DURA "CAMINHADA" ENTRE JORNAIS !
DURA "CAMINHADA" ENTRE JORNAIS
(Dedicado ao batalhador cultural L.H.BORCK,
que não soube compreender minhas boas
intenções para com seu Jornal(zinho).
E não é que o termo CAMINHADA continua rendendo ?! Se considerarmos apenas as recusas, por Escolas aqui do bairro, em receber nossa Exposição itinerante de fotos e desenhos... "porque Capoeira era esporte baiano" -- nem falo dos 3 B.Os, me feitos por supostos "ofendidos", nos anos 90 -- minha (ou nossa, com meu irmão) CAMINHADA foi bem maior que a do amigo que me "jogou na cara" seu currículo e vivência na Capoeira de Belém & adjacências. (Só por curiosidade, o bairro Cidade Nova todo era parte da capital até 1994/95, "dormitório de Belém", diziam.)
De minha infância num Seminário no Paraná restaram as lembranças dos professores, todos padres, e das revistas "Entre Amigos" e a inesquecível "O JORNALZINHO", sim, escrito desta forma e perenizado em meu coração também assim. Por ironia do Destino defini assim um jornal literário gaúcho recém-lançado e (suponho que) almas venenosas tenham convencido seu Editor que estaria eu "desfazendo" o valor de sua criação. Fui tachado de ANORMAL e PERIGOSO ! O jornalzinho, aquele do Passado, era mero "gibi", HQ, de texto mesmo só a apresentação na página inicial mas, vendido, precisava de CAPAS bem atrativas... e caprichava nelas ! Foi minha primeira LIÇÃO, ainda inconsciente de que revistas (em quadrinhos) e JORNAIS teriam tanta importância em minha vida pouco depois, uns 10 anos, se tanto. Devoradores de HQs, já morando no Rio a partir de 1968, nos tornamos fãs do desenho arrojado, criativo, inovador, vibrando com desenhistas geniais de HQs deslumbrantes. Por volta de 1973 ou 74 nos metemos meu irmão e eu, no jornal O GLOBO -- imenso aos domingos, quase 1 kg de papel -- enquanto entregadores, jornaleiros. Nem foi minha experiência... os CORREIOS da Ditadura (DCT), numa Ipanema cheia de "milicos" estrelados, decidiram entregar jornais aos domingos. Os carteiros "pularam fora"... a "bomba" ficou para nós, estafetas, fardo de quase 20 quilos sobre as cabeças desnutridas. Não deu muito certo... a garotada debandou e o tal contrato foi desfeito no mesmo ano, 1971.
Mas, voltemos ao O GLOBO... mesmo "esquema", crianças e jovens raquíticos carregando 30 quilos de jornais, agora todos os dias. Tinha mais: nos fins de semana se recebia um "carnet" de cobrança dos jornais já entregues, idas e vindas às casas de "caloteiros" endinheirados querendo ler SEM PAGAR o famoso jornal. Eis que atravesso meio país, 2 mil km de estradas e venho pousar na Cidade Nova em 1986, depois de passar 2 anos e meio na aprazível Vigia.
Porém, preciso antes narrar como adquiri as noções de montagem e diagramação (são coisas diferentes) que trago comigo. Tendo achado numa calçada de Copacabana um jornal SÓ DE ANÚNCIOS de graça, passei a visitá-lo, isso lá por 1980... justo nessa época "bolara" eu um show de rock (internacional, diga-se de passagem) na desolada Praia de Botafogo. A idéia surgira motivada por inúmeros anúncios de guitarristas e de Bandas no hoje famoso jornal "BALCÃO", na época em seus primeiros dias. (*1)
Sim, meu caro Borck, era um projeto ANORMAL de um favelado PERIGOSO, "sem ter onde cair morto", diriam os seus e os meus bisavós ! Empenhando em concretizar a idéia do "ROCK'N ROLL SHOW" me demiti de um Banco, "officeboy" do seu Open Market e virei corretor de anúncios do jornalzinho de 8 folhas, 16 páginas somente. Ano e meio depois, já passava das 30 folhas... e crescendo ! Me vendo eles com alguma Cultura, me tornaram reviso e, adiante, "montador". A diagramação final cabia a um certo Júlio César, um ÁS no assunto, fazendo milagres num jornal só de classificados. Júlio impoz seu estilo e conceito à simpática família Fletcher, à frente o pai, Johnny Fletcher e na retaguarda o filho Pablo, com seu amigo "Róbinho" e eu, na "montagem".
