“NÃO VÁ O SAPATEIRO ALÉM DAS SANDÁLIAS”

Conta-se que certo pintor por nome Apeles, da Grécia Antiga, tinha o costume de exibir suas obras à porta de seu ateliê e esconder-se para ouvir comentários de transeuntes.

Eis que surge um sapateiro e notou uma pequena imperfeição em uma sandália de uma das figuras da tela. Apeles imediatamente retirou o quadro e retocou a figura.

Na manhã seguinte, vendo o Sapateiro que sua observação surtira efeito, pôs-se a achar defeito em todas as partes da figura: na perna, nos braços, nas mãos, na orelha, no cabelo...

Apeles saiu furioso e teria dito: "Ne sutor ultra crepidam" [não vá o sapateiro além das sandálias]. Com isso quis dizer que aceitava o palpite do sapateiro sobre a sandália porque entendia que ele possuía expertise suficiente para julgar esse tema. Mas que não se atrevesse a dar opiniões sobre assuntos que ele não possuía domínio nem conhecimento. Infelizmente, tudo que sobrou da obra de Apeles foi esse ditado popular citado por Plínio, o Velho e um quadro, refeito por Boticelli a partir de relatos da antiguidade.

Já os sapateiros, dando pitacos, sobre assuntos que nada entendem se multiplicaram. Estão por toda parte. Verdadeiros críticos de arte! Alguns, com um julgamento tão mordaz quanto a pena de “Anton Ego”, famoso crítico gastronômico de uma certa animação.

JADILSON
Enviado por JADILSON em 05/04/2023
Reeditado em 02/08/2024
Código do texto: T7756808
Classificação de conteúdo: seguro