MINHA PEQUENA BAILARINA

Bom dia... primeiro, gostaria de pedir desculpas a todos vocês. Ontem não tive tempo para escrever como sempre faço, e por consequência, não consegui postar nada. Foi um dia realmente corrido, que começou às seis da manhã e foi até umas dez da noite. Não, não foi nenhuma tragédia, nada de doenças ou qualquer coisa desse naipe, graças a Deus. Felizmente, nem sempre são coisas ruins que acontecem quando a gente, por um motivo ou por outro, acaba quebrando a rotina. As vezes são simples acontecimentos da vida, coisas que passariam completamente despercebidas por nós, não fosse o detalhe de estarmos quebrando nossa rotina diária. E sou um tanto metódica, sigo uma série de procedimentos diários e, quando tenho que ignorá-los, fico deveras ansiosa. Mas, como já dizia Cecília Meireles... "ou se põe a luva e não usa o anel, Ou se usa o anel e não se põe a luva"... e assim a vida segue...

Ontem, primeiro domingo de fevereiro, foi a primeira aula de ballet de minha pequena. Quer dizer, nesta temporada. Ela fazia ballet em outra academia, antes da pandemia de Covid. Dos dois anos até os quatro. Adorava. Adorava, não, adora até hoje. Ela esperava ansiosamente os sábados de manhã (suas aulas eram aos sábados) para estar no tablado, dando seus primeiros passos no mundo da dança. E como sempre ganhava um adesivo de princesa de sua professora, não preciso dizer o quanto isso era prazeroso para ela. Sim, ela simplesmente adorava dar os passos da dança... em casa, ficava rodopiando como um pião, repetindo os passos aprendidos com a professora. Então veio a pandemia e as aulas tiveram que ser suspensas. Felizmente o perigo abrandou, mas nesse meio tempo, a escola de dança acabou por fechar. Por isso a matriculamos nessa nova academia. Não foi muito fácil, não. Por ser de graça, o caminho até conseguir efetivar a matrícula foi meio complicado. Principalmente porque as informações eram todas desencontradas. Para terem uma ideia, a primeira informação que me passaram era de que as matrículas seriam durante o mês de Janeiro. Logo na primeira semana fui lá, no domingo pela manhã. Disseram que não tinha ninguém para me atender e que a matricula teria que ser feita durante a semana, no horário comercial. Voltei durante a semana. Então me informaram que a matrícula só seria feita a partir do dia 6 de fevereiro. Para encurtar a conversa, se alguém não tivesse me dado o nome e o telefone da pessoa responsável, minha pequena não iria dançar ballet esse ano. Não de graça, nem por essa Academia, pelo menos. Importante frisar que ninguém pode ser considerado culpado pelas informações desencontradas. Acontece. Principalmente quando não existe um único núcleo de informações. E o que me importava, eu consegui… afinal, era o desejo de minha pequena... voltar a dançar.

Quando a professora falou que não seria possível matricular a Ame, pois já havia passado o prazo, a decepção desenhou-se no rosto da menina. Expliquei a situação para a professora, todo o calvário que fora chegar até aquele momento. A professora então decidiu que eu poderia inscrever a menina. Me deu as fichas de inscrição. Enquanto eu as preenchia, minha menina não tirava os olhinhos do tablado, onde as crianças faziam sua primeira aula. Meu Deus, não foi fácil conter seu entusiasmo nesse meio tempo. Cada nova música que tocava para as alunas praticarem seus passos, a pequena dizia “eu conheço essa música… eu sei fazer isso também… porque eu não posso entrar junto com elas?” Quando, finalmente, entendeu que sua turma iniciaria as aulas mais tarde, se acalmou e deixou-me terminar de preencher os documentos. A professora verificou se estava tudo em ordem e pediu para retornarmos às onze e meia, que seria o horário da turma de minha pequena. Precisavam ver a cara de felicidade da menina… descemos as escadas, pegamos o ônibus e voltamos para casa. Almoçamos, esperamos um pouco e retornamos para a Escola…

Quando chegamos eram umas onze horas, a turma anterior ainda estava em aula. Minha pequena olhava fascinada os passos do grupo, e de vez em quando me dizia “esse passo eu sei fazer”… e quando ela finalmente pisou no tablado como aluna… a felicidade estava estampada em seu rostinho. Finalmente voltou a fazer uma das coisas que mais ama fazer em sua vida… dançar. E existe coisa melhor do que isso?

