Pequeno mapa diário de um cidadão comum

Presentemente ainda não posso me considerar um sujeito de sorte, um dia já fui mais. São, salvo e forte em termos, também não estou tão azarado assim. Tenho comigo uma xícara de café e algumas bolachinhas pra fazer as vezes de desjejum aqui sobre minha mesa de escritório onde redijo esses disparates.

As contas andam apertadas e também nunca entendi bem essas coisas de família e dinheiro, a primeira até que vai bem, obrigado. Porém o fim de mês está terrível para as finanças. Apanho do Internet Banking e não tenho tempo de ir na agência bancária (o que é uma outra maneira de dizer que não tenho crédito na praça, se não meu gerente já teria me ligado) e assim fico sem margem de manobra para os pequenos lazeres da vida. Sobram as obrigações, o tédio, a música e a literatura (ufa).

Observo os envelopes de papel pardo, planilhas, formulários, circulares e ordens de serviço e lembro de Joseph K. Por qual razão ele estava sendo processado mesmo?

Da minha janela não ouço estrelas e do outro lado da rua não há uma tabacaria. Há uma imobiliária tocada por homens de negócio que chegam após as dez da manhã em seus SUVs e sedans do ano para assinar ou não os contratos feitos por seus estagiários que acreditam piamente que um dia serão eles os donos dos carrões.

Pra não perder o bom humor e o tesão pela vida, ontem apareceu por aqui uma colega de outras dessas repartições kafkianas mais sexy que a aeromoça da música de Belchior. Até caprichei no café, quem sabe ela volta.

Até.

Rodrigo Margini
Enviado por Rodrigo Margini em 22/03/2023
Código do texto: T7746016
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