MUITO PRAZER, MEU NOME É PABLO
“Quem te ignora por orgulho hoje,
amanhã sentirá sua ausência”
(Pablo Escobar)
Acordo cedo, como todos os dias
Não posso perder tempo
Ou melhor, não devo
E da janela de meu apartamento a avistar uma manhã um pouco enevoada
Ainda que naquela cidade onde o calor a ser uma de suas marcas
A bela Niterói
Dirijo-me calmamente a uma padaria
E ali faço tomo o meu café matinal
Chega a ser estranho a calmaria daquel’hora
Um silêncio n’alma a beijar aquele momento
Que logo mais já será o oposto do que s’encontra
E tudo dura o tempo que deve durar
Nenhuma manhã é igual a outra
Nenhum dia se repete na história
Cada dia é novo
E o que hoje haverá?
Só estando realmente desperto para se saber
Caminho pelas ruas da cidade
Solitário ou, na verdade, em companhia de meu silêncio
A observar com atenção... tudo
Atravesso a Rua Ator Paulo Gustavo, em Icaraí
E prossigo
Até chegar ao místico e conhecido Campo de São Bento
Um parque que, na minha humilde opinião, a ser um dos melhores lugares de Niterói
E naquela hora impossível não me sentir para “magnetizado”
Adentro-me em seu espaço
A avistar um “pedacinho do Brasil” em sua vegetação e pequena fauna
Na verdade, aves... simples ou mesmo um tanto exóticas
E interessante como parece ser tudo novo
Pelo que me encanto com tudo
Como se fosse da primeira vez
E trafego a passos calmos e pausados
Até a hora de me assentar n’um banco do parque
E foi justamente nesta hora que me aparece uma pessoa
A se aproximar de mim e educadamente me diz:
- Olá, posso lhe fazer companhia, se não se importar?
Ao que lhe respondi:
- Será um prazer, queira se assentar, por favor. Meu nome é Estevan. E o senhor, como se chama?
NOTA: Optei em apresentar o diálogo pelas identificações entre as pessoas (como num estilo teatral).
PABLO:
- Meu nome é Pablo. Estou na cidade a passeio. Mas, e o senhor, pode me dizer um pouco de sua história, se não lhe for incômodo? Gostaria de conhecê-lo. E então, o que te trouxe aqui nest’hora ao parque?
ESTEVAN:
- Tenho uma vida comum, com meus problemas cotidianos, mas que não me levam ao desespero.
PABLO:
- Tudo nesta vida tem uma solução, exceto a morte. E sempre a se saber que a sua vida é o resultado de suas ações, não de suas intenções. Já pensou sobre isto? E na escola da vida estamos todos os dias aprendendo, e sem perceber, mudando a cada dia. Muito embora eu acredito que eu não mudei, apenas aprendi, e o aprendizado não está mudando, está crescendo.
ESTEVAN:
- Disse bem, caríssimo Pablo. Mas, observando que muitos hoje parece que mergulhados estão num mar de desespero, o que se deve isto? Seria o esquecimento de que possuem inteligência, todavia, não a usam? As pessoas estão desorientadas, para não dizer... “angustiadas”.
PABLO:
- Meu caro Estevan, eu defendo a opinião (a ser minha) que inteligência é a capacidade de se adaptar às mudanças. Mas, sempre lembrando: A mente é como um paraquedas, é inútil se não abrir. E são poucos os que a usam. E são raros os que possuem um senso crítico, ou a própria razão, seja para resolver os problemas alheios, seja para os seus próprios problemas. E as pessoas que menos sabem são as que mais criticam. Isto sem dizer que quando o problema não é seu, é muito fácil criticar.
ESTEVAN:
- Perfeito. P’ra dizer a verdade, não ouvi nada mais certo nestes dias. Mas, será que o medo [de viver] não seria o motivo para não conhecermos a felicidade (que todo mundo deseja)?
PABLO:
Quer saber o qu’eu penso? Direi, então: O homem com medo é um ovo sem esperança. Sim, um homem sem esperança tem medo de correr riscos. E quem não corre grandes riscos, nunca receberá grandes recompensas. Contudo, todo mundo quer conseguir as coisas “de modo fácil” (o que não existe). As pessoas não entendem que o bom nunca é fácil e o fácil nunca é bom. Quanto mais complicado, maior o sabor. Eu venho de pessoas humildes e é isso que me faz feliz. E eu sempre tenho Deus em mente, é por isso que estou indo tão bem.
