REAL PARQUE UMA EX-FAVELA DE SAMPA

Sem delongas quero deixar cristalinamente claro que não sou e nem serei favorável a invasão de propriedade alheia, posto que vivemos num País democrático e a propriedade privada é direito garantido, e quando acontece o ilícito a justiça ai está para ser acionada e garantir a reintegração de posse. Tudo conforme manda a lei vigente.

Digo isso porque hoje no meu intervalo de almoço liguei a televisão para inteirar-me das notícias do cotidiano, e chamou-me atenção uma emissora que levava ao ar cenas da reintegração de posse de um terreno às margens do rio Pinheiro, zona sul de Sampa, pois há algum tempo havia acontecido uma invasão e já estavam instalados mais de cem barracos, e por ironia do destino o nome da favela era “Real Parque”; Nome pomposo para destacar a miserabilidade reinante naquele lugar.

A Justiça decidiu, cabe a policia cumprir o mandado, então não vai aqui alusões positivas ou negativas sobre a atuação da corporação, apenas relato o que vi. Usaram com propriedade o gás pimenta, balas de borracha, cassetete, tudo para dissuadir os moradores que evidentemente resistiam. As moradoras do dito parque, que de parque não tinha nada, resolveram interditar a marginal Pinheiros sentando no leito carroçável (designação costumeira nos B.O. da policia) para protestar contra a destruição de suas moradias (barracos de tábuas). Esta ação afetou o direito de ir e vir de outros cidadãos que transitavam pela marginal, para quem não conhece um esclarecimento, tanto a marginal Tietê como a Pinheiros são importantes artérias de circulação do trânsito de São Paulo.

A policia pediu que saíssem da via transitável, não foram atendidos, então a reação se fez sentir, gás de pimenta para dispersar o movimento. E tome gás de pimenta! A mulherada (jovens, idosas, crianças, algumas mães com crianças no colo) saíram em desarvorada correria às cegas pelo efeito da pimenta nos olhos. Depois para desalojar aqueles que ainda estavam resistindo dentro da favela, a força policial mandou uma chuva de bala de borracha acompanhada com bombas de gás de efeito moral. Parecia cenas de guerra em morros carioca, aonde o BOPE enfrenta o tráfico e seu poderio bélico; A única diferença é que a poderio bélico desses moradores eram as perigosíssimas pedras que catavam no chão e arremessavam contra os policiais, nada mais.

As máquinas iam colocando os barracos abaixo. Nesta hora lembrei-me da musica que Adoniran Barbosa

cantava: “Saudosa Maloca”, e tem uma parte que diz assim “Cada ‘tálbua’ que caia doía no coração....”.

A agitação era total, o repórter da emissora perguntava àquelas pessoas para onde iam, e as respostas eram as mesmas: “Não sei...” Tem repórter que faz cada pergunta diante de uma situação, que dá licença! Outro dia assistindo uma partida de futebol pela TV um jogador se contundiu e estava caído no gramado gemendo de dor, o repórter enfia o microfone na boca do atleta pra responder a seguinte pergunta: “Ta doendo muito.....?” Dá vontade de..... bom deixa pra la.

Voltando ao assunto, o olhar daquela gente procurava no vazio vislumbrar uma mão, um ombro, um gesto, uma humanidade perdida nas cifras, enfim procuravam a “tar” da justiça social alardeada num quase ontem. Lembrei-me do espírito natalino, mas imediatamente lembrei também a modinha que se canta nessa época: “Eu pensei que todo mundo fosse filho de Papai Noel....” Ledo engano.

Hoje naquele lugar infestado de brasileiros pobres não se via um único político de qualquer esfera ou nível para tentar resolver a situação politicamente e encaminhar essa gente, ainda que provisoriamente, para um abrigo, e hoje choveu muito em São Paulo. Tenho absoluta certeza que os puxa saco dos reis foram até essa gente, no mesmo lugar quando os barracos estavam em pé, pedir os votos que os elegeram para “defender” o povo, ou seria para ofender o povo? Cadê vocês senhores excelências? A preocupação é outra, seria aumentar o próprio salário talvez? Seria negociar cargos para os apadrinhados? E ainda me falaram que tem parlamentar decorando gabinete no planalto das mil e umas noites. É ... Pra isso há tempo!