Podemos dizer que a primeira lição que a professora deu para as crianças foi que, para ser uma bailarina, a principal qualidade é a paciência. Colocou todos os alunos sentados no tablado e enquanto aguardavam novas instruções, ela começou a conversar com os pais, explicando como seria a didática e quais seriam os regulamentos que todos deveriam seguir, para o bom andamento do curso. Realmente foi muito interessante. E devo dizer uma coisa... a professora realmente é muito simpática. Depois de uma breve preleção, as crianças finalmente foram postas em ação... e a felicidade delas era algo que dava para sentir no ar. Toda vez que erravam alguma coisa, a professora as fazia repetir, explicando o porque não podiam agir dessa ou daquela forma durante a execução dos passos.... acho que nós, pais que estavam assistindo a primeira aula de nossos filhos estávamos tão ou mais emocionados que as crianças... foi um espetáculo lindo de se ver. Mas a professora deixou claro que, exceto pela aula de apresentação, as próximas só contarão com a presença dos alunos, para que eles possam se dedicar de verdade ao aprendizado da arte...

Vocês sabiam que o ballet clássico teve sua origem nas cortes italianas no século XVI? E que o termo italiano “Balletto”, que significa “dancinha”, “bailinho”, deu origem à palavra francesa “ballet”? Essa dança teve sua origem durante o período renascentista, sendo apresentado nas festas aristocráticas para entretenimento da nobreza. O primeiro espetáculo de ballet da história foi apresentado em 1581, durava mais de cinco horas e era bem diferente do que conhecemos hoje… havia falas, poesia, canto e orquestra musical.

Tenho certeza de que você sabe que Luís XIV era conhecido como o “Rei Sol”. Bem, pelo menos a maioria das pessoas conhecem seu apelido. Agora, creio que você não sabia que ele ganhou esse apelido por causa do ballet… ou sabia? Bem, o que é que tem a ver o ballet com o apelido do rei francês? Ora, é simples… Luís XIV era apaixonado pela dança, ele mesmo era um bailarino. E participou de um espetáculo chamado “O Ballet Noturno da Realeza”, onde ele fazia que papel mesmo? Ele era a luz fertilizando a terra, é claro… foi então que surgiu o apelido que o acompanharia por toda a sua vida. Luís XIV era tão ligado ao ballet que em 1661 ele instalou a primeira escola de dança do mundo… a Académie Royale de Danse, que ficava em uma das salas do Museu de Louvre. O ballet foi se aperfeiçoando, ficando cada vez com menos falas e com mais dança. As apresentações passaram a sair dos palácios e ir para os teatros, e agora os ricos também passam a ter acesso as apresentações, e não apenas os aristocratas, como no inicio. Em 1669 é fundada a Académie Royale de Musique e Jean-Baptist Lully, bailarino predileto de Luís XIV e que compôs diversos ballets para ele, foi nomeado diretor da escola. Lully criou uma academia de dança dentro da própria academia de música… o Ballet da Ópera de Paris, a mais antiga companhia profissional de dança do mundo, e ela existe até hoje…

A partir do século XIX o ballet passou a ser encenada da forma que conhecemos nos dias de hoje… foi quando as mulheres passaram a ter mais destaque no palco e a dança “na ponta dos pés” passou a ser mais explorada. Com muito ensaio e esforço, aperfeiçoando a dança na sapatilha de pontas, as mulheres bailarinas ficaram mais populares que os bailarinos homens. Quando Adolphe Adam compôs “Giselle”, um ballet romântico em dois atos que foi inicialmente interpretado pela Ópera Nacional de Paris em 1840, não sonhava com o sucesso que sua peça faria. Giselle tornou-se realmente popular, sendo apresentado nos palcos da Europa, Rússia e Estados Unidos. É um dos poucos ballets dessa tradição que ainda são apresentados nos palcos, sendo dançado em tutu romântico…

