Dia terrível

Como saber que um dia é terrível?

Quero dizer uma coisa simples: olhar assim um sábado tradicionalmente triste e verificar, de fato, sua gravidade, quanto será que nos custa?

Eu fiz a aposta, e perdi, como sempre.

Estou diante deste suco de limão aguado, desta Skol quase gelada, da salada dormida, e a pergunta persiste.

Muito difícil saber. Se me perguntassem a fórmula de Bhaskara, talvez eu soubesse. Mas a pergunta é outra, para a qual me falta a resposta.

Digo, com relativa lucidez, sou humildemente um homem triste. Já fui pior. Hoje eu bebo. Não sei se para o bem ou para o mal. De qualquer modo, tudo leva ao fim. Um fim que todos sabemos qual é.

Arrependimentos? Tenho muitos. Uma vez uma moça, desconhecida e talvez incólume, abriu um sorriso gigante para mim. Fingi não perceber. Mas a verdade é que até hoje sua magnífica arcada dentária está gravada em meu peito.

Este sábado terrível talvez não seja mal. Talvez seja apenas mais um sábado. Se eu apreender a olhar direito, talvez até reconheça nele um irmão.

Em síntese: a vida é triste, e este sábado terrível parece colaborar.

Damião Caetano da Silva
Enviado por Damião Caetano da Silva em 18/03/2023
Reeditado em 21/03/2023
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