ALCOOLISMO

Com a marvada pinga

É que eu me atrapaio

Eu entro na venda e já dou meu taio

Pego no copo e dali num saio

Ali memo eu bebo, ali memo eu caio

Só pra carregar é que eu dô trabaio

(Ochelsis Aguiar Laureano)

Desde os primórdios da aventura humana o álcool esteve presente em nossas vidas. Para ofertar aos deuses, em agradecimento a alguma graça alcançada, para festejar, após uma vitória incontestável ou uma comemoração social... e aí abria-se um leque de possibilidades para os festejos. Entre os vários deuses que regeram a humanidade durante sua caminhada por esse rincão sem fim, vários deles eram os guardiões da bebida alcoólica. Para que não nos percamos em uma relação interminável, citarei apenas Ninkasi, deusa suméria da cerveja, Sabazius, deus grego da cevada e do trigo... e da cerveja, é claro, Baco, talvez o mais conhecido por ser o deus do vinho, e São Jorge, também ligado à cerveja no culto do candomblé. Ah, e não podemos nos esquecer de Jeová, Deus dos judeus e dos cristãos, que em várias situações não só incentivou como, de certa forma, participou ativamente do consumo da bebida fermentada. Não podemos nos esquecer que o primeiro milagre de Jesus foi transformar a água em... vinho!

Temos em nosso pensamento coletivo que o álcool é uma coisa benfazeja, que não nos traz nenhum problema com seu consumo. Mas sabemos que, na realidade, isso não condiz com o que vemos em nosso dia a dia. Pessoas que se perderam no vício do alcoolismo acabam também por perder o rumo de sua vida social, profissional e familiar. Sem levar em conta que o álcool, em suas mais variadas formas, é o caminho de entrada para o consumo de outras drogas mais pesadas.

Mesmo que a pessoa não enverede para outras drogas, o álcool já é suficiente para estremecer as relações de uma família. Sei disso pois eu mesma sou oriunda de uma família de alcoólatras, como aliás é mais de 90 por cento das famílias no mundo. Por parecer inofensiva, essa droga era oferecida às crianças ainda pequenas a não muito tempo atrás. Felizmente esse quadro está mudando. Devagar, mas está. O grande problema é que, infelizmente, o incentivo ao consumo de bebidas alcoólicas não vem apenas da família... é quando a criança passa para a fase adolescente que a tentação se torna maior...

Como eu disse, eu venho de uma família de alcoólatras. Meu pai era alcoólatra. E quando bebia, perdia totalmente as estribeiras, tornando-se violento. Aliás, está aí uma das faces mais detestáveis do álcool... a predisposição à violência. Não foram poucas as vezes que meu pai, bêbado, agrediu minha mãe. Algumas vezes voltou-se contra nós, seus filhos, e não foram poucas as vezes que eu, já adolescente, "fugia" para a casa de meus avós que moravam no interior, para escapar da fúria regada a álcool de meu pai. E não era uma questão de opção... quando ele se tornava violento, a única forma de escapar de sua fúria era desaparecer do lugar...

Para não dizer que azar pouco é bobagem, enfrentei esse problema também com meus filhos. Tenho quatro. O mais velho nunca bebeu, até onde sei. Porém, os três mais novos, desde a adolescência até a pouco tempo atrás... bem, eles bebiam, e muito. Eu e minha cara metade já tivemos que resgatar nossos caçulas de lugares realmente inóspitos em horas nada apropriadas. Houve um tempo que nós simplesmente odiávamos os finais de semana, pois era quando tínhamos que procurá-los por todo o canto e rezar para que nada de mal lhes acontecesse. Nosso calvário começava na sexta, quando os dois simplesmente desapareciam do mapa. Algumas vezes dávamos sorte e os encontrávamos rapidamente, levando-os para casa e cuidando deles. Em outras, éramos vencidos pelo cansaço e tínhamos que esperar que Deus protegesse os dois desmiolados e os conduzisse em segurança de volta ao lar. Sim, não foi uma época fácil. Felizmente passou... ao menos em parte, mas passou. Pelo menos hoje não temos que ficar correndo atrás de ninguém por conta de embriaguez... se bem que essa era a minha especialidade, até pouco tempo antes de meu pai falecer... afinal, vezes incontáveis tive que resgatá-lo das ruas, pois estava tão trôpego que nem conseguia chegar em casa. Quantas vezes não o trouxe para casa, mais bêbado que um gambá? E meus irmãos... o mais novo, uma vez brigou com a namorada, encheu a cara e resolveu ir visitá-la... de carro. Tive que embarcar junto e tentar convencê-lo a me entregar o comando do veículo... ele achou que estava na Inglaterra, e só dirigia na esquerda! Depois de muitos sustos, finalmente consegui assumir o controle do veículo e pudemos retornar para casa em segurança. Mas que passei um apuro sem tamanho, passei...

É claro que a embriaguez também nos fornece alguns momentos de, como direi, descontração?... Lembro que uma vez meu pai e meu irmão (não o mais novo, o outro) estavam tentando descobrir qual dos dois tinha bebido mais nos últimos trinta dias. Mas não queriam medir em litros, e sim em... metros. É claro que eu ria baixinho, para eles não ouvirem. Afinal, os dois estavam para lá de Bagdá...

São sete horas e cinquenta minutos desta sexta feira linda e maravilhosa, mesmo estando com o céu encoberto. Tenho fé em Deus que apenas coisas boas acontecerão nesse dia em nossas vidas. Estamos com 22ºC nesse momento e podemos chegar aos 30ºC (ontem chegamos aos 35ºC, acreditam?). A sensação nesse momento é de frescor, devido à unidade relativa do ar, mas sei que isso mudará no decorrer do dia.

(03 de Fevereiro de 2023)

Tania Miranda
Enviado por Tania Miranda em 03/04/2023
Código do texto: T7755523
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