A casa do meu avô (2)
A goiabeira era uma espaçonave, que nos levava a locais insólitos e perigosos. Esta é uma das lembranças da casa de meu avô paterno, meu vô Joaquim Borges, comerciante na cidade de Jataí, Goiás. A jabuticabeira, as mulatas (papagaios) cantando para chamar minha avó, Maria Clara, enquanto ela preparava a "comida" delas, completavam uma parte do quintal da casa do meu avô.
O cato-cato, personagem criado pelo meu avô (craque na arte do desenho), era uma mistura de bicho e gente, que nos divertia. Meu avô sempre andava com os bolsos das calças cheios de balinhas, o que era uma festa para os netos (balas Azedinha, da marca Imperial), que sempre queriam, além das balas, a presença do meu avô e suas histórias.
O milho refogado que minha avó fazia era de delícia inigualável, assim como as almôndegas (ou armoncas, como diziam no interior) e a carne "de macaco" (carne de vaca desfiada) com arroz e feijão de caldo. A sobremesa era com a tradicional Cocada Bahiana, doce que vinha em latas à época. À hora do lanche eram servidas as roscas mais gostosas do mundo (até hoje não comi outras melhores) ou bolo.
Meus avós moravam em uma rua central da cidade, próxima alguns quarteirões da loja do meu avô (Comercial Baratém). Eram duas pessoas que, embora do interior, eram amantes das artes e dos museus. Hábitos que meus pais aprenderam e repassaram para os filhos (gostamos de visitar museus e teatros e nos entristecemos quando não vemos locais históricos nas cidades).
Saudades dos meus avós, Joaquim e Maria Clara. Duas personalidades diferentes, mas que tinham em comum o prazer em servir os carentes e os doentes mentais (que antigamente vagavam pelas ruas).