Hino ao amor
Se o azul do céu escurecer
E a alegria na terra fenecer
Não importa, querido
Viverei do nosso amor
Se tu és o sol dos dias meus
Se os meus beijos sempre foram teus
Não importa, querido
O amargor das dores desta vida
(Edith Piaf / Marguerite Monot / Odair Marzano)
Uma das mais belas canções que já ouvi é, sem dúvida, Hino ao amor. Sim, conheço a versão de Edith Piaf… a letra original, na verdade. Mas a versão cantada por Maysa e Altemar Dutra é muito linda, também. E é linda por um único motivo… faz uma homenagem singela àquilo que chamamos de “amor verdadeiro”… é a mais pura e bela declaração de amor que alguém gostaria de receber. É uma declaração de amor tão singela, que não tem como a gente não se emocionar com ela… afinal de contas, quem não gostaria de ouvir, dos lábios de seu amado, que tudo o que importa em sua vida é o nosso amor? Quem não gostaria de ouvir que é a luz que guia seus passos? Nossa, não tem como a gente ficar indiferente a uma declaração dessas… já pensou? Seu amado ir até o céu e buscar a lua e as estrelas para depositar aos seus pés… sim, eu sei que é apenas uma metáfora, mas ainda assim… é muito lindo…
Não sei precisar se as pessoas deixaram de ser românticas… ou eu é que não percebo isso no mundo hoje, já que perdi muito de minha inocência conforme os anos foram passando… não sei, mas parece que o mundo foi perdendo sua candura… hoje as musicas falam apenas de bebedeira, traição e sexo, quando não tratam de um assunto mais pé no chão… sim, ainda existem algumas músicas e poesias que falam da crueza da vida. Mas os novos poetas preferem chocar seus ouvintes, usando não raras vezes palavras de baixo calão. Nada contra nem a favor… eu não gosto deste tipo de poesia, mas sei que deve ter pessoas que apreciam… até mesmo as “músicas” de cunho pornográfico, que algumas pessoas insistem em tocar no mais alto volume, tem seus fãs. Pena que achem que todo mundo tem que ter o mesmo gosto musical que eles…
A muito que as pessoas abriram mão da beleza singela das poesias de outrora. Não raro, quando você mostra um poema ou uma canção mais romântica, que fale apenas de beleza e amor, e que tenha uma melodia suave, o comentário mais comum que fazem é “isso é coisa de velho”…. Como se a beleza da vida fosse algo ultrapassado, sem lugar nessa sociedade atual…a algum tempo atrás mostrei uma canção um pouco mais antiga para uma colega, e sua reação foi exatamente essa…
Bem, mas eu estava falando de poesia, em sua mais bela forma. Afinal, eu gosto de coisas bonitas, de coisas que evocam a beleza da vida. Não consigo achar beleza em uma canção que fala de traição e bebedeira… e não adianta dizer que esse tipo de música é feito para se dançar, e não para se ouvir… a gente continua tendo que ouvir aquela letra mal feita, falando apenas obscenidades. Faz um bom tempo que não acompanho os últimos lançamentos musicais…as opções que vejo, no pouquíssimo tempo que me ligo a alguma estação radiofônica me desanimam de tal forma que sou obrigada a desligar o rádio… afinal, não é só a letra que é horrível… a voz dos cantores também não ajuda. Então, fico me perguntando… para onde caminha a arte de cantar… e de escrever canções? A muito tempo não temos uma canção que realmente mereça essa denominação… E os músicos, por onde andam? Hoje em dia é raro ouvir uma melodia com uma orquestra ao fundo. As músicas de a não muito tempo atrás tinham toda uma produção, um cuidado todo especial para com elas, com maestro fazendo arranjo para diversos tipos de instrumentos, e o resultado final era fazer com que o ouvinte se sentisse dentro da própria melodia. Você simplesmente viajava dentro das notas musicais, conseguia ver aquilo que era descrito nas letras… conseguia caminhar pelas campinas, ouvir os pássaros cantando, sentir o perfume inebriante das flores, tudo isso apenas ouvindo a orquestra tocar…hoje, não. Hoje tudo mudou. Invariavelmente o que se usa é um sintetizador… muito mal tocado, por sinal… e o cantor berrando como se o estivessem estripando. Não existe mais aquele cuidado de se cantar com uma voz suave, maviosa, que faz com que o ouvinte fique a sonhar... tudo mudou. É como eu disse… tem quem goste. E como o ouvinte sempre tem razão…
Eu não sei… talvez eu esteja ficando velha… mas não consigo ver muita graça nas músicas de hoje… não sei, mas as letras são… como eu poderia dizer… muito simplórias. Talvez isso se deva ao fato de que este não é “o meu tempo”… sim, porque estou considerando como “meu tempo” a minha época de adolescente… sim, eu sei que a gente sempre acha que a nossa época é a melhor de todas... foi assim com meus avós, foi assim com meus pais, está sendo assim comigo e com certeza também será assim com meus filhos... a gente sempre olha o passado com os olhos da saudade, então todo o tempo que já vivemos ganha cores que talvez não mereça, na verdade... ganha as cores de uma vida perfeita, sem nenhum defeito, mesmo que tenha tido muitos… porque nossa memória afetiva é seletiva, e só guarda os bons momentos para que só tenhamos recordações reconfortantes, que nos façam suspirar pelos momentos passados…
Mas, convenhamos… uma canção de amor que promete nos encontrar inclusive no além.. é ou não é uma declaração de amor incomparável? Afinal, quando nos casamos prometemos ficar juntos até que a morte nos separe… e quantos casais se separam bem antes desse evento? Portanto, termos alguém que não só declara seu amor para nós, como se compromete a nos seguir até o outro lado… pode existir prova de amor maior?