Jornal DE CLASSIFICADOS sem propaganda na capa ?! Júlio nos incumbia de achar durante a revisão inicial -- alguns anúncios eram pagos e uns "malandros" tentavam "enrolar" a Redação -- qualquer anúncio DIFERENTE, algo inédito, especial e fazia, a partir deles, as manchetes da capa, sempre curiosas, instigantes.
Aprendi muito sobre diagramação, dormíamos na Redação por excesso de serviço, quando o BALCÃO cresceu. Saí de lá como dos demais empregos... para ter a grana do FGTS e comprar gibis e LPs de rock, duas paixões nossas na juventude. Tudo se perdeu, com a mudança para o Pará em fins de 1983 !
Em plena balbúrdia eleitoral, agora da APE - Assoc. Paraense de Escritores, quero crer que em fins de 1988, em um "debate" acalorado e de pouco respeito (de ambos) com certo secretário dela, eis que o decidido jovem Carlos Lima resolve lançar uma revista literária, um dos "pontos fracos" da APE, que não possuía algo parecido. Prof. Ildone, na presidência, publicava literatos dela no tablóide da IOE - Imprensa Oficial do Estado. Os protestos da maioria dos 132 associados era por falta de veículo onde os escritores pudessem ser lidos e conhecidos.
Lima (depois Limma), "na oposição" adiantou-se... faria ele, por conta própria, a revista da APE que tantos exigiam. Coube a mim criar o "layout", um "rascunho" da futura obra, a primeira, já que ele teria feito duas edições. Vendeu sua moto para pagar os 500 exemplares da edição de estréia, com INÉDITA ENTREVISTA do renomado poeta Paes Loureiro. Os "apeanos" todos IGNORARAM a novidade, a publicação seria vendida ! Eu, Lima, Rufino Almeida e meia APE éramos a "arraia miúda", não merecíamos crédito enquanto autores. A "RE-VISTA PÔ-ÉTICA" -- título do Lima, meio sarcástico -- fracassou e a segunda edição nem saiu das oficinas da IOE. A "audácia" me custou minha presença na futura ANTOLOGIA estadual, de 1989/90 onde, nos 7 volumes e quase mil páginas, não entrou meu nome nem biografia, embora tenha sido dos primeiros a entregar meus escritos, numa tarde de 1989, ao secretário Pedro, na porta lateral da APL... resta saber o que foi feito do envelope pardo ! Por ironia do Destino, continuei a produzir e hoje tenho perto de 1500 textos no RECANTO DAS LETRAS, enquanto boa parte dos nela citados não tem na sua história nem 10% disso !
E findamos -- a mãe e seus gêmeos -- num sítio no interior de VIGIA, sem luz elétrica, rádio, Tv, vizinhos, nada. Na cidade próxima fiz amigos que escreviam ou pintavam e, a partir daí, virei "editor" meio por acaso, experiência eu tinha. Um professor muito querido lá me mostrou alguns dos seus poemas, excelentes todos eles, algo entre Fernando Pessoa e Clarice Lispector. Daí nasceu um livretinho de 8 x 8 cm, "QUASE NADA" eu acho, feito em xerox e com "rabiscos" meus à guisa de ilustração. Acredito que nem meu sumido amigo "Zézinho" o tenha mais, foi feito só 1 EXEMPLAR, o dele e a "boneca" (montagem de base) creio que se perdeu.
Mas José Ribamar S. Moura me apoiou quando propuz criar o livreto de poemas "LIVRENCONTRO", partindo de reunião de poetas vigienses promovida por outros 2 amigos, o "Marquinho" e o "Toninho", com ilustrações do genial Sílvio Guedes, na época iniciando nas Artes todas, às quais domina hoje. Também não me ficou exemplar nem desse livreto, EM CORES, algo inédito para xerocópias, era novidade EM BELÉM. Isto se deu em 1987, eu já morando desde agosto/1986 neste bairro Cidade Nova, em Ananindeua, vizinho da capital, Belém.
Mas, afinal, quando irei falar DE JORNAIS ?! Começo agora, impaciente leitor... perto de casa conheci um "jornal de bairro", de um certo Nilson Brasil. Entrei lá como "agenciador", traduzindo, vendedor de espaços no jornal. Fiquei pouco tempo, mas o suficiente para "pôr nessa fria" jovem desenhista de talento, "BENÉ"... o grandalhão tinha que desenhar tijolos e pias sem sombra nem frisos, nada ! Por seus próprios méritos virou o internacional... "JOE BENNETT", já o Nilson "sumiu" na poeira dos tempos.
