Conversa íntima com o espelho
Havia um tempo.
Não esse de agora,
Um tempo bem passado.
Olho no espelho e o passado mostra suas garras.
Dou um sorriso amarelado para o próprio reflexo e nada acontece. Um riso morto, enterrado em mar profundo.
Vida de labor.
Corpo cansado.
Sempre obrigado….
A obedecer as normas mesmo não gostando.
A carregar o peso da vida
Que encurvou minhas costas, encurtou a mocidade, ceifou meus sonhos, decepou minha memória.
Acorda, Homem!
Seus olhos perambulando no espaço, suas rugas de histórias esquecidas, seu corpo seco de velhice implacável, sua alma preparada para partir….
Mas espere….
Só mais um pouco.
Lembra, lembranças boas vivida!
Do jovem genial que contava as estrelas, procurava bailes nas noites de sábados, mãos dadas com as meninas grandiosas, das poesias declamadas em noites de fogueira.
Volta, volta tempo bom!
Eu jogava meu corpo na relva fresca e riam do futuro ao alcance das mãos. Eram livres e juntos mergulhavam nas águas puras do mar.
E longe, tão longe, o destino me esperava.
Espreitava eu, e você
Em meu corpo já homem moço a abraçar o mundo.