Cruz Admirável da Igreja de Santo Afonso
Pe. Geovane Saraiva*
Para quem aspira a honras, sucessos e glórias mundanas, é a cruz motivo de escândalo, sendo essa cruz o inimigo que destrói a própria felicidade, que restringe a liberdade. Quando contemplo a cruz admirável da nossa Paróquia de Santo Afonso, Fortaleza/CE, numa indicadora simetria, artisticamente esmerada, atraente, graciosa e harmoniosa, penso numa dedicação, sempre maior e mais intensa de cada ano, por ocasião do nosso itinerário quaresmal. A observância da Quaresma, na proposta da Igreja, vai no sentido de mergulhar no mistério da nossa fé (paixão, morte e ressurreição de Jesus), que seja intensificado, pessoalmente ou em comunidade, pela prática da oração vocal ou mental. Em vista dessa dedicação maior e mais acentuada, numa insistência obstinada e instrução religiosa, consequente, pelos esforços dos exercícios espirituais e pela vivência da fé, a partir dos sacramentos, que se obtenha o espírito solidário, o da caridade fraterna, tendo na mente e no coração a CF 2023: “Dai-lhes vós mesmos de comer” (Mt 14, 16).
As pessoas autossuficientes, que sonham com o absoluto em suas próprias vidas, se revoltam contra qualquer forma de sofrimento e encontram enormes dificuldades em contemplar Jesus de Nazaré. Não hesitar nunca, mas ao contrário, mergulhar no seu amor infinito e na sua compassiva misericórdia, mas de um modo implacável, porque não temos outra saída, não encontramos, nós, seus seguidores, outra imagem melhor e mais elevada e digna. A imagem primorosa e encantadora fascinante da cruz da nossa Igreja de Santo Afonso, aqui em Fortaleza, bem em cima do altar, passa para nós a ideia – mais nítida possível – do Senhor ressuscitado, e contraria, na nossa consciência, tudo aquilo que parece ser só sofrimento, fracasso e derrota, não vendo manchas de sangue, estigmas e dilacerações.
Deus, na sua compaixão e indizível amor, por ocasião desta Quaresma, pela cruz santa e sagrada, na nossa Paróquia de Santo Afonso, bairro Parquelândia, a meu ver, demonstra e ratifica a todos uma coisa: de não nos afastarmos, impressionados, de suas santas chagas, de suas chagas gloriosas, do Cristo Senhor, que nos protege e nos guarda. Ela ajuda a contemplar o Cristo Senhor como único, nascido da Santa e Bendita Virgem Maria, tão próxima da cruz santa de Deus. Por esse mistério, associados, nós de Santo Afonso, à Mãe do Perpétuo Socorro, que possamos entrar no caminho daquele que quer reconciliar e salvar a todos.
Só os humildes são capazes, como Jesus de Nazaré, de inclinar os ombros sob o peso da cruz, de aceitar, como ele, ultrajes, humilhações, tratos injustos. Olhemos para São João da Cruz, neste tempo santo da Quaresma, querendo mesmo, e com a maior boa vontade, nos penitenciarmos, pensando nas nossas sombras e contradições, distâncias e afastamentos de Deus. Que possamos aproveitar esse tempo como restaurador e de providencial bênção, convencidos de que “no entardecer da vida seremos julgados pelo amor”.
Pe. Geovane Saraiva - Pároco de Santo Afonso, blogueiro, jornalista, escritor, poeta e integrante da Academia Metropolitana de Letras de Fortaleza (AMLEF).