Alma carioca...

O ônibus de integração do metrô estava relativamente vazio. Um final de dia da semana como outro qualquer. Pessoas comuns, cenas corriqueiras e rostos vazios impacientes com o trânsito sempre caótico do anoitecer. Vozes, uma lamúria prevista de um trabalhador idoso reclamando do atraso do salário. Desembarque do ônibus, embarque no vagão do metrô. De repente um alarido adolescente, alegre, irreverente. Tentavam entoar trechos eruditos como um tenor pouco provável e desafinados. Olhei ao redor e as pessoas um pouco constrangidas com a demonstração gratuita de alegria, porém inábeis na afinação. Eis que ao fundo, surge uma voz precisa, forte e afinada, justamente do trabalhador lamuriante. Transformação imediata em cantor lírico competente, o vagão inteiro rendendo homenagens nas fisionomias ora alegres, ora surpresas. Até mesmo os sonolentos, os de péssimo humor começaram a se render com a alegria e o ritmo contagiante do cantor popular. Pessoas que jamais se viram, adolescentes e idosos, em uma harmonia expontânea, apesar das dores do cotidiano. Seria no metrô de Paris, Nova York ou no metrô carioca mesmo, que apesar de um povo sofrido, ainda damos um banho de humanidade.