Em 1877 é criado o ballet La Bayadére, que apresenta a primeira versão de “Lago dos Cisnes”, de Tchaikovsky. Foi um fracasso de público. O “Lago dos Cisnes” só se tornaria uma referência para o ballet clássico a partir de uma segunda montagem, encenada em São Petersburgo com nova coreografia de Marius Petipa e Lev Ivanov… essa montagem foi feita após a morte de Tchaikovsky…

“O Lago dos Cisnes” e “Giselle” pertencem ao gênero Ballet de Repertório. E que diabos vem a ser isso? Bem, o Ballet de Repertório nada mais é do que uma peça teatral encenada através da dança. Como não há diálogos durante a apresentação, toda a ação e emoção das personagens tem que ser passada pelos bailarinos pela sua dança…

Nos dias de hoje tem-se o conceito de que o ballet “é coisa de mulher”, criando-se assim uma ideia errada sobre essa arte. O preconceito existe, mas aos poucos vai sendo quebrado. Dançar ballet é para quem deseja, não importa a qual sexo pertença. Afinal, em sua origem, era dançado por homens…

Bem, talvez você pense assim… nossa, quanta coisa! E eu pensei que seria apenas uma história sobre a matrícula de uma menininha em um curso de ballet… mas aí é que está… não é “apenas um curso de ballet”, é muito mais que isso. Tudo o que você aprende em sua vida, você leva sempre junto de sua alma, não importa o que seja. Por isso devemos sempre procurar fazer aquilo que realmente nos deixa felizes… desde que isso não prejudique nosso semelhante. Eu não danço, não sei dançar e nunca quis aprender. Não só o ballet, como qualquer tipo de dança. Mas isso não significa que eu não goste de assistir uma apresentação bem feita… quando os bailarinos estão no palco encenando uma história e nos convencem da veracidade da mesma, meu Deus, que coisa linda! Somos enviados ao Paraíso e voltamos ao nosso tempo de criança, quando a fantasia era a base de tudo em nossa vida. Por exemplo, quando ouço os primeiros acordes de “A Bela Adormecida”, viajo através das dimensões existentes e vou parar lá naquele castelo onde Aurora passa por todo seu drama. E tudo isso assistindo a apresentação do corpo de ballet no palco… sim, a arte tem esse poder… nos faz sonhar de olhos abertos e nos transporta para o mundo da fantasia onde tudo o que imaginamos é possível se realizar, pois não existe a palavra “impossível” no mundo dos sonhos… e quando uma criança se envereda pelos caminhos da arte, ela escolhe o mais belo dos caminhos, pois aprenderá durante sua viagem que a vida é mais do que o que vemos em nosso dia a dia. Sim, existem dificuldades, obstáculos que temos que vencer a todo momento, mas a recompensa que nos aguarda no final do percurso faz com que tudo o que passamos para alcançar nosso objetivo valha a pena. E qual é essa recompensa? É o sentimento de realização plena, onde conseguimos alcançar o nosso objetivo que é de levar a felicidade e a alegria por onde passamos. E se conseguirmos isso fazendo aquilo que gostamos, que amamos, bem… acho que não preciso dizer mais nada, não é mesmo?

Eu sei que minha pequena tem um longo caminho a percorrer, e que por vários momentos irá esmorecer… nessas horas, estarei ao sei lado para incentivá-la a continuar sua luta, para que sua meta seja alcançada, se assim o desejar. E, não importa o que ela decida fazer em seu futuro, estarei sempre ali, na primeira fileira, aplaudindo suas apresentações nos palcos da vida…

Tania Miranda
Enviado por Tania Miranda em 26/03/2023
Código do texto: T7749061
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