Inferno
ACHO que dos temas que são constantemente discutidos, o que mais fascina e de certa forma atemoriza o ser humano é o que sucede após a morte física. Penso que até os ateus convictos divagam sobre o assunto. Há uma outra vida? Há reencarnação? Tem mais: os bons são punidos e os maus são castigados?
Não vou nesta arenga discutir o tema, mas dizer o que penso transcrevendo o final de um texto de ficção que escrevi para um jornal da minha querida cidade de Pesqueira, estado de Pernambuco. Nesse texto eu conto a história de um livre pensador cristão. Já no fim da vida alguém pergunta o que ele acha que sucede com os maus quando eles morrem. Resposta do personagem:
“Cabra velho, esse negócio é muito difícil. Todo penso é torto, mas eu acho que quando a gente deixa de viver, a alma se desprende do corpo. Os bons reencarnam ou vão para outro nível de vida. Já os maus são castigados. Não acredito no inferno descrito pelas religiões, fogo, diabos espetando, todo tipo de torturas. Nada disso. Penso que quando a alma sebosa chega ao lugar de pagar o que deve, achando que vai pegar uma punição leve tipo purgatório com mordomia, dizem a ela que pode jogar fora qualquer tipo de esperança. Acontece aquilo que Cronin profetizou: o inferno é o lugar onde se perde a esperança. A alma sebosa é colocada num local onde estão todos os seus companheiros de maldades, fica ali sem pensar em outra coisa a não ser que merece ficar eternamente fitando o nada, sem perspectivas, sem comunicação, sem memória, apenas consciente que merece esse castigo eterno. Vira um nada. Simples assim”.
Um castigo terrível. Um inferno. É o que penso. E priu. William Porto. Inté.