Enfim despertou
Sempre soube da aspereza do padecimento que carregava desde criança. Era de pavio curto, não gostava de insistir a busca para obter a felicidade, procurava descartar-se em silêncio, sempre usava sua hostilidade mesmo que fosse para esconder sua fraqueza comportamental
Um belo dia refletiu sua existência e procurou ser mais ponderável na sua atitude.
A velha personagem rejeitava qualquer manifestação de possibilidade de leveza. Achava que tal pausa na nevralgia dos descontentamentos fragilizaria sua coragem para resolver problemas. Afinal, os problemas eram a constância.
Num desses espasmo de liberdade que a espia dela se deu. Fez um exercício acrobática mentalmente de tirar o medo da sua frente, fez com que se despisse da certeza de conhecer o mecanismo da vida.
Foi ai, que escutou a trilha sonora de ajustar a temperatura do afeto e providenciar lembranças às quais recorrer em dias menos auspiciosos. Enredou-se em sua melodia de cantar trancos, barrancos, deslumbramentos e aprazimento.
Sabia bem existência da infelicidade, que ela cabe em qualquer dia e horário, e que não há como evitar suas visitas inesperadas. Ainda prefere os começos e os durante que não entregam os fins no epílogo, o que permite algumas mudanças de curso.
Foi ai que acelerou o tempo.
Agora não anda mais se preocupando com os julgamento dos outros. Opta com frequência por apressar a constatação do que é banalidade para então se demorar na relevância: a voz do outro a coincidir com o desadormecer de suas vontades, até as inéditas, contribuindo com o espreguiçamento de espantar abismos, iguais aos que costumava colecionar apenas para alimentar versões de um futuro que lhe aconteceu ontem. Passou a aceitar opiniões diferentes, mas não deixar de dizer o que pensa, e sair do tempo para evitar desconfortos.