A VIAGEM
(Texto elaborado como atividade para alunos do 4º ano sobre o gênero crônica argumentativa)
Era um dia quente e ensolarado. O som dos automóveis soava do lado de fora da minha casa, enquanto eu estava sentada em frente à janela e morrendo de tédio por estar trancada em casa.
Era sábado, e o dia gritava piscina, praia, rio, mar... o dia gritava por uma aventura mais profunda que eu não poderia fazer ali... trancada.
- Vá ler um livro, minha filha. – Dizia minha mãe, como se a alternativa fosse resolver todos os meus problemas mais profundos.
Mas, apenas virei o rosto para o outro lado exausta por sentir que ninguém me entendia ali, exausta por querer sair e não poder, exausta por ser ainda tão pequena, ainda criança, e querer ser maior, ser adulta e dona do meu próprio nariz. Ora, se fosse adulta nada daquilo seria assim, teria meus quereres e súplicas saciados.
Eu faria tanto e também faria nada, se quisesse.
De má vontade resolvi pegar o bendito livro que minha mãe ganhou no trabalho e que possuía uma capa horrorosa sem atrativo nenhum. Toquei com as pontas dos dedos na superfície da capa e resolvi abrir o livro para, pelo menos, saber um pouco da história.
E foi ali que me perdi...
Me perdi em um mundo denso, com perigos inimagináveis. Fiz amizades com todos, senti o perfume que exalava no campo, rolei na grama, experimentei o gostinho da chuva em meu rosto, enquanto batalhava com um dragão imenso. Mas não quis parar, não quis pausas.
Li e li mais.
Quanto mais lia, mais poderia ser pequena, bem miudinha como uma formiga, e poderia me esticar, ser enorme e poderosa.
Li até sentir o quentinho do aconchego no peito, li até ouvir o barulho e o silêncio.
E foi assim que fiz não uma, mas milhares de viagens extraordinárias sem nem sair de casa.