ESTEVAN:
- De fato, mas num mundo onde todos estão competindo, como a vida deve ser feita? Haverá alguma condição para isto?
PABLO:
- Nesta vida, você tem que permanecer firme para que ninguém o bata. E sempre sabendo que nenhum dia é igual ao outro. Não se preocupe se você perdeu hoje, amanhã é a sua vez de vencer. Deste modo é que “funciona” a vida. E se a questão é a “competição” como dizes eu penso assim: Acima daqueles que correm, há aqueles que voam.
ESTEVAN:
- E haveria uma fórmula para ser rico e feliz? Ou a felicidade é algo impossível?
PABLO:
- Quer de fato saber o que penso? Pensar como pobre te deixa pobre. Agora, reflita comigo: Ser pobre não o torna humilde e ser humilde não significa que você é pobre. Há uma grande diferença. E concorde comigo ou não: A pobreza é uma coisa passageira, mas a humildade deve ser eterna. E se me perguntas se eu acho a felicidade algo impossível eis o que acho: Impossível é apenas uma palavra no dicionário. E quando você fizer algo, não diga, é melhor fazê-lo.
ESTEVAN:
- A humildade é uma grande virtude, e, ao qu’eu acho, a maior de todas.
PABLO:
- Humildade, que os aviões também caem...!
ESTEVAN:
- Mas, voltando com relação às pessoas nesta selva que é o mundo, qual é o segredo de viver em relações, sabendo-se que é difícil confiar em alguém?
PABLO:
- Se você quer conhecer uma pessoa, não pergunte o que ela pensa, mas o que ela ama (se de fato você quer conhecer as pessoas d’um modo geral e verdadeiro). E aqui podemos também dizer: Quando eles têm você, você não é ninguém, mas eles apenas sentem sua falta, amam-no e sentem sua falta. E ouso a dizer mais: Você tem que ter dias ruins para perceber quem é a família, quem é amigo e quais são os verdadeiros amores.
ESTEVAN:
- E em sua vida pessoal, como as coisas funcionam?
PABLO:
- Você fala comigo, eu falo com você, você me ignora, eu te ignoro, você me trata mal, eu te trato pior, você me trata bem, eu te trato melhor. É simples assim.
ESTEVAN:
- Mas as pessoas traem, sobretudo, quando menos se espera. E isso machuca muito.
PABLO:
- Se ainda dói, você ainda se importa [com elas]. E quer saber o que eu penso sobre elas? Graças a Deus, muitos querem me ver cair, mas eu não lhes darei prazer, todos os dias serei mais forte.
ESTEVAN:
- E quando elas caem fora? Como reagir a isto?
PABLO:
- Eu sempre aprendi que as pessoas sempre partem, apesar de prometerem mil vezes que ficariam.
ESTEVAN:
- Você deve ser rodeado de mulheres, pela maneira como articula bem sua vida, não?
PABLO:
- Onde há carro, moto, dinheiro e roupas de marca, há mil mulheres. Mas quando você é pobre, você só tem sua mãe, é essa que realmente ama você. E sobre as mulheres eu penso da seguinte forma: As mulheres de hoje querem ser amadas no passado, mas se comportam no moderno.
ESTEVAN:
- Então, concluindo, você não é escravo do amor?
PABLO:
- Tenho o suficiente para me odiar, mas nunca sinto falta de quem me ama. E aceita um bom conselho? Não acredite no amor por que isso não dá dinheiro.
ESTEVAN:
- Bem, confesso que estou admirado em função de sua ótica de vida, ao que eu diria que o senhor poderia muito bem fazer uma palestra em temas empresariais. Mas, o que fazes na vida, senhor Pablo?
