A marcha da vida
A comemoração do dia 7 de Setembro em nossa cidade era um acontecimento extraordinário. Durante meses o treinamento da marcha acontecia no pátio da escola e na semana do evento era pelas ruas.
Eu e meu pai na varanda assistindo o ensaio, quando ele me cutucou no ombro e falou:
- Cê tá vendo que o Manezinho tá marchando errado? Ele errou a marcha e tá tentando consertar e aí atrapalha mais ainda. Repara lá. Não adianta tentar acertar o passo marchando. É preciso parar com os dois pés juntos e só então recomeçar na hora que o bumbo bater. Aí sim ele vai acertar o passo. Eu aprendi isso com um amigo que era coronel do Exército quando morei no Rio.
Na verdade eu o escutei, observei que Manezinho estava mesmo marchando diferente dos outros, mas com 6 anos eu não poderia entender que estava errado. E também não acho que pai falou aquilo comigo, ele só precisava mesmo externar aquela lembrança e aprendizado que recebeu do amigo carioca. Era só saudade e quem estava ali pra ele cutucar era eu.
Cresci me lembrando sempre desse monólogo de pai e fiz uso dele quando chegou minha hora de desfilar. Se errava o passo, parava com os pés juntos, esperava o bumbo e recomeçava.
E não foi diferente na minha marcha pela vida, diante de um problema persistente e crescente eu paro, penso em tudo, analiso por dias e só então decido o que fazer.
Se é alguém que me magoou, me retiro da cena, fico calada por uns dias e só quando ouço o bumbo coloco a conversa em dia. Uma discussão na hora da raiva só piora as coisas e se continuar jogando aquele assunto toda hora é pior.
Portanto, errou a marcha?
Pare, junte os pés e recomece quando ouvir o bumbo.