Essa desocupação acontece neste ano e mês para não manchar o ano da eleição de 2008, não lhe parece isso?

A falta de moradia neste lindo País é dolorosa, mas para o nosso rei está tudo certo, tudo caminha maravilhosamente bem, a rainha até cartão de crédito sem limite tem, e ela faz o que mesmo? Aqui é verdadeiramente um País do futuro, um País que em certa ocasião um presidente francês adjetivou de “Não sério”. Vá plantar batata senhor Presidente da França daquela época, “não sério” são os governantes que nos governavam ou que ainda nos governam, não o povo brasileiro, só pra registrar. Como dizia é um País do futuro, disseram isso há muito tempo, tanto que meu pai, minha mãe, meus dois irmãos, várias tias, já deitaram cabelo pro além, faleceram mesmo, e eu estou indo ao mesmo caminho esperando o “tar” futuro.

Mas na terra do faz de conta o futuro já chegou sim, veja onde:

• CPMF, que era pra ser da saúde, mas que foi para outros bolsos;

• Caos aéreo é a maravilha do futuro: aviões que não decolam, não pousam, trombam, caem, controladores que não controlam, sem falar do tal buraco negro.

• Estradas dentro de buracos viaje pela BR 101, que apelidaram de rodovia da morte, por que será?

• Segurança pública está uma maravilha, para o rei que sai acompanhado do Exercito, Marinha, Aeronáutica, PM, Policia civil estadual e federal, Bombeiro, Rodoviário, Guarda Civil, Dragões da Independência, guarda particular. E o pobre mortal brasileirinho da Silva? Espera o rei voltar a ser Silva de novo pra ver.... Enquanto isso colocam menina menor de idade numa cela de homens, e uma idiota disse que a menor ficava se oferecendo aos detentos. O que a menina fez? Furtou alguma coisa que ninguém se lembrava mais o que era de tão importante.

• Educação: faz me rir esse estereotipo de educação onde cada um faz o que quer, só não vale repetir de ano; Olha o cúmulo, uma escola de Sampa adotou como livro didático o livro “O dia que me tornei são-paulino” Ora! Falar o que?

• Para os filhos do rei, espertos!

• Para o presidente do senado, esse colou a bunda na cadeira da presidência, e não há escândalo que o tire de lá.

• Para os donos da leiteria que coloca soda caustica, e ainda alguém disse que não fazia mal algum à saúde.

• Para a ministra que manda relaxar e gozar, aquela mesma que ia pedir votos nas favelas usando roupa de grife.

• Mensalão, mensalinho, diarinho, eventos que não dão cadeia pra ninguém, desde que esteja no rol dos apadrinhados;

• Novela das oito, educativa ao extremo, tanto que agora resolveram passar para a faixa dos 16 anos, devido a alta ação educativa.

• Bandos organizados, estes mandam e desmandam com o rico dinheirinho da cocaína, jogo do bicho, bingo e por ai afora. Mandam em tudo, até nos presídios de máxima segurança.

• Distribuição de cargos a rodo, aos amigos do rei tudo; Acordos com Deus e o diabo

• Apagão energético, já aconteceu e vai acontecer novamente; Ainda não falei do gás natural.

• Altíssimos lucros dos banqueiros, parasitas da cadeia produtiva, o povo trabalha e eles levam o lucro.

• Hospital Público, a doença não está lá dentro e sim aqui fora. O cancro está com quem deveria cuidar desse setor.

Este é o Real da realeza chamada Brazil! Porque o nosso Brasil é outro, é Tupiniquim.

Feliz Natal moradores da ex-favela Real Parque! Lembrem-se 2008 esta aí.

10/12/07

ANDRADE JORGE

Blog http://andradejorgepoesias.vilabol.uol.com.br

ANDRADE JORGE
Enviado por ANDRADE JORGE em 12/12/2007
Reeditado em 01/05/2008
Código do texto: T774923
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