PABLO:
- Na história de todos os negócios, há momentos decisivos. A primeira venda, o primeiro milhão, o primeiro bilhão e quando seu rival não existir mais. Eu sou um homem decente que exporta flores. Sou um “pequeno empresário” em meu próprio negócio. Agora, sobre a questão em como se sair bem no que fazes eu tenho comigo uma regra: Não sei a chave do sucesso, mas a chave do fracasso é tentar agradar a todos. E sem jamais esquecer: É traído quem vive confiante. Os amigos falsos sempre ligam para você para perguntar uma coisa, os sinceros fazem isso para perguntar se você está bem. De cada 10 amigos 11 são falsos. Tenha cuidado com quem você confia a contar-lhe seus problemas. Nem todos que sorriem para você são seus amigos. Amigos são aqueles que te veem chorando e dizem: “Quem matamos?”. Mantenha seus amigos perto, mas seus inimigos ainda mais perto. Só aqueles que passaram fome comigo e me apoiaram quando passei por um momento ruim da minha vida, comerão na minha mesa.
ESTEVAN:
- Disse outra verdade. Lembrou-me uma frase dita no filme “O PODEROSO CHEFÃO: “Mantenha os amigos perto e os inimigos mais perto ainda”. Mas, e quanto à família, o que o senhor teria a me dizer?
PABLO:
- Os únicos que não nos abandonam quando somos maus e sempre os temos, são nossa família, é a coisa mais importante em nossa vida. Mas, às vezes a família acaba sendo nosso calcanhar de Aquiles. Mas, se realmente quer saber, para mim, a coisa mais importante depois da minha mãe é prata e mulheres. [risos] . Contudo, guardo comigo uma regra: Se você for fazer uma cirurgia na sua mulher para vê-la mais bonita, primeiro faça uma cirurgia no coração para tratá-la melhor.
ESTEVAN:
- O senhor é casado? Como se chama sua esposa? Como a conheceu?
PABLO:
- Sou casado e ela se chama Maria Victoria. Eu a conheci quando não tinha peso no bolso, na época ela me queria pobre e sem dinheiro, e agora rica e perturbada ela ainda me quer o mesmo. Isso é amor.
ESTEVAN:
- Atualmente alguns países da América Latina estão passando por dificuldades econômicas. Como o senhor vê isto? Muitos estão vivendo na miséria agora!
PABLO:
- Minha família não tinha recursos econômicos significativos e estamos enfrentando dificuldades como as da maioria do povo colombiano; Portanto, não estamos alheios a esses problemas, os conhecemos profundamente e os entendemos.
ESTEVAN:
- Impossível não lembrar de política. E nos períodos eleitorais oh! quantas promessas [ilusórias]...!
PABLO:
- As promessas significam tudo, mas quando não são cumpridas … não significam nada. O truque é falar menos e demonstrar mais. Mas sempre a lembrar: Nunca fique quieto quando for conveniente conversar e nunca fale quando for conveniente calar a boca.
ESTEVAN:
- Como é feito o jogo da política? Seria um processo de “manipulação psicológica de rebanho? Por que muitos perdem o senso crítico de julgar?
PABLO:
- Há duzentos milhões de idiotas manipulados por um milhão de homens inteligentes. É o retrato do mundo! E no que diz respeito de como ganhar o poder não precisa nem dizer [no que se faz até hoje], mas todos os impérios são criados com sangue e fogo. No que só pode haver um rei! E quanto a mim eu sempre consigo o que quero, e quando não, é porque não o queria.
ESTEVAN:
- Seria o senhor revoltado com “o sistema”?
PABLO:
- Eu penso desta forma: Não faz sentido continuar enriquecendo os ricos. E o que fazer, então? Simples, basta colocar em prática isto: Existe momento de lutar e existe momento para ser inteligente. A vontade do homem é mais forte que as barras de ferro. Meu desejo não é que haja um confronto. Busco a paz e sempre busquei a paz e ansiava pela paz. O propósito da guerra é a paz.
ESTEVAN:
- Muitos estão jogando sujo aqui (para conquistar o poder), a disseminar mentiras (fake news). Qual a sua opinião a este respeito, senhor Pablo?
PABLO:
- Caríssimo Estevan, procure entender: as pessoas falsas se apagam. Não é mais sábio quem lê mais, mas quem melhor compreende.
ESTEVAN:
- Mas, qual a razão de tantas mentiras na propagação de uma ideologia? Por que não apelar para a verdade?
PABLO:
- As mentiras são necessárias quando a verdade é muito difícil de acreditar.
ESTEVAN:
- E desta forma se encontra o mundo!
