AI EU CRESCI!

Antes de chegarmos a adolescência, nada sabemos, o lixo era recolhido sem sabermos nem o que era lixo, a comida ficvaa pronta depois que alguém ficou na frente do fogão, os pratos eram colocados na mesa e, depois da refeição eram lavados por alguém. A casa está sempre limpa, brilhando, os móveis sempre arrumados. E, quando algo quebrava, sempre tinha um irmão ou parente para arrumar, sem que tomássemos conhecimento de como isso aconteceu.

Como tudo isso acontecia? Apenas sabíamos que acontecia, sem

que soubéssemos como, apenas acontecia. Não tínhamos noção nenhuma de limpeza, apenas a limpeza existia, as roupas eram colocadas no guarda-roupa como mágica e alguém sempre as deixava prontas para serem vestidas.

A comida sempre estava na mesa ou alguém fazia o prato quando chegava da escola, nada fazíamos a não ser estudar e assistir TV e brincar com os amigos, jogar futebol, ler gibis (HQ), como se diz hoje.

Meus irmãos mais velhos faziam caminhões de madeira e usavam latas de óleo para fazer a cabine, jogávamos pião, bola de gude, corríamos nas ruas sem medo, sem pensar no dia seguinte.

Não tínhamos noção do que era pagar aluguel, comprar comida, comprar novas roupas, tudo apenas acontecia. Não sabíamos o preço de arroz, feijão, macarrão ou da carne, apenas o preço dos gibis (HQ).

. Assim era antes de aparecer a internet, computadores portáteis e smartphones.

Mas um dia crescemos, percebemos que, para ter coisas de nosso

Interesse, precisamos trabalhar, ganhar dinheiro para consegui-las. Precisamos aguentar um chefe ou um patrão chatos em empregos que passamos o dia no automático apenas esperado a hora de ir embora.

Perdemos muitas coisas pelo caminho, nossos pais, irmãos, primos, tios, estas perdas doeram no coração, foram perdas sofridas que só percebemos o quanto os amávamos quando percebemos a falta de que fazem. Perdemos animais de estimação, perdemos objetos que tínhamos em alta conta, mas que para os outros eram apenas objetos. Nem tudo se pode guardar para sempre.

Casamos, temos filhos e percebemos que criamos estes sem mostrar para ele quem recolhe o lixo, quem faz a comida, quem limpa a casa, quem trabalha para sustentar.

Olho os jovens de hoje, e cada um deles parecem viver em uma realidade paralela, onde o importante é estar com o nariz enfiado em um smartphone vendo vídeos e conversando sobre frivolidades que, para eles não são frivolidades, são coisas importantes, como um dia eram importantes as peladas com os amigos e outras brincadeiras.

Realmente eu cresci, o tempo passou e hoje eu sei quem recolhe o lixo, quem limpa a casa, quem faz a comida, quem traz o dinheiro para comprar as coisas das quais preciso.

Hoje, estes jovens não tem noção do que é o futuro, do que os espera, com nós, no passado também vivíamos, alienados com o nariz enfiados nos gibis (HQ) ou na TV, assistindo desenhos animados e séries onde o mocinho sempre se dava bem.

Hoje apreciamos o sol, observamos as nuvens em suas formações, sabemos qual condução pegar e para onde ir, não tem mais alguém que nos leva para os lugares e nos protegem, somos nós que devemos aprender a nos proteger sozinhos. O tempo passou, muita coisa mudou.

Os jovens de hoje não têm noção do que é preço de nada, só sabem que depois de muita birra os pais acabam comprando, não entende, como eu não entendia quanto as coisas custam, o importante é possuir, embora meus sonhos de adolescente não fossem tão caros com hoje é um smartphone.

Infelizmente não olham para o futuro, não comem pensando neles, vivem ou sentados ou deitados na cama fingindo que estão estudando, quando na realidade estão apenas em grande parte do dia, assistindo séries ou jogando online. Assim não tem como pensar no dia de amanhã. Não sabem que amanhã o pai ou a mãe vão morrer, já não terão mais ninguém para ficar brigando para que eles façam algo.

Crescemos, todos crescemos. Vivemos muito, no meu caso, 70 anos, queremos ensinar, mas não querem aprender, assim como eu mesmo não querria. Queremos faze-los ouvir, mas não desejam escutar, queremos ensinar, mas não querem aprender.

Sei que não adianta olhar para o passado, como bem disse Doménico Cieri Estrada , “traga o passado somente se for construir a partir dele” O passado não volta, voltam apenas as lembranças. E também não adianta ficar presos a elas, elas não voltam, elas não podem mais ser mudadas.

Vivamos apenas o presente, procurando apenas entender que um dia todos nós seremos passado na vida de alguém, e este alguém certamente irá dizer para si mesmo “porque eu não entendi o que tentavam me dizer?”

Me lembro da frase que dizia um locutor esportivo de rádio quando narrava uma partida de futebol, Fiori Gigliotti “o tempo passa torcida brasileira, o jogo está chegando a seu final”.

Na vida não existe prorrogação, nem cobrança de pênaltis, quando o juiz soprar o apito final, tudo acaba, uns vão comemorar, outros vão ficar tristes, mas o importante mesmo é saber administrar bem o tempo que temos, sem sombras do passado, sem lamentos, o passado não pode ser mudado, mas o presente tem e precisa ser vivido da melhor maneira possível.