Devaneios...

São José, SC, 26/03/2023 - 19h.

Tem horas que me sinto como O Grinch (recomendo ver o filme com a família, é leve, bacana), tem horas que me sinto como o Do Contra (da Turma da Mônica, que também recomendo, inclusive, sugestão aos pais: se ainda houver gibiteca na sua cidade, leve seus filhos para passar um tempo nela, é muito bacana a ideia de uma gibiteca), tem horas que me sinto como se fosse morrer, ou ir para o inferno, ou virar o gato de botas.... em todos esses momentos, entretanto, eu só sei que sinto, e meu sentir é imenso, ainda que eu me comunique geralmente de forma torta, porque muitas vezes quero falar da beleza da flor que nasceu no meio do lodo e só consigo falar sobre o quanto o lodo é perigoso, às vezes digo o contrário do que desejava dizer (sim quando quero dizer não), ouvindo o avesso do que tentam me falar... e às vezes o sentir é pequeno e a imaginação, todavia, borbulha, lançando-me mar adentro. Como é difícil sair do jogo solitário de nossa mente e entrar em outro, mais suave, com nossos amigos de verdade. Mas é tudo virtual, passageiro e muito rápido, como saber se a porta entreaberta é para você entrar, passar reto ou ajudar a fechar? Uma porta às vezes é um grande enigma, as caixas em cima do guarda-roupa, onde muita gente guarda remédios, moedas, fotos, quando abertas são como matrioskas, a nos revelar uma lembrança que puxa por uma memória que puxa por um segredo que puxa por um detalhe que alcança um esquecimento... Às vezes me sinto Funes, o memorioso, às vezes o Penseroso (ou Macário? Não lembro, sei que li o livro e nunca esqueci... pelo menos não por completo), às vezes o protagonista do filme Memento Mori (Amnésia)... são tantos sentires... ou meros imaginares??? Às vezes um Dom Quixote, sem sua Dulcineia de Toboso e atormentado por Moinhos de Vento que vão se multiplicando na calada da noite.... às vezes o resultado é um poema, às vezes uma baita cãibra na batata da perna, às vezes a ansiedade mostra sua fome insaciável e a carroça desembesta na frente e leva arrastados os pobres bois pelos focinhos... e eu aqui, me sentindo mais sozinho que não sei quem no meio da multidão e do burburinho do centro da cidade... como voltar a ser um flaneur e aproveitar o melhor da urbe? Como voltar ao que era antes se a roda só gira para frente? Não quero virar um texto solto no meu perfil-sepultura de possibilidades, esperando que você, leitor, um dia dê o ar da sua graça por aqui e estabeleçamos contato virtual, eu quero mais saraus ao vivo e em cores, vernissages, excursões, trilhas, futebol no campo perto de casa, mas tudo parece tão distante, a bolha é muito claustrofóbica e eu desejo, como num de meus poemas mais sinceros, "a vírgula ao fim".