O DIA EM QUE O CAQUI FOI CONFUNDIDO COM TOMATE

O meu estimado e saudoso pai já faleceu há muitos anos. Só que, de vez em quando, algo surge na minha vida que me faz lembrar do seu jeito simples e humilde em tudo que fazia. Pedreiro por vocação e agricultor por necessidade, sempre quando o víamos passar a mão pelos seus cabelos brancos e olhar perdido no espaço era porque estava preocupado com a situação precária que nos envolvia, mas mesmo assim, ninguém nunca o via resmungar ou falar mal da situação, confiando sempre em Deus e deixando o tempo passar. Cresci vendo-o mais trabalhando de pedreiro até o dia em que sofreu um grave acidente de um andaime mal feito, quebrando uma perna, deixando vários meses sem poder trabalhar. Mesmo assim não resmungava nem gemia com algum dor. Depois de muito tempo, voltou a trabalhar. E numa desta lida diária, certo dia, ao terminar a construção de uma calçada, ao levar o seu almoço, presenciei o dono do estabelecimento falando grosso e sério:

- "Pois o senhor vai ter que desmanchar uma parte do seu serviço e fazer diferente!"

Ao ouvir este disparate só vi o meu velho pai se levantar e olhando bem para aquele homem falou também no mesmo tom:

- Eu não sou nenhum moleque para desmanchar nenhum serviço meu. Pague o meu serviço e contrate outro para lhe atender.

Em seguida, voltamos para casa e o dito ficou pelo não dito. Logo depois fiquei sabendo que aquele homem reconheceu o erro e pediu desculpas ao meu pai. Por esta e outras que sempre o admirei e respeitei as suas ordens.

Agora um fato até certo ponte jocoso aconteceu, certa vez, quando ao passar por uma feira e resolveu comprar alguns tomates a pedido da minha mãe. Só que uma distração bem grande o pegou em cheio e ao chegar em casa, quando a minha mãe foi preparar uma pequena salada se deparou com três bonito e apetitosos caquis, o que o meu pai simplesmente falou:

- No lugar da salada hoje teremos sobremesa!

E ninguém reclamou, apenas ameaçou rir, o que ele também o fez, o que era uma raridade, diga-se de passagem.