PABLO:
- Pois é! E em um mundo de hipócritas, os sinceros são os maus!
ESTEVAN:
- O senhor não acha que no presente tempo muitos estão se tornando idólatras de pessoas perversas (a começar pelos próprios poderosos)?
PABLO:
- Eles observam, criticam, invejam e eventualmente... te imitam. Contudo, tenho comigo uma outra linha de pensamento: Quando você ver um bom homem tente imitar, e quando você ver um homem mau examine a si mesmo.
ESTEVAN:
- E no que se refere ao “dinheiro” qual a sua opinião [com toda a sinceridade]?
PABLO:
- Com a toda a sinceridade? E acaso não estou sendo sincero no que antes disse? Pois bem, quanto ao dinheiro eu direi, então: Como todos os problemas são resolvidos na vida? Dinheiro. A fé move montanhas (como se diz), mas o dinheiro sacode o mundo. Mas agora tenho que confessar que comigo, a única coisa que você vai sujar as mãos é contar dinheiro. Contudo, quero deixar bem claro: Não julgue minhas decisões sem conhecer minhas razões. O dinheiro não compra as mulheres, mas faz as prostitutas se apaixonarem. Embora a maior verdade é que tudo se torna perigoso com o dinheiro. Que é como eu digo: Prata ou chumbo? (Dinheiro ou bala)?
ESTEVAN:
- E no final, visto que todos se vendem, todos nós somos, de certa forma, “prostitutas”!
PABLO:
- Todos têm um preço, o importante é descobrir qual é o valor. Se o cão tem dinheiro, diga a ele, Mr. Dog.
ESTEVAN:
- E quanto à vida em si, o que podemos esperar nela?
PABLO:
- A vida é cheia de surpresas, algumas boas, outras não tão boas. Mas da verdade que o que é procurado é encontrado, e o que é negligenciado é perdido. A única certeza que se tem é a morte, então não tenho medo disso. E a se saber que as coisas boas devem ser lembradas, e as ruins podem ser superadas. E digo mais: A vida deve ser vivida de forma irresponsável, mas com responsabilidade. Vai por mim: O que se destina a você, mais cedo ou mais tarde chega porque chega.
ESTEVAN:
- Bom, numa sociedade onde muitos parecem que precisam dar satisfação para todo mundo, qual a sua posição sobre isto? O senhor se importa ao que diz a vosso respeito?
PABLO:
- De forma alguma. Eu não ligo para rumores, sou responsável pelo que faço, não pelo que eles dizem sobre mim. Não se preocupe com o que eles dizem sobre você. Lembre-se de que mesmo Deus falhou em agradar a todos. E para as pessoas que não me interessam, não finjo hipocrisia ou riso. Eu conheço minha própria história muito bem, portanto sou o único que pode me julgar e me criticar sempre que eu quiser.
ESTEVAN:
- Seria como deve ser feito na administração de nosso tempo, então?
PABLO:
- Não há mérito melhor do que saber tirar proveito de todas as oportunidades. E se você não perguntar aos outros o que deveria ser, a vida será como você quer que seja. E quer saber mais? Por nada que você precise, nunca se acostume com nada.
ESTEVAN:
- Nestes tempos marcados com tanto ódio no Brasil, qual mensagem o senhor a todos daria agora?
PABLO:
- Tempos melhores virão. Foi um grande prazer estar contigo, Sr. Estevan. Caso queira me encontrar, estarei hospedado Hotel Rio Othon Palace, em Copacabana. É só pedir para me chamar. Meu nome todo é Pablo Emilio Escobar Gaviria. Terei uma grande satisfação em lhe ver novamente.
E assim, naquela hora, ao que eu diria ornada de sabedoria e vivência, nos despedimos. Agradeci-lhe pela prosa e retornei para o meu apartamento. Sem dúvida foi uma das melhores conversas que eu tive na vida (com alguém que eu o conhecia apenas em função de sua fama).
17/03/2023
Post Scriptum:
Não tive nenhuma intenção aqui de homenagear o nome de Pablo E. Escobar, e muito menos em fazer apologia ao uso de drogas ilícitas. Trata-se apenas de um trabalho literário. As palavras em negrito são atribuídas a ele.
