Caindo a ficha

Quem nasceu depois da década de 1980 nem sabe o que é um telefone público que funcionava com fichas de metal. Quando acabavam as fichas a ligação era interrompida e sem as tais fichas só era possível fazer chamadas a cobrar, ou seja, o destinatário pagava. Verdadeiramente angustiante se pensarmos que hoje em dia o pior que pode nos acontecer é ter nosso celular roubado ou o dito ficar sem bateria, não depende mais das fichas caírem ou não caírem. Depois delas vieram os cartões telefônicos, mas o termo “cair a ficha” é bastante usado até pelas gerações Z e Alfa que nunca viram uma ficha dessas na vida muito menos sabem a origem da expressão.

Tomar consciência de algum evento que não tínhamos anteriormente é sinônimo de cair a ficha. Cair a ficha é um tipo de “Eureka” de Arquimedes ao realizar uma grande descoberta. E isso não depende do simples intelecto apurado, e sim de uma súbita clarividência de fatos que costumam estar debaixo dos nossos narizes o tempo inteiro e não percebíamos por inocência, confiança cega, carência ou acomodação. Essa ficha pode cair bem rápido, em etapas conforme montamos o quebra-cabeças ou só cair quando a pessoa já se prejudicou de verde, amarelo, azul e branco. Defendo a importância de um bom psicólogo e o frequente contato com a natureza e seus animais porque com essas ferramentas o raciocínio lógico flui exalando mais do que cheiro de tangerina. Nem querendo dá pra negar que a ficha caiu e se caiu não volta mais para o sótão das elocubrações, virou certeza.

Cair a ficha traz a coragem que nunca se sabe de qual víscera saiu, mas é um véu que se retira dos olhos que antes enxergavam tudo embaçado. Orgulhe-se por ter conseguido se proteger. Gosto da palavra desvendar, é arrancar a venda que ocultava a verdade, cair a ficha é desvendar situações emocionalmente delicadas, algumas antiquíssimas! O cair de fichas nos liberta e conseguimos dizer não ao que nos oprime, amassa e usa nossas fraquezas contra nós mesmos. E, meu amigo, juntar a boiada que se dispersou é tarefa ingrata, quiçá impossível.

Desejo que todas as suas fichas caiam num barulhento “jackpot” tal qual uma máquina de caça-níqueis de cassino para que você possa ter confiança para recomeçar algum capítulo da sua vida sem amarras ou manipulações e, caso ainda pense que perdeu algo ou alguém em virtude disso, acredite, é só impressão, certamente o que houve foi uma elevação de patamar em sua qualidade de vida.