A VISÃO DE UM CEGO
Não mais que de repente um deles grita em alto bom tom: PERDEU!
Eles te tomam de assalto, exigem em tornar por direito aquilo que por ora entendem que se fizeram merecedores de tal conquista.
A sensação de impotência que se tem perante a barbárie é tamanha, naquele instante não se pensa em nada, não se reage, você é tão somente aquilo que até aqui foi.
Diante da mira de um revólver, tudo pode se transformar. O cenário de vida que foi construído, pode ser modificado por uma nova cortina.
Qual será a cena do próximo capítulo?
Os atores daquele espetáculo, desempenham os seus papeis que lhe cabem.
Mas qual é afinal o script?
O que estaria escrito no roteiro da cena seguinte?
E a sina? Quem assina?
Cada um per si, no desempenho de suas personagens, retratam um movimento atávico, que no instante, foram imantados àquele local para dali seguirem a rabiscar seus novos roteiros.
O elemento magnético que os atraiu para a reunião dessa noite, provavelmente possa estar registrado em algum papiro do universo, onde iremos perceber o que os levou agora, a necessidade desse reencontro.
As afinidades pretéritas, por certo, formam os elos, que por circunstâncias paralelas, os retém um ao outro. Nesse circo, quem é o mocinho? quem é o bandido?
Hoje, as vestes são bem diferentes das que em outros momentos, porém, devido à dificuldade de se ver pelas lentes do processo do elemento tempo, e ainda com a visão extremamente embaçada, os recalcitrantes não se reconhecem precisamente, e ainda mais perceber as possíveis alterações de suas condutas, isso poderia ser para o caolho, como exigir que se enxergue uma agulha no palheiro.
Passada a cena de terror, os tidos como vilões se vão. Fecha-se o portão das amarguras. As armaduras do palácio são restabelecidas, de um prédio arquitetônico finamente construído, porém os porões da memória de um dos atores reacendem pertinentemente as lamparinas que iluminam o passado pregresso.
As inúmeras estratégias de combate e defesa, vem a mente do agora vítima das circunstancias.
O que fazer com os 5 triunfantes que se foram afugentados, pergunta o assistente da hora?
Esta resposta, tentaremos fazer ao final desse relato.
Quando da abordagem dos estupefacientes, ante o brado retumbante do agente do crime, outra protagonista do episódio, refugia-se por um escondedouro do jardim do palácio. A partir daí, toda essa aventura toma um novo curso.
O terrorismo imputado pela horda dos assaltantes, faz subir o som que desperta a atenção dos seres invisíveis que rodeiam aquele espaço. No local, acampa uma falange desses agêneres que naquela enchança, passariam estar mais atentos aos movimentos dos participantes do evento.
A mulher, envolvida pela ação dos pusilânimes, ao buscar a madrigueira, recorre a mais poderosa das armas que guardava consigo.
Estirada ao chão para melhor se esconder, aciona a taramela do instrumento que durante toda a vida experimentou. Assentada, entra em contato com seus amigos espirituais, e se ligando pelo botão imaterial da FÉ, revolve o alvo do criminoso, e a provável bala que iria abalar as estruturas do clã.
Eles se foram, a partir de agora, vem à tona as reflexões a respeito de tantas coisas.
Os intérpretes desse picadeiro, cada uma passa a escrever novos cenários e horizontes para suas lidas.
O protagonista dessa história, segue ainda tal como o cego que pensa que enxerga, mas que no silêncio do seu corpo barulhento, também brada pedindo para reaver a visão. Muitas vezes cético, e por isso talvez, mais ainda, não veja o travessão que lhe atravessa o olho.
Os livramentos que lhe são sancionados, de certo devem ser por acréscimo da misericórdia.
Ele pensa que enxerga, e por ser assim, ainda goza de uma maior proteção, tal como o bebê que se nutre do alimento materno.
No seu inconsciente, jazem pensamentos diversos a respeito da prova que lhe foi aplicada.
Reconhece que os tempos são outros, a maturidade, faz respingar os colírios dos ensinamentos cristãos, que são como bálsamos que amenizam a ação do glaucoma da ignorância, apesar da recorrente laboração da catarata que se aloja no seu espírito, pela sua formação Tomeziana.
Ao final desse enredo, um figurante perguntou-lhe: o que fazer com os cincos meliantes biltres, afinal, mortos não nos assaltam...
Respondeu o cego: Tem certeza? Oremos por eles.
PEDRO FERREIRA SANTOS (PETRUS)
19/03/23