PÁTIO DOS LOUCOS
BRASIL, PÁTIO DOS LOUCOS
Nelson Marzullo Tangerini
Um dia desses, quando ia para a casa de minha sogra, encontrei, no ponto de ônibus, um pequeno grupo de pessoas – com objetivos diversos, com caminhos diversos traçados -, na Rua Clarimundo de Melo, em Piedade.
Esperava, ali, o ônibus 685 Méier – Irajá. Depois dos 65 anos, ganhei a gratuidade e, portanto, passei a ser um velhinho destemido, assanhado, destes que vivem por aí sassaricando, felizes da vida por viajarem de graça em ônibus, trens e metrô, o que permite ao amante da cultura vasculhar sebos (alfarrabistas), bisbilhotar livrarias e visitar museus e exposições.
De repente, chega um amigo e me pergunta se estou bem. Coincidentemente, havia, naquele abrigo, uma propaganda contra o câncer.
Apontei para a propaganda e lhe disse:
- Estou bem. – respondo – Venci o câncer. Porque acredito na ciência.
E prossegui, dizendo-lhe que o genocida tirara a verba do câncer.
No mesmo ponto, um senhor, terno e bravata, portanto uma bíblia debaixo do braço, resolve invadir nossa conversa – não foi convidado – e resolve mostrar a que veio:
- É assim mesmo: os católicos e os macumbeiros apoiam o Lula ladrão.
Era Dia de Ramos e as pessoas passavam pela rua com folhas de palmeiras.
A minha resposta foi imediata:
- E os evangélicos apoiam um genocida.
- Genocida? – perguntou ele. O que o ex-presidente fez de errado?, por que ele é genocida? Ele matou alguém?
- O senhor não sabe? – perguntei – O senhor não lê jornal? O senhor não assiste aos telejornais?
- A imprensa é comunista. – Continuou ele – Ela protege Lula.
- O senhor só deve ler a bíblia; não lê mais nada – Argumentei - - E ainda se alimenta de fakenews e notícias distorcidas e falsas da Jovem Kan e da tv Record. O senhor aderiu ao “jejum de notícias”.
E então apareceu o 685 e eu pude sair daquele lugar contaminado, onde o alienado continuou defendendo o seu mito.
Dentro do ônibus, fui me lembrando de uma canção, “Pátio dos loucos”, do saudoso Walter Franco, autor de “Cabeça”. Publico, aqui, uma parte da música: “No pátio dos loucos, os poucos ouvidos não sabem de nada, perdidos, trancados no escuro da mente”.
Enfim, é tempo de retomar o discurso progressista, contra o negacionismo, contra esses quatro anos de trevas, contra o atraso, contra o terraplanismo, contra essa associação tóxica de religião e nazifascismo. Aliás, penso que a inquisição e os pogroms alimentaram o nazifascismo. Não podemos, portanto, permitir que esses loucos retomem posições de liderança nas nações do Planeta. Para isto serve o estudo de História: para que as trevas não retornem.
Estamos na Terra e precisamos evoluir, penso, embora discorde de alguns darwinistas que tentam aplicar a teoria de Charles Darwin na economia, para justificar a desgraça humana, pois não é natural os ricos devorarem impunemente os mais pobres, fruto do colonialismo, do capitalismo selvagem, da exploração e do trabalho escravo ou escravizante. Mas creio, firmemente, que o homem ainda não está pronto e que precisa evoluir ainda mais, até chegar ao super-homem.
Uma pergunta de Albert Camus, do livro “O homem revoltado”, deveria permanecer ainda viva, latente: “O que é um homem revoltado?“ E, mais adiante, ele mesmo responde: “É um homem que diz não, é um homem que diz que as coisas já foram longe demais”. Devemos, pois, lutar contra a loucura dos fundamentalistas, insana, e o nazifascismo. Eles não podem governar o mundo. Evoluir é preciso! Revoltar-se é preciso! Porque células cancerosas do nazifascismo se multiplicam e atentam contra a Evolução da espécie humana.
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No meu Face tem foto do cantor e compositor Walter Franco.