IMAGENS: FOTOS PARTICULARES TIRADAS DE CELULAR (DO CAMPO DE SÃO BENTO, EM NITERÓI)
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APENAS O TEXTO
MUITO PRAZER, MEU NOME É PABLO
“Quem te ignora por orgulho hoje,
amanhã sentirá sua ausência”
(Pablo Escobar)
Acordo cedo, como todos os dias
Não posso perder tempo
Ou melhor, não devo
E da janela de meu apartamento a avistar uma manhã um pouco enevoada
Ainda que naquela cidade onde o calor a ser uma de suas marcas
A bela Niterói
Dirijo-me calmamente a uma padaria
E ali faço tomo o meu café matinal
Chega a ser estranho a calmaria daquel’hora
Um silêncio n’alma a beijar aquele momento
Que logo mais já será o oposto do que s’encontra
E tudo dura o tempo que deve durar
Nenhuma manhã é igual a outra
Nenhum dia se repete na história
Cada dia é novo
E o que hoje haverá?
Só estando realmente desperto para se saber
Caminho pelas ruas da cidade
Solitário ou, na verdade, em companhia de meu silêncio
A observar com atenção... tudo
Atravesso a Rua Ator Paulo Gustavo, em Icaraí
E prossigo
Até chegar ao místico e conhecido Campo de São Bento
Um parque que, na minha humilde opinião, a ser um dos melhores lugares de Niterói
E naquela hora impossível não me sentir para “magnetizado”
Adentro-me em seu espaço
A avistar um “pedacinho do Brasil” em sua vegetação e pequena fauna
Na verdade, aves... simples ou mesmo um tanto exóticas
E interessante como parece ser tudo novo
Pelo que me encanto com tudo
Como se fosse da primeira vez
E trafego a passos calmos e pausados
Até a hora de me assentar n’um banco do parque
E foi justamente nesta hora que me aparece uma pessoa
A se aproximar de mim e educadamente me diz:
- Olá, posso lhe fazer companhia, se não se importar?
Ao que lhe respondi:
- Será um prazer, queira se assentar, por favor. Meu nome é Estevan. E o senhor, como se chama?
NOTA: Optei em apresentar o diálogo pelas identificações entre as pessoas (como num estilo teatral).
PABLO:
- Meu nome é Pablo. Estou na cidade a passeio. Mas, e o senhor, pode me dizer um pouco de sua história, se não lhe for incômodo? Gostaria de conhecê-lo. E então, o que te trouxe aqui nest’hora ao parque?
ESTEVAN:
- Tenho uma vida comum, com meus problemas cotidianos, mas que não me levam ao desespero.
PABLO:
- Tudo nesta vida tem uma solução, exceto a morte. E sempre a se saber que a sua vida é o resultado de suas ações, não de suas intenções. Já pensou sobre isto? E na escola da vida estamos todos os dias aprendendo, e sem perceber, mudando a cada dia. Muito embora eu acredito que eu não mudei, apenas aprendi, e o aprendizado não está mudando, está crescendo.
ESTEVAN:
- Disse bem, caríssimo Pablo. Mas, observando que muitos hoje parece que mergulhados estão num mar de desespero, o que se deve isto? Seria o esquecimento de que possuem inteligência, todavia, não a usam? As pessoas estão desorientadas, para não dizer... “angustiadas”.
PABLO:
- Meu caro Estevan, eu defendo a opinião (a ser minha) que inteligência é a capacidade de se adaptar às mudanças. Mas, sempre lembrando: A mente é como um paraquedas, é inútil se não abrir. E são poucos os que a usam. E são raros os que possuem um senso crítico, ou a própria razão, seja para resolver os problemas alheios, seja para os seus próprios problemas. E as pessoas que menos sabem são as que mais criticam. Isto sem dizer que quando o problema não é seu, é muito fácil criticar.
ESTEVAN:
- Perfeito. P’ra dizer a verdade, não ouvi nada mais certo nestes dias. Mas, será que o medo [de viver] não seria o motivo para não conhecermos a felicidade (que todo mundo deseja)?
