"Era só alguém..."
– Quem se foi que está te deixando tão pensativo, cara?
– Era só alguém.
– "Era só alguém": que maneira mais estranha de se referir a alguém. Como pode alguém ser alguém limitando-se apenas a isso?
– Barthes fala em "Fragmentos de um discurso amoroso" que várias pessoas passam por nossa vida. Alguém fica (na memória), alguém vai embora (simplesmente passou). É como uma procissão de passagem pela nossa vida. Eu vivo ouvindo ecos do passado, cara. Eu olho para dentro de mim e vejo mundos inabitados. Pessoas que não mostram seu rosto. Outras, de costas para mim. Era só alguém, Homem. Era só alguém. Como nós também somos apenas alguém na vida dos outros. Alguém.
– Tua fala carrega um tom que varia entre a saudade e a depressão. "Eu olho para dentro de mim e vejo mundos inabitados": isso soa como um trecho do replicante interpretado por Hutger Hauer em "Blade Runner". Você precisa de ajuda, cara. Muita ajuda.
Nós dois nos olhamos. Meu amigo me abraça. E minhas lágrimas começam a correr. Hora de partir...