Uma dúvida
Tenho comigo uma dúvida e todas as demais. Mas a que mais me aflige é essa uma, as demais podem ser parceladas. Mas essa uma corre juros, interrompe-me o sono, causa-me icterícia, às vezes me provoca soluços e não raro me deixa mais ou menos física e espacialmente tonto, para além do aceitável pela medicina. É uma dúvida e tanto. Uma dúvida que nem a Ciência, tampouco a Estatística, desvendou seu mistério, elucidou a questão.
Já falei sobre algumas vezes a alguns ouvintes. Mas esses ouvintes não eram ouvidores. Eram paisanos. 1/3 deles renegou a questão; 2/3, ou seja (faça o cálculo aí, que matemática ignoro como se calcula), então 2/3 deles me disseram na cara lisa, sem receio de me contrariarem: "Depende. Você já perguntou a um especialista".
É isso que dá. Recorre-se à opinião geral, e a opinião geral recomenda ouvir a opinião de especialistas. Não sei para que serve então a opinião geral. Talvez sirva para recomendar a opinião de especialistas.
Mas, sim, opinião geral, já procurei a opinião de um especialista, no caso, a opinião de um médico dos olhos, que me recomendou consultar outro especialista, com vistas a solucionar minha dúvida, no caso, ou seja, um médico psiquiatra.
Segui a orientação do médico dos olhos, fiz a pergunta ao médico dos ouvidos. Então ele deu um monte de voltas ao mundo: foi ali na minha infância, perguntou sobre meus antepassados, especialmente acerca de minha relação paternal, de minha rotina laboral, familiar, barística, e ao final e contudo não me solucionou a minha dúvida. Deu-me em mãos um papel timbrado e o valor da consulta, parece que em dólar.
Tem dito há séculos o filósofo, e eu concordo. Eu também tenho medo de não ser incompreendido. Seria uma chatice quase insuportável para mim se a opinião pública e os paisanos e os especialistas entendessem 100% de minhas dúvidas. Se assim o fosse, eu seria outro eu, menos consumidor de mim, faria menos visitas a especialistas, menos dinheiro gastaria em bares, contribuindo assim com a alarmante taxa de desemprego no país.
Porém e contudo, há especialmente esta dúvida que me parece irrespondível:
Afinal, as mulheres dormem com a boca aberta ou fechada?