PABLO:
Quer saber o qu’eu penso? Direi, então: O homem com medo é um ovo sem esperança. Sim, um homem sem esperança tem medo de correr riscos. E quem não corre grandes riscos, nunca receberá grandes recompensas. Contudo, todo mundo quer conseguir as coisas “de modo fácil” (o que não existe). As pessoas não entendem que o bom nunca é fácil e o fácil nunca é bom. Quanto mais complicado, maior o sabor. Eu venho de pessoas humildes e é isso que me faz feliz. E eu sempre tenho Deus em mente, é por isso que estou indo tão bem.
ESTEVAN:
- De fato, mas num mundo onde todos estão competindo, como a vida deve ser feita? Haverá alguma condição para isto?
PABLO:
- Nesta vida, você tem que permanecer firme para que ninguém o bata. E sempre sabendo que nenhum dia é igual ao outro. Não se preocupe se você perdeu hoje, amanhã é a sua vez de vencer. Deste modo é que “funciona” a vida. E se a questão é a “competição” como dizes eu penso assim: Acima daqueles que correm, há aqueles que voam.
ESTEVAN:
- E haveria uma fórmula para ser rico e feliz? Ou a felicidade é algo impossível?
PABLO:
- Quer de fato saber o que penso? Pensar como pobre te deixa pobre. Agora, reflita comigo: Ser pobre não o torna humilde e ser humilde não significa que você é pobre. Há uma grande diferença. E concorde comigo ou não: A pobreza é uma coisa passageira, mas a humildade deve ser eterna. E se me perguntas se eu acho a felicidade algo impossível eis o que acho: Impossível é apenas uma palavra no dicionário. E quando você fizer algo, não diga, é melhor fazê-lo.
ESTEVAN:
- A humildade é uma grande virtude, e, ao qu’eu acho, a maior de todas.
PABLO:
- Humildade, que os aviões também caem...!
ESTEVAN:
- Mas, voltando com relação às pessoas nesta selva que é o mundo, qual é o segredo de viver em relações, sabendo-se que é difícil confiar em alguém?
PABLO:
- Se você quer conhecer uma pessoa, não pergunte o que ela pensa, mas o que ela ama (se de fato você quer conhecer as pessoas d’um modo geral e verdadeiro). E aqui podemos também dizer: Quando eles têm você, você não é ninguém, mas eles apenas sentem sua falta, amam-no e sentem sua falta. E ouso a dizer mais: Você tem que ter dias ruins para perceber quem é a família, quem é amigo e quais são os verdadeiros amores.
ESTEVAN:
- E em sua vida pessoal, como as coisas funcionam?
PABLO:
- Você fala comigo, eu falo com você, você me ignora, eu te ignoro, você me trata mal, eu te trato pior, você me trata bem, eu te trato melhor. É simples assim.
ESTEVAN:
- Mas as pessoas traem, sobretudo, quando menos se espera. E isso machuca muito.
PABLO:
- Se ainda dói, você ainda se importa [com elas]. E quer saber o que eu penso sobre elas? Graças a Deus, muitos querem me ver cair, mas eu não lhes darei prazer, todos os dias serei mais forte.
ESTEVAN:
- E quando elas caem fora? Como reagir a isto?
PABLO:
- Eu sempre aprendi que as pessoas sempre partem, apesar de prometerem mil vezes que ficariam.
ESTEVAN:
- Você deve ser rodeado de mulheres, pela maneira como articula bem sua vida, não?
PABLO:
- Onde há carro, moto, dinheiro e roupas de marca, há mil mulheres. Mas quando você é pobre, você só tem sua mãe, é essa que realmente ama você. E sobre as mulheres eu penso da seguinte forma: As mulheres de hoje querem ser amadas no passado, mas se comportam no moderno.
ESTEVAN:
- Então, concluindo, você não é escravo do amor?
PABLO:
- Tenho o suficiente para me odiar, mas nunca sinto falta de quem me ama. E aceita um bom conselho? Não acredite no amor por que isso não dá dinheiro.
ESTEVAN:
- Bem, confesso que estou admirado em função de sua ótica de vida, ao que eu diria que o senhor poderia muito bem fazer uma palestra em temas empresariais. Mas, o que fazes na vida, senhor Pablo?
