ALMA. MORRER É SÓ NÃO SER VISTO. E VIVER DE NOVO.

De um grande amigo e intelectual, excelente advogado da área trabalhista, professor, respondendo indagações minhas, Carlos Artur Paulon:

“Ao meu querido amigo Celso Panza. De um antigo amigo: “Estamos velhos?” foi pergunta singela. Sei lá, mas sendo de corpo, respondo com cautela, ser possível, pois alguma ruga isto revela. Mas, agora lhe indago o que minha mente martela: Como anda sua alma? Caminhando em qual viela? Não mais estamos nos tempos de uma alegre piela..,”.

Respondi:

Minha alma vaga entre vielas, perscrutando sequelas..mas, envereda por alguma piela, na bebedeira da vida sem trela. Nesta figuração de independência sem freios, amarras, respostas, no fim sequelas...

Certa vez em lançamento de livro de crônicas “in memoriam”, salão tomado de pessoas, amigos do desaparecido, festa da sensibilidade a convite do Museu da Justiça, Grupo Mônaco de Cultura, Associação Niteroiense de Escritores, entro em contato com “A Rosa Azul”, pequeno livro dos passeios de Luiz Carlos Peçanha, notável magistrado por sua seriedade, meu amigo particularíssimo, sorriso permanente e largo dos que têm muito afeto pelos humanos irmãos.

Entre suas visões registradas em intenso grau do observador, impulsionadas pela fineza interior, desponta sua "Rosa Azul " geneticamente transformada.

De uma assentada, como dizem os magistrados, li o livro de poucas crônicas e muita riqueza. São cento e duas páginas que envolvem e retratam um tratado de vida, de vida fértil, profusa e carinhosa, exemplar no exemplo, brindando aos seus entes queridos com sua presença e existência singular, como assim testemunham ao vestíbulo do livro. Levava consigo a sabedoria das fontes que descem das montanhas e vão ao mar em rio caudaloso de amor inesgotável, formando um oceano de bondades, próprio dos que levam na fronte a marca dos abençoados, visível no rosto amigo de quem nunca deixou de doar o sorriso farto.

De sua altíssima sensibilidade pouco desfrutei, como desse passo, “um dia também serei saudade daqueles que seguem a caminhada. E aqueles que hoje vivem ao meu redor se lembrarão de mim, dos gestos, das frases ditas, das manias, enfim, de tudo que fui no convívio diário. Até que sejam, também, saudade, pois a roda da vida é inexorável”.

É a alma que já se foi, mas fica pelo que fez.

Como em Fernando Pessoa: “a morte é a curva na estrada, morrer é só não ser visto”.

Esse “não ser visto” é o passo definitivo que leva à saudade e faz entrar no espaço distante, desconhecido e calmo, é “a curva na estrada” que surge, mas é contornada, como contornada e espelhadas em luz outras surgiram a abrir carinhos e retornos da luz deixada, frutos da irradiante existência amada por todos.

A alma é só isso que é tudo.

Celso Panza
Enviado por Celso Panza em 26/03/2023
Reeditado em 26/03/2023
Código do texto: T7749317
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