Do jornaleco me sobrou uma passagem "engraçada"... pelo menos para quem não a viveu: em pleno período eleitoral (1987/88) entrevistei o famoso deputado estadual Mário Martins, uma simpatia, tanto num escritório dele em Belém como aqui, em aniversário de cabo eleitoral. A propaganda pagaria a edição inteira, 1500 exemplares, segundo constava no verso da capa. Vibrei, eram 2 páginas inteiras "de comissão", uma "nota preta" de faturamento. Na hora de receber, Nilson me veio com o "novidade":
-- "Grana dessa monta se pagava para jornalista oficializado e eu nem "foca" era" !
Peguei "minha trouxa" e sumi ! Mal sabia o deputado (talvez soubesse, era "cobra criada") que esses "jornais" NÃO IMPRIMEM nem 1/3 da edição que dizem botar nas ruas. São "culturas diferentes", meu caro Borck, se é que não fazem o mesmo por aí !
No bairro CIDADE NOVA inteiro, imenso, 9 Conjuntos residenciais, umas 4 MIL casas, em 1987 só havia dois Jornais: o poderosos O LIBERAL e a centenária "A Província do Pará", já "mal das pernas", "indo pro brejo". Não tenho receio de declarar que fomos nós (meu irmão e eu) que trouxemos o DIÁRIO DO PARÁ para o bairro todo, alguns poucos o recebiam por assinatura. Entrei em contato com o Depto Comercial, supervisionado por um certo José Priante, depois deputado Priante Jr. Íamos vender 20 jornais por dia... "leva 50" insistiu ele, o carro da empresa me trazendo na porta de casa, ao lado da feira principal do bairro. Fiz enorme faixa, posta na entrada geral do bairro, a uns 2 km de distância. Retiraram-na com dia e meio... "enfeiava" a cidade ! No segundo domingo vendi 32 jornais, mas bem poucos durante a semana... a "solução" foi deixar de 3 a 5 exemplares em pontos finais de ônibus (em botecos), passando nossa comissão para o dono do bar. Os 2 grandes Jornais demoraram 30 ANOS para nos copiar e, agora, quase não se vê jornaleiro, mas tem exemplares em farmácias, mercearias e supermercados.
FINAL DA ESTÓRIA... no quarto domingo me surge no portão principal da Feira do 4 um menino de 12 anos com 50 DIÁRIOs ! Surpreso e chateado (justo no dia em que eu ía faturar), passei pro portão oposto. No quinto domingo, outro garoto em ais 50 jornais, agora do meu lado. Voltei ao Priante "fulo da Vida", desistindo do contrato e lhe oferecendo meu walkman, para "quitar" os quase 200 jornais "perdidos" lá em casa. Felizmente, ignorou o "presente" e o "encalhe", para meu alívio !
Nos aventuramos com outro "jornal de bairro", esse de Belém... comprávamos o ENCALHE por 1/4 do preço de capa e o vendíamos pela metade. Era um tal de "JORNAL POPULAR", de um certo Assis e "falava horrores" do maior político da região. Vendíamos bem, chegamos a 110 jornais "na semana final"... creio que o diretor foi "aconselhado" e preferiu alegar "QUE JOGÁVAMOS FORA" seu jornal, mesmo a gente pagando antecipadamente por ele. Fomos "despedidos" !
Gostaria de lhes contar nossa "briga" com o maior Jornal da região, até do Estado, mas não posso, hoje é DIFAMAÇÃO... foi um caminho ANORMAL E PERIGOSOS, botando o Jornal "na Justiça" (via MPE, apenas para tentar vendê-lo SEM ATRAVESSADORES) e pagamos caro por isso ! Foi uma amarga "caminhada" e a vitória inicial (?!) se transformou num pesadelo, com todos os "atravessadores" SE NEGANDO a nos vender seus exemplares, mesmo pagando à vista. Assim caminha a Humanidade... ANORMAL e PERIGOSA !
"NATO" AZEVEDO (em 26 de março 2023m 15,30hs)
OBS: (*1) - com a desistência da RIOTUR, em maio/junho de 1982, juntei a "papelada" toda e a levei a um prédio do Jardim de Allah, no lado do Leblon, onde morava o famoso Roberto Medina. Em 1984... surgiria o primeiro ROCK IN RIO !!!