PABLO:
- Na história de todos os negócios, há momentos decisivos. A primeira venda, o primeiro milhão, o primeiro bilhão e quando seu rival não existir mais. Eu sou um homem decente que exporta flores. Sou um “pequeno empresário” em meu próprio negócio. Agora, sobre a questão em como se sair bem no que fazes eu tenho comigo uma regra: Não sei a chave do sucesso, mas a chave do fracasso é tentar agradar a todos. E sem jamais esquecer: É traído quem vive confiante. Os amigos falsos sempre ligam para você para perguntar uma coisa, os sinceros fazem isso para perguntar se você está bem. De cada 10 amigos 11 são falsos. Tenha cuidado com quem você confia a contar-lhe seus problemas. Nem todos que sorriem para você são seus amigos. Amigos são aqueles que te veem chorando e dizem: “Quem matamos?”. Mantenha seus amigos perto, mas seus inimigos ainda mais perto. Só aqueles que passaram fome comigo e me apoiaram quando passei por um momento ruim da minha vida, comerão na minha mesa.
ESTEVAN:
- Disse outra verdade. Lembrou-me uma frase dita no filme “O PODEROSO CHEFÃO: “Mantenha os amigos perto e os inimigos mais perto ainda”. Mas, e quanto à família, o que o senhor teria a me dizer?
PABLO:
- Os únicos que não nos abandonam quando somos maus e sempre os temos, são nossa família, é a coisa mais importante em nossa vida. Mas, às vezes a família acaba sendo nosso calcanhar de Aquiles. Mas, se realmente quer saber, para mim, a coisa mais importante depois da minha mãe é prata e mulheres. [risos] . Contudo, guardo comigo uma regra: Se você for fazer uma cirurgia na sua mulher para vê-la mais bonita, primeiro faça uma cirurgia no coração para tratá-la melhor.
ESTEVAN:
- O senhor é casado? Como se chama sua esposa? Como a conheceu?
PABLO:
- Sou casado e ela se chama Maria Victoria. Eu a conheci quando não tinha peso no bolso, na época ela me queria pobre e sem dinheiro, e agora rica e perturbada ela ainda me quer o mesmo. Isso é amor.
ESTEVAN:
- Atualmente alguns países da América Latina estão passando por dificuldades econômicas. Como o senhor vê isto? Muitos estão vivendo na miséria agora!
PABLO:
- Minha família não tinha recursos econômicos significativos e estamos enfrentando dificuldades como as da maioria do povo colombiano; Portanto, não estamos alheios a esses problemas, os conhecemos profundamente e os entendemos.
ESTEVAN:
- Impossível não lembrar de política. E nos períodos eleitorais oh! quantas promessas [ilusórias]...!
PABLO:
- As promessas significam tudo, mas quando não são cumpridas … não significam nada. O truque é falar menos e demonstrar mais. Mas sempre a lembrar: Nunca fique quieto quando for conveniente conversar e nunca fale quando for conveniente calar a boca.
ESTEVAN:
- Como é feito o jogo da política? Seria um processo de “manipulação psicológica de rebanho? Por que muitos perdem o senso crítico de julgar?
PABLO:
- Há duzentos milhões de idiotas manipulados por um milhão de homens inteligentes. É o retrato do mundo! E no que diz respeito de como ganhar o poder não precisa nem dizer [no que se faz até hoje], mas todos os impérios são criados com sangue e fogo. No que só pode haver um rei! E quanto a mim eu sempre consigo o que quero, e quando não, é porque não o queria.
ESTEVAN:
- Seria o senhor revoltado com “o sistema”?
PABLO:
- Eu penso desta forma: Não faz sentido continuar enriquecendo os ricos. E o que fazer, então? Simples, basta colocar em prática isto: Existe momento de lutar e existe momento para ser inteligente. A vontade do homem é mais forte que as barras de ferro. Meu desejo não é que haja um confronto. Busco a paz e sempre busquei a paz e ansiava pela paz. O propósito da guerra é a paz.
ESTEVAN:
- Muitos estão jogando sujo aqui (para conquistar o poder), a disseminar mentiras (fake news). Qual a sua opinião a este respeito, senhor Pablo?
PABLO:
- Caríssimo Estevan, procure entender: as pessoas falsas se apagam. Não é mais sábio quem lê mais, mas quem melhor compreende.
ESTEVAN:
- Mas, qual a razão de tantas mentiras na propagação de uma ideologia? Por que não apelar para a verdade?
PABLO:
- As mentiras são necessárias quando a verdade é muito difícil de acreditar.
