PARAISO

Contava os dias, assim com as horas, para fugir das metrópoles. Seus trintas dias de férias eram necessários. Uma vez no ano, precisava harmonizar o invisível da alma com o abraço do espírito, para sentir a presença da criação e do criador.

Tudo que deseja é andar descalço e consumir no pomar o fruto maduro que acaba de soltar do talo, um momento de gratidão, a terra, a raiz, o tronco, as folhas.

Esse encontro de fé, que não se inventa, traz a renovação de cada amanhecer neste pedaço de mundo. O novo dia é sempre bem-vindo, a chuva para molhar a terra espalhando pelo ar seu aroma, pequenos pássaros assobiando seus cânticos para alertar do perigo, ou chamar sua companheira para dança do acasalamento.

O cheiro da terra molhada é levado pelo fumo de uma brisa suave; o sol vai se erguendo vigoroso para surgir do alto da montanha. É assim que o dia começa e termina, num lugarejo onde se pode chamar também de vila, ou de uma irmandade, dado o grau de parentesco de seus habitantes.

É preciso deixar transbordar esse encontro. É possível dizer que o puro ar sopra nas narinas. É preciso compreender a língua da terra que ensina os seus costumes. É preciso rastrear os sinais dos sentidos chamados pela terra. É preciso encontrar o caminho e ter confiança de que o impossível está além da altura do seu limite.

A modernidade ainda não se faz presente, o rádio é o único meio de informação dos acontecimentos. O único acesso é no lombo de um cavalo ou a pé, uma trilha sem possibilidade para trafegar veículos.

Antes da chegada é preciso escalar uma escada de madeira medindo trinta metros de altura. Cada degrau pode ser uma descoberta, uma exclamação, um ponto de interrogação, ou a confiança no eu do encontro mais profundo.

Tomar um fôlego é mas que preciso para depois encantar os olhos do principiante, com uma vista da beleza da natureza, causando um êxtase com sensação de que encontrou um paraíso.

Beber água da fonte ia distante buscar, dava mais de uma légua de ida e volta. Um pano enrolado em forma de ninho acomodava o pote na cabeça, única maneira de transportar água fresquinha, para beber geladinha, o pote é uma arte do equilíbrio do corpo e mente.

Os trintas degraus agora levam para baixo, os dias ali existentes foram breves, como um sonho leve dentro de um paraíso onde se encontra tranqüilidade com a alma da serenidade.

Castro Rosas

Castro Rosas
Enviado por Castro Rosas em 13/03/2023
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