ESTHER

EU SEMPRE QUIS CONHECER UMA mulher chamada Esther; assim mesmo... Puro e simplesmente. Num cochilo de moral, invejo Jorge Luis Borges, que ofereceu a uma pessoa homônima, “ficciones”, talvez o livro mais importante de sua obra. E eu? O que teria para oferecer a minha Esther? Quem sabe os meus instantes de solidão... - Feito anteparo da insanidade. Esther seria parida de uma aventura à Espanha. Nasceria em um navio cargueiro, em pleno alto mar. Pois, assim tinha que ser. Cresceria no município de San Sadurní d´Anoia, região da Catalunha. Ela seria ruiva e exalaria um perfume de videira... - Ali, tornar-se-ia a mais cobiçada das mulheres. A minha Esther seria ferida por dentro... – Mesmo assim, nunca a veríamos de luto. Revelar-se-ia, para mim, apenas, balzaquiana: À ela, e a ninguém mais, o direito sagrado dos anos de viço, com seus motivos de menina. A minha Esther comeria com as mãos; e, faria do alimento, uma eucaristia. Viveríamos uns tempos num apartamento de sala e quarto com vista para um beco, onde à noite os gatos imitariam o nosso coito. Esther era alguém para se mordiscar, literalmente, os (sádicos) bocados da carne de seu corpo-mulher. Comer Esther não seria uma expressão vulgar, portanto. Havia nela um composto formado por tudo que é mal-intencionado... – para a minha própria penitência. Um período lacônico, uma lembrança, uma saudade... – O que seria mais que aceitável: um romance. Todavia, ninguém possuiria o coração daquela mulher. Ela não toleraria, de fato. O amor confunde as pessoas. E, Esther, sabia... Quem ama não se contenta com “sala e quarto”. - Amar Esther seria começar a perdê-la. Antes de tudo, até mesmo da materialização de Esther, eu teria a certeza de que ela iria embora, na aurora que bem escolhesse, sem comento. E mesmo assim, eu iria continuar lutando por Esther... – E depois, mesmo sabendo ser, igualmente, uma tolice, percorreria todos os nossos lugares: bar, praça, banca de miçangas... - E, desde o primeiro desses cantos, rezaria a oração que conhecesse. O silêncio cortado pela pronúncia de seu nome, como que me socorrendo... Mas, isso só a encorajava a continuar fugindo. - Dizem que Esther faz ponto nas esquinas das ruas de maio.

Misael Nobrega
Enviado por Misael Nobrega em 15/03/2023
Reeditado em 07/02/2024
Código do texto: T7741018
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