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─────────╚╝ O Lapso
Dia desses, no Centro do Rio, estávamos eu e mais três amigos de trabalho conversando na calçada da Rua da Assembleia na hora do almoço quando uma menina, linda, diga-se de passagem, veio em nossa direção. Parecia ser uma dessas estudantes universitárias, pois levava contra o peito alguns livros pesados e uma mochila nas costas. Ao se aproximar, vi que seu xale ou lenço caíra no chão sem que ela percebesse e imediatamente olhei para ela a fim de dar um sinal, mas antes que eu a avisasse ela parou e com um
olhar de "fúria do demônio" começou a me xingar: — Que foi seu idiota, nunca viu mulher bonita? Palhaço! Vai mexer com suas negas!!! Juro que fiquei sem reação naquela hora, pois nunca fui de dizer coisa alguma pra mulherada na rua ou em quaisquer outros lugares, simplesmente porque acho desrespeitoso. O pessoal deu uma risada da situação em que fiquei e a menina continuou andando mais apressada ainda. Ainda assim peguei o lenço e a gritei — Moça, seu lenço — Ela só se virou para trás quando uma senhora que vinha na direção contrária a alertou de que seu lenço caíra. Ela voltou alguns passos com um leve sorriso no semblante, "olhar de anjo celeste", e me pediu desculpas — Só queria te avisar do lenço, eu disse sorrindo, e visivelmente envergonhada ela se virou e foi sumindo no meio do povo. Ainda pensei ter visto um brilho sutil de auréola ao longe, mas era só o reflexo da luz do sol na vidraça do Edifício Mairink.
MARCANTE, Alexandre.
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