CRÔNICA - Providência Divina

CRÔNICA - Providência Divina – 29.03.2023 (PRL)

E eis que, de repente, surge a minha filha Sandra, oriunda de Aracaju, Sergipe, dizendo que iria passar uns dez dias aqui em casa. O que foi que houve, perguntei? – Nada, é que resolvi vir dar uma ajuda na sua alimentação. -- A funcionária ligou pra você? – Não, é que achei o senhor muito magro...

Para mim estava claro que houve esse telefonema, mas isso não vem ao caso. Sendo para melhorar o meu estado, claro que concordei, até porque essa menina tem o dom de saber cozinhar...e olhe que ninguém a ensinou, foi tudo por curiosidade dela, tanto que hoje está deixando de ganhar dinheiro nessa área, porquanto quase todo mundo está se alimentando na base das lanchonetes e restaurantes.

Ora, pagar funcionária/cozinheira está custando os olhos da cara. Salário diferenciado e mais obrigações sociais, previdência, FGTS, multa antecipada para os casos de demissão, férias, décimo terceiro salário, folgas, etc. não está sendo mole. A minha recebe R$ 1.920,00 por mês, creditados em sua conta por PIX, religiosamente pagos de quinze em quinze dias. Uma senhora direita, trabalhadeira, mas que desacertou nos temperos, de sorte que quando a comida não está salgada fica ensossa, e quando eu elogio alguma vez pode esperar que na próxima vai sair pior... (água pura, a carne com gosto de papelão, você morde, morde e não consegue engolir...engulha).

Mas, diga-se de passagem, essa pessoa é de uma confiança fora de série. Confio o meu cartão do banco para ela fazer as compras, sempre a débito, pois aprendi que não é de boa prática comprar a crédito, até porque tem aquele negócio de juros altos quando o saldo fica devedor. Então, se não tenho o dinheiro não compro. Essa minha tática me leva a bater no peito e dizer que não devo nada a banco, nem mesmo no que trabalhei 30 anos. Além do mais, não seria justo, por exemplo, eu morrer e deixar conta negativa para a minha esposa pagar...uma vergonha! A Jane foi embora e pelo menos essa decepção nunca teve comigo.

Nos primeiros dias da Sandra, que está dando umas aulinhas à funcionária, as coisas estão indo muito bem, tenho me alimentado mais ou menos, o tempero melhorou. Ontem, todavia, bastou voltar ao comando dela para degringolar. A carne, uma porção de filé de primeira qualidade, que compro uma vez na vida, porque é caro demais, tinha gosto de coisa alguma, era água sem sal e, por cima de tudo, um belo fio de cabelo decorava aquele prato, de maneira que ainda estou com vontade de vomitar. Portador de marcapasso, não posso comer tanto sal, mas o médico liberou a quantidade máxima que posso ingerir. Evidente que o cabelo pode até ter sido meu, mas não importa, é cabelo. Hoje ela arranjou uma touca do tamanho daqueles chapéus de mexicanos, que não deixa passar nem vento.

Adoro passar as mãos na cabeça duma mulher linda, amaciar e cheirar os seus cabelos, mas aí a coisa é diferente, mesmo porque esses fios bem cuidados formam uma ornamentação linda e atraente. A Jane não dormia sem que eu acarinhasse a parte nervosa central dela...a cabeça.

Mas a Sandrinha já retorna domingo próximo. Veja que felicidade... nos dias de hoje uma filha deixar o seu lar e vir cuidar do pai, um insignificante ser nesse mundo tão complicado de falta de educação e solidariedade até mesmo nas famílias mais prósperas e abastadas.

Fico por aqui...meu abraço cordial a todos.

SilvaGusmão