Etarismo, outra praga!
Essa matéria mexeu comigo por um motivo especial, depois de anos figurando como egresso da UFC, oriundo da turma de engenharia mecânica de 1984/2, retornei como aluno de física em 2017, nesta ocasião, aos 57 anos de idade. Se uma pessoa de apenas 40 anos de idade, teve que ouvir barbaridades como estas, só imagino que teriam planejado meu fim, com requintes de crueldade, se fossemos da mesma turma (kkkk). Brincadeiras à parte, fiz questão de me pronunciar para revelar que coisas assim são mais comuns do que podemos imaginar.
Fiz o ENEM 2016, para entrar na UFC sem privilégios e sem precisar usar minha condição de graduado. Eu tinha, e ainda tenho, um propósito bem definido, que é me manter atualizado, sendo capaz de me inserir nos novos tempos e, em troca, transferir para os mais jovens um pouco do que aprendi ao longo da vida.
Logo no início do semestre de 2017, me deparei com os encontros universitários de 2016, que por algum motivo não pode acontecer no final daquele ano. Como eu já vinha atuando voluntariamente na divulgação do uso da energia solar, levando um sistema adaptado no meu transporte, para as praças, eventos, reuniões e outros locais, mostrando seu funcionamento e estabelecendo diálogos sobre essa tecnologia, vi nestes encontros uma boa oportunidade de potencializar essa minha ação. Falei com o professor Rogério Teixeira Masih, que coordenava o evento e, mesmo em cima da hora, permitiu minha participação, pois entendeu que eu poderia contribuir com a ideia educacional norteadora daquele encontro.
Um sentimento de alegria me invadiu, pois eu estava naquele lugar não mais como um simples entusiasta de uma causa, mas, como um aluno da UFC, disposto a ouvir e ensinar sobre um assunto de real relevância para toda aquela comunidade.
Foi uma experiência incrível, eu trocava de figurino a cada instante, hora eu era um experiente engenheiro que atuou em grandes empresas e, de repente, era apenas um aluno, como qualquer outro ali presente. Conversei com pessoas de vários níveis educacionais, dentre elas professores, mestres e doutores, graduados e graduandos, num real processo de troca de conhecimentos.
Ali nasceu a ideia de criar um perfil numa rede social, para mostrar a universidade aos seus alunos e egressos, pois eu tinha certeza que seria impossível para aquele povo, conhecer e manter na lembrança, o mundo universitário em que eles estavam inseridos e, que em breve, iria fazer parte dos melhores quadros pendurados na parede de suas memórias. Foi assim que nasceu no Instagram o perfil do @coletivoufc.
Nem tudo foram flores na caminhada, mesmo com toda minha alegria e minha predisposição em ajudar e trocar informações, passei por um desses momentos desagradáveis, numa disciplina que, aparentemente, não cabia o tal etarismo, no entanto, ele estava lá, usando sua melhor pele de cordeiro.
Para a realização de um trabalho da disciplina, fiquei numa equipe com outras quatro pessoas. Eu achei top, depois de anos voltei a sentir o gostinho deste tipo de atividade grupal.
No entanto, essa felicidade foi sumindo aos poucos, eu parecia invisível para eles, uma das figuras assumiu por conta própria a liderança do grupo e, de quebra, me ignorava descaradamente (façamos de conta que só isso). Nos reunimos algumas vezes, fiz algumas investidas para tentar fazer parte da equipe, mas, sempre sem sucesso.
Peço por favor, que não imaginem que eu era um pobre indefeso, que não sabia como atuar naquele tipo de situação. Eu sabia sim e, tinha bons e fortes argumentos para tanto, mas, se eles fossem utilizados, eu perderia a oportunidade de aprender a lidar com aquelas situações, que eram novas para mim.
O fato que mais me intrigava, era saber que mais da metade do grupo conheciam o peso e a dor do preconceito, pois sofriam com a famigerada homofobia, que ainda faz parte das armas cruéis, utilizadas até hoje, por membros nojentos de nossa sociedade.
Segui a risca as orientações do Chico, onde ele diz: “tô me guardando pra quando o carnaval chegar !”. E o carnaval chegou, no final do semestre, quando a professora fez uma bonita fala de despedida, pedi a palavra e comecei a falar sobre a importância de ter vivido todo aquele momento, destacando meus motivos, minha idade e o medo que eu tinha de não conseguir lidar com o preconceito conhecido como etarismo. Me emocionei e consegui fazer o mesmo com a platéia.
Não citei o nome de ninguém e nem deixei transparecer que toda aquela história tinha nascido naquele meio. Com minha fala forte e clara, vi “minha” equipe baixar a cabeça, mesmo usando a carapuça que haviam colocado por razões óbvias.
No final vieram do falatório vieram vários abraços e beijos, um deles guardo até hoje. A líder dos dissabores que vivi naquele semestre, me abraçou, chorou e me pediu desculpas. Claro que aceitei e, lógico que lavei a alma, sem precisar usar da violência, nem em forma de palavras.
Me senti vitorioso porque fiquei com a esperança de ter melhorado a vida destas pessoas e, o que é melhor, acreditando que também evitei que elas pudessem fazer novas vítimas!