinhas. Usada, na maioria das vezes, para qualificar o pequeno ladrão, isto é, aquele que rouba para «matar a fome»; serve também como termo comparativo ao grande ladrão como nesta frase de Pedro Simon: “Só vai para a cadeia o ladrão de galinha, se não é ladrão de galinha, sempre tem um bom advogado e não vai para a cadeia. E não é só aqui.”
Concluiu bem Pedro Simon; não é só aqui, como também não é de hoje. Em um texto escrito entre os anos de 1630 e 1700, Padre Antônio Viera já usava de retórica parecida com a de Simon:
Navegava Alexandre Magno em uma poderosa armada pelo Mar Vermelho, com o intuito de conquistar a Índia. Em uma das aldeias conquistadas, trouxeram à sua presença um pirata, que por ali andava roubando os pescadores. Alexandre o repreendeu com severidade por andar em tão mau ofício; porém, o pirata, que não era medroso, nem lerdo, respondeu assim: Basta, Senhor! Porque eu roubo em uma barca, sou ladrão, e vós, porque roubais em uma armada, é imperador?
Assim é. O roubar pouco é culpa, o roubar muito é grandeza. O roubar com pouco poder faz os piratas, o roubar com muito, os Alexandres. […]
O ladrão que furta para comer, não vai nem leva ao inferno; os que não só vão, mas levam, de que eu falo, são outros ladrões de maior calibre e da mais alta esfera; […]. Não só são ladrões, os que cortam bolsas, ou espreitam os que vão se banhar para lhes colher a roupa; os ladrões que mais própria e dignamente merecem este título são aqueles a quem lhes é dado o governo dos estados, ou a administração das cidades, ou ainda a representação do povo, os quais com astúcia e malícia, já com o poder, roubam e despojam os povos. Os outros ladrões roubam um homem, estes roubam países e cidades; os outros furtam debaixo do seu risco, estes sem temor nem perigo; os outros se furtam são enforcados; estes furtam e enforcam.
Diógenes, que tudo via com mais aguda vista que os outros homens, viu uma grande tropa de políticos e ministros da justiça levar uns ladrões para a forca, e começou a bradar: Lá vão os ladrões grandes a enforcar os pequenos! Afortunada Grécia que tinha tal pregador! E mais afortunadas as outras nações, se nelas não sofre a justiça as mesmas afrontas. Quantas vezes, se viu em Roma, enforcarem um ladrão por ter roubado um carneiro; e no mesmo dia ser levado em triunfo um cônsul, ou ditador, por ter roubado um país. (Padre Antônio Vieira)
Pois é! Essa história de “o roubar pouco é culpa, o muito grandeza”; fez escola, principalmente no Brasil e mais acintosamente nestes últimos anos.
Salve-se Quem Puder!
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Nota: O texto de Vieira chama-se “Ladrões”. Fiz algumas adaptações no original, para melhor situá-lo no vernáculo de nossos dias.
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Agradeço a leitura do texto e, antecipadamente, quaisquer comentários. Volte Sempre!