A MELHOR IDADE
Um dia percebemos de repente que nos tornamos adolescentes maravilhosos, cheios de planos e perspectivas diante de um horizonte que para nós se descortina como um palco encantado onde nós participamos da peça como atores. Vivemos efusivamente regidos pelos nossos hormônios imaginando que o mundo gira em torno de nós.
Na medida do possível aproveitamos essa festa tentando alcançar os nossos sonhos e realizarmos nossas utopias.
Tudo é novo e maravilhoso e nos faz pensar que a vida é apenas felicidade. Não nos preocupamos com adversidades nem com o futuro, para nós o presente é o que importa.
A vida é sutil e o tempo implacavelmente breve. Sem nos darmos conta estrelas cadentes riscam as noites migrando de um canto a outro da galáxia.
As primaveras vêm e vão, as flores desabrocham e ficam belas e perfumadas, mas em pouco tempo definham e murcham porque chega ao fim o seu tempo.
Os flamboyants e os ipês se vestem de cores, ficam viçosos, mas chega um dia em que suas folhas começam a cair e são levadas pelo vento.
A neve recobre o cume da montanha cobrindo-a de branco, mas com o calor do sol derrete e a vida torna a fluir nas encostas enquanto a água que escorre umedece a terra fertilizando-a e possibilitando a renovação.
De repente nos tornamos pais e aquela inconseqüente adolescência é um lindo passado.
Como a natureza que se renova sempre, assim é a raça humana que necessita perpetuar a espécie.
Constituímos família e precisamos prover e proporcionar o desenvolvimento dos nossos filhos para que eles se tornem pessoas saudáveis e bem formadas. Empenhados na responsabilidade não vemos o tempo passar e logo eles se transformam nos adolescentes que um dia fomos, e aí é que percebemos como é bela a juventude.
Não somos mais jovens. Alguns fios brancos nas têmporas insistem em evidenciar que estamos mais experientes. As indisfarçáveis ruguinhas anexas aos olhos e aos lábios quando sorrimos enfeitam a nossa felicidade madura.
O tempo passa e agora temos uma beleza mais apurada e uma experiência que antes não tíamos. Ficamos mais românticos, mais sensíveis, mais amáveis. Não temos mais o vigor da adolescência e a essência do amor é temperada pelo tempo, o que transforma o simples fato de amar em uma viagem maravilhosa e linda. Quem na adolescência poderia imaginar que olhando nos olhos da pessoa amada poderíamos ver o céu e as estrelas? Os jovens amam ao seu jeito sem se importarem com sutilezas, enquanto que os cinquentões, sessentões e setentões buscam o mel em cada beijo, o céu em cada carinho, o êxtase em cada ato de amor.
O tempo se encarrega de transformar o que outrora fomos no que somos hoje, substituindo a nossa impetuosidade viril em experiência atraente deixando para trás aquela tenacidade impulsiva e nos moldando com sutileza comedida transformando nossos sorrisos e olhares em caminhos de felicidade. Envelhecer não significa tornar-se improdutivo ou inoperante, ao contrário disto a vida se descortina com uma gama de possibilidades antes não imaginadas. Deixada em repouso anos a fio, a garrafa empoeirada ao ser aberta nos oferece vinho do mais refinado paladar. Somos como vinho que ao envelhecer brinda a vida como um néctar encantado. Então viva a vida e não pense que sua vida acabou porque os anos chegaram. Busque incessantemente a felicidade e o êxtase do ciclo da vida.