ESTEVAN:
- E desta forma se encontra o mundo!
PABLO:
- Pois é! E em um mundo de hipócritas, os sinceros são os maus!
ESTEVAN:
- O senhor não acha que no presente tempo muitos estão se tornando idólatras de pessoas perversas (a começar pelos próprios poderosos)?
PABLO:
- Eles observam, criticam, invejam e eventualmente... te imitam. Contudo, tenho comigo uma outra linha de pensamento: Quando você ver um bom homem tente imitar, e quando você ver um homem mau examine a si mesmo.
ESTEVAN:
- E no que se refere ao “dinheiro” qual a sua opinião [com toda a sinceridade]?
PABLO:
- Com a toda a sinceridade? E acaso não estou sendo sincero no que antes disse? Pois bem, quanto ao dinheiro eu direi, então: Como todos os problemas são resolvidos na vida? Dinheiro. A fé move montanhas (como se diz), mas o dinheiro sacode o mundo. Mas agora tenho que confessar que comigo, a única coisa que você vai sujar as mãos é contar dinheiro. Contudo, quero deixar bem claro: Não julgue minhas decisões sem conhecer minhas razões. O dinheiro não compra as mulheres, mas faz as prostitutas se apaixonarem. Embora a maior verdade é que tudo se torna perigoso com o dinheiro. Que é como eu digo: Prata ou chumbo? (Dinheiro ou bala)?
ESTEVAN:
- E no final, visto que todos se vendem, todos nós somos, de certa forma, “prostitutas”!
PABLO:
- Todos têm um preço, o importante é descobrir qual é o valor. Se o cão tem dinheiro, diga a ele, Mr. Dog.
ESTEVAN:
- E quanto à vida em si, o que podemos esperar nela?
PABLO:
- A vida é cheia de surpresas, algumas boas, outras não tão boas. Mas da verdade que o que é procurado é encontrado, e o que é negligenciado é perdido. A única certeza que se tem é a morte, então não tenho medo disso. E a se saber que as coisas boas devem ser lembradas, e as ruins podem ser superadas. E digo mais: A vida deve ser vivida de forma irresponsável, mas com responsabilidade. Vai por mim: O que se destina a você, mais cedo ou mais tarde chega porque chega.
ESTEVAN:
- Bom, numa sociedade onde muitos parecem que precisam dar satisfação para todo mundo, qual a sua posição sobre isto? O senhor se importa ao que diz a vosso respeito?
PABLO:
- De forma alguma. Eu não ligo para rumores, sou responsável pelo que faço, não pelo que eles dizem sobre mim. Não se preocupe com o que eles dizem sobre você. Lembre-se de que mesmo Deus falhou em agradar a todos. E para as pessoas que não me interessam, não finjo hipocrisia ou riso. Eu conheço minha própria história muito bem, portanto sou o único que pode me julgar e me criticar sempre que eu quiser.
ESTEVAN:
- Seria como deve ser feito na administração de nosso tempo, então?
PABLO:
- Não há mérito melhor do que saber tirar proveito de todas as oportunidades. E se você não perguntar aos outros o que deveria ser, a vida será como você quer que seja. E quer saber mais? Por nada que você precise, nunca se acostume com nada.
ESTEVAN:
- Nestes tempos marcados com tanto ódio no Brasil, qual mensagem o senhor a todos daria agora?
PABLO:
- Tempos melhores virão. Foi um grande prazer estar contigo, Sr. Estevan. Caso queira me encontrar, estarei hospedado Hotel Rio Othon Palace, em Copacabana. É só pedir para me chamar. Meu nome todo é Pablo Emilio Escobar Gaviria. Terei uma grande satisfação em lhe ver novamente.
E assim, naquela hora, ao que eu diria ornada de sabedoria e vivência, nos despedimos. Agradeci-lhe pela prosa e retornei para o meu apartamento. Sem dúvida foi uma das melhores conversas que eu tive na vida (com alguém que eu o conhecia apenas em função de sua fama).
17/03/2023
Post Scriptum:
Não tive nenhuma intenção aqui de homenagear o nome de Pablo E. Escobar, e muito menos de fazer apologia ao uso de drogas ilícitas. Trata-se apenas de um trabalho literário. As palavras em negrito são atribuídas a ele.