Das Minhas Lembranças 56

Sem dúvida, foi uma decisão corajosa lançar dois livros de uma tacada!

Aconteceu em 2009 no Parque Ecológico do Eldorado, em Contagem, ao lançar Filhos da Terra (crônicas), com prefácio de Ignácio Hernandez e Todos os Dias são Úteis (poesias), com prefácio de Clevane Lopes. Filhos da Terra teve a capa criada por Berzé e ilustrações internas de Eliana Belo. Mais uma vez as editorações eletrônicas ficaram por conta de meu filho Fernando, que também criou a capa de Todos os Dias são Úteis. Me lembro bem dos deliciosos caldos servidos aos convidados pelas mãos solidárias de minha nora, Angélica Rodrigues e sua irmã Ailza, ao som do violão e voz de Raimundo Pradino. Geraldo Bernardes cuidava da venda dos livros.

Enquanto escrevia as crônicas de Filhos da Terra, que sugaram as minhas energias, eu descansava escrevendo os poemas de Todos os Dias são Úteis. E ao dizer sobre uma decisão corajosa, ou talvez, desafiadora lançando dois livros ao mesmo tempo é por conta de uma conjuntura desfavorável ao escritor alternativo e marginal, quando o perfil de leitoras e leitores migrava para a internet. O livro impresso me parecia com os dias contados. Mas não foi por causa disso que Filhos da Terra consumiram minhas energias. Foi por causa do meu envolvimento com os personagens da trama. Em especial com Zenaide, a mais linda garota do bairro, destruída pelas drogas. Logo no início do livro, um poeta e personagem declama na praça do bairro esses versos:

prazer

quero me perder

nas ondulações sensuais do teu corpo

cegar-me com o brilho dos teus olhos

quero seguir

o teu hábito

achar-me em teus passos

quero sentir

o teu hálito

embriagar-me em teus braços

como as ondas do mar beijando a areia

quero beijar teu corpo

em cada curva estacionar meu sonho

quero ser atrevido

violar os teus sentidos

afogar-me em tuas águas

mar de delícias

envolver-me em carícias

roçar meu corpo em tua pele

sentir o calor

brotar em nossos poros

quero me atazanar me estrepar

em teus espinhos

conquistar palmo por palmo errante

tua selva misteriosa

eleger-me teu bandeirante

quero teu corpo molhado suado

a formar vapor subindo

virando nuvens no céu

chuva caindo sem assombro

sobre a terra fértil

quero-te ave de múltiplas cores

pousada sobre meu ombro.

O início promissor da garota indicava um fim trágico. Mas estas lembranças não são para revelar o livro, e sim, como aconteceram os lançamento no Parque e na Usina Cine Belas Artes, naquele novembro de 2009.

O erro que eu cometera em publicações anteriores aconteceu com Filhos da Terra, talvez pela ânsia de publicar: falha na revisão ortográfica, que viria descobrir após leitura posterior. E assim que considerei o livro pronto , não quis passar pelo sofrimento da releitura. Eu me sentia extenuado. Mas é um filho de papel muito especial. Se houver a chance de uma segunda edição, estas falhas serão corrigidas, que diga-se de passagem, não interferem no conteúdo. Não me lembro exatamente o número de exemplares, mas foi por volta de quatrocentos, duzentos de cada título.

Pouco tempo depois do lançamento no Parque Ecológico, fiz um segundo na Usina Cine Belas Artes de Belo Horizonte, com a participação musical das bandas Taxmann e Negume. Trata-se de um espaço mantido pela Usiminas. O local, diria, cult, tem um pequeno palco para apresentações musicais, café, livraria e lógico, cinema.

Creio que o sonho de todo escritor e escritora é ver seus livros, em primeiro lugar sendo lidos e/ou expostos em bibliotecas e livrarias. Na medida do possível, doei exemplares para algumas bibliotecas. De novo é preciso "fazer poeira", ou seja, levar os livros até os leitores. Conheci escritores e escritoras criativos na divulgação de seus filhos de papel. Teve um, para chamar a atenção da mídia, enviou às redações mensagem de que pularia de um edifício às tantas horas. TV, rádios, jornais e revistas impressas enviaram repórteres ao local. Outros e outras fazem performances em locais públicos. Fiz apenas um ensaio de um projeto cultura sobre rodas, em Tiradentes, durante um festival de cinema. A ideia era ter dois ou mais títulos e viajar num carro aos municípios, no meu caso, de Minas Gerais, para apresentar e vender. O cultural sobre rodas não andou. Depois descobri a livraria do Edson Drumond, no bairro JK, em Contagem, que acolhia e vendia os livros de autores independentes. Vinicius Cardoso, jornalista, foi quem me apresentou ao Edson. Meu lançamento duplo, além de Crônicas do Cotidiano Popular foram expostos nas vitrines da Livraria Leitura do Big Shopping e do Itaú Power, também em Contagem, pela intermediação de meu amigo João Basílio.