Trópico de touro X
Talvez a causa de sentir este imenso vazio anímico, seja eu ainda não ter largado tudo e começado a viver escrevendo, a viver de escrever, a viver da escrita.
Ainda não ter feito deste ato minha comida e minha bebida. Esse bode preguiçoso não existiria se ao acordar e deparar com o sol nascente o espírito se regozijasse em silêncio, e como fogo que queima, me sentaria e abriria uma dezena de livros e empunharia minha lapiseira grafite 0.7 e pumba, enchesse de histórias meus cadernos.
Talvez eu devesse considerar que viver empurrado a esmo pelas circunstâncias e necessidades, sem sangue, suor e alegria não é lá muito vantajoso – basta para isso uma simples autoanálise. Então devo alertá-lo de que virá uma dor fortíssima, enlouquecedora. Recomendo que seja corajoso e dê um primeiro passo no abismo, depois outro passo, e mais todos, num infinito buraco negro.
Isso será realmente alegre, como se bebesse uma caneca de vitamina para o ânimo, como se dentro da gente, em algum ponto situado no chakra Swadhisthana, relacionado ao tesão, acendesse uma luz acolhedora, prazerosa, um fogo consumidor.
Eu hoje escrevo o meu manifesto sobre viver da escrita ou viver escrevendo ou mesmo escrever para viver ou talvez morrer escrevendo ou melhor escrever como um possesso dia e noite, que a escrita seja meu pão minha comida todo amor que houver nessa vida...
Foda-se, eu largo tudo por isso aqui (um lápis e papel ou nos tempos atuais: um notebook e suas teclas) não serei mais vendedor aqui nesta empresa e nenhuma outra, porque hoje eu só escrevo, tá sabendo!? De manhã quando acordo o que me deixa motivado é sentar e escrever – fazer o trampo de vendedor não me deixa nem um pouco entusiasmado.
Eu quero escrever sobre aquilo que não consigo dizer, mas, como seria isso? Não sei bem..., mas foda-se (Deus abençoe o recurso do “foda-se” na literatura, ele abre caminhos, ele te dá liberdade de mudar de assunto ou tergiversar livremente) tem uma dor aqui em mim, tem um espinho na carne, o qual já orei a Deus pedindo que o desenterrasse de minhas entranhas e Ele me falou que era para aguentar firme, que “isso” vai embora sozinho.
Eu tenho direito de escrever, não tenho? Ainda vivemos em um mundo em que os escritores são necessários, dizem que no Brasil a esperança venceu o medo, então eu embarco nesta ideia, e sem medo escrevo.
Bom, não sinto medo e agora, o que faço?
Ora, escreva!
O problema da escrita se resume ao binômio escritor-leitor, eis a busílis.
Eu escrevo para mim mesmo, confesso. Mas gostaria de ser lido, que passassem a vista nestas garatujas e me apoiassem ou ainda que me xingassem, que me acusassem de causar fortes emoções, de ir até o âmago de algum leitor sensível, e que este, urinasse nas calças lendo isso daqui! Eu quero escrever porque a minha voz está sumindo e junto com ela a minha alma, porque não há absolutamente nada que possa remediar a minha imensa dor de não ser um escritor. Portanto, eu imploro, deixe-me escrever!