RECORDAÇÕES.

Céu azul, poucas nuvens no horizonte, final de tarde, sexta-feira, calor, movimento intenso durante boa parte do dia. Geralmente é assim no final de semana, a maioria das empresas não tem expediente no sábado, o domingo é de praxe ser folga. Os únicos desafortunados que labutam arduamente no fim de semana são os que trabalham em supermercados, comércio em geral. Eu já experimentei da fonte das empresas, sei a exata sensação de ter o sábado e o domingo livre para descansar, dedicar ao lazer, passear, pescar, ir ao parque, visitar os parentes, sei lá... São tantas possibilidades.

Hoje sou prisioneiro do meu próprio trabalho, cinco anos nessa guerra sem fim. A função que executo não é ruim, pelo contrário, exercê-la é maravilhoso, a parte ruim da coisa toda é o atendimento ao cliente, se fosse para cortar carne, repor o balcão, produzir bandejas, tranquilo, perfeito... Mas, nem tudo são flores, às vezes, para não dizer quase sempre, me deparamos com cardos e espinhos. Trabalhar em um ambiente de poucos funcionários onde você tem que executar a função de dois ou três é osso... Quantas não foram as vezes que ensaiei jogar a toalha, abandonar tudo e voltar para casa.

Interessante como nós seres humanos nunca estamos satisfeitos com nada. Digo isso pelo simples fato de, talvez, lá na frente, de repente em outro emprego, eu sinta falta desse que acabei de esconjurar. Veja bem, o leitor certamente vai entender o meu ponto de vista; quando eu trabalhava em empresa, turnos, máquinas, sem pessoas interferindo o tempo todo, aquele momento parecia ruim. Dá para entender; no passado recente, por assim dizer, eu acreditava que a função de operador de máquina era a pior profissão do mundo todo, reclamava de barriga cheia. Eu deveria ter dado mais valor ao que tinha. Quinze anos de trabalho terminados em uma manhã de segunda-feira. A voz do chefe dizendo: "Infelizmente, a empresa está passando por reestruturação e você está sendo desligado". Aquela palavra, "desligado", foi como uma bomba, o mundo desabou debaixo dos meus pés. Levantei de onde estava, deixei por terminar o serviço que fazia, saí sem entender no momento o acontecido. O chefe me acompanhou ao RH, a cada passo era como se eu estivesse entrando no abismo. A pior sensação foi quando eu cheguei em casa, antes do almoço e ter que dizer para a esposa: "Eu fui demitido". Foi demais para nós dois.

Por isso, caríssimos amigos, devemos avaliar bem o momento. Pode até parecer o fim do mundo, como está parecendo agora para mim, "novamente", mas, e aí? Será mesmo tão ruim assim? O que hoje é um terror eu poderei sentir saudades amanhã. Depois que saí da empresa fiquei um ano parado, consegui uma recolocação no mercado de trabalho. Balcão de açougue, era a última coisa que eu desejaria fazer, porém, foi providencial. A reclamação apareceu novamente quanto a função, três anos depois de tanto reclamar, eu saí de um balcão de açougue para outro, tolo que fui. Hoje sinto saudades do supermercado anterior... O pensamento é um só... Quando vou aprender a lição.

Tiago Macedo Pena
Enviado por Tiago Macedo Pena em 26/03/2023
Código do texto: T7749051
Classificação de conteúdo: seguro