C h e g a d i n h o
PARA mim escrevinhar é uma espécie de terapia que se tornou um doce vício. Hoje escrevo menos, faço textinhos miudinhos devido aos achaques da idade. Concordo que insisto muito em arengas políticas e nas reminiscências. Mas que posso fazer se sou arengueiro e saudosista inveterado? Apenas pedir perdão e paciência aos que por generosidade leem minhas maltraçadas.
Hoje vou contar um episódio do passado que demonstra um pouco do preconceito e tabus da época. O causo aconteceu na minha cidade natal, Arcoverde, a porta do sertão pernambucano quando eu era ainda adolescente. A minha irmã mais velha, uma loura (filha da primeira esposa do meu pai que era loura. Eu faço essa explicação porque sou mulato) começou a namorar com um rapaz mais mulato que eu. Amor roxo. Meu pai não colocou nenhuma objeção, mas outros familiares ficaram meio constrangidos. Mas ela foi em frente e noivou com o rapaz. Mais: planejaram o casamento. Só faltava vencer um óbice, a concordância de Tia Linda, uma velha de mais de noventa anos, solteirona e irmã do meu falecido avô. Antes de qualquer casamento na família tinha que obter o aval de tia Linda. Minha irmã levou o noivo para a competente vistoria. Lá chegando a velha botou o picinez e começou a conversar e avaliar o rapaz. No final aflita minha irmã perguntou: - Então tia Linda o que a senhora acha do meu noivo? A velha respondeu séria: - Olhe, minha filha, o rapaz é mesmo CHEGADINHO mas é afilado e educado. Pode casar. Esse termo chegadinho era usado para designar os mulatos. A velha não o emprega pata depreciar mas porque era uma tradição da época. Ela dizia que eu era chegadinho. Sou mesmo é com muito orgulho. William Porto. Inté.