Histórias da Fazenda São Bento

Ao final do dia arranchamos na Fazenda São Bento do Sr José, ele em seguida havia chegado, estava roçando uma Quinta, aquele senhor franzido e cheio de disposição veio em minha direção apertou minha mão e perguntou pelo meu nome, após respondê-lo, ele saiu, pois não havia terminado suas tarefas, pegou um saco de sal e foi para o curral colocar para o gado.

Ao adentrar na cozinha, como um bom apreciador de café, tinha visto a garrafa e perguntei se havia café, Dona Luzia, que é esposa de Sr. José com toda simpatia falou que não, mas que iria fazer, disse que não havia necessidade nem o trabalho para tal, só se tivesse na garrafa. No entanto, quando ao menos esperei, lá se vem um copo com café bem quentinho feito por dona Luzia, não poderia fazer essa desfeita, e assim tomei meu cafezinho contemplando a paisagem da fazenda.

Após a janta e depois de todos acomodados, fomos para área da casa comer milho cozido deitados nas redes que já estavam atadas, e por ali ficamos conversando, uma conversa boa, sadia, sem o uso do celular, pois não havia wi-fi, muito menos sinal de operadora, o que se ouvia além das histórias, era o canto de uma ave estridente (thi, thi, thu, thu), o coaxado dos sapos, o ciciar das cigarras, o mugido das vacas e vez em quando o badalar do chocalho das ovelhas no cercado, a noite era agradável e um pouco fria.

Falando em ovelha, Sr. José contou que a região tem muita onça e que chegou a perder algumas criações de ovelhas que fora atacado por onça, inclusive Dona Luzia informou que chegou a ver uma onça levantada na cerca que fica bem perto da área onde eu estava deitado na rede, e que os ataques são frequentes por estas terras continuou senhor José, que dias atrás seu vizinho de terra que também perdeu criação comido por onça, estava no meio da mata fechada com 5 cachorros, quando ouviu os cachorros latindo insistentemente em uma área da mata, ao adentrar mais na mata se deparou com uma onça que estava acuada pelos cachorros, que quando ao menos percebeu a onça foi ao seu encontro para ataca-lo, chegando a levar uma patada e cair, momento em que seus cachorros partiram para cima desta onça para defendê-lo. No final a onça acabou correndo para mata adentro deixando dois cachorros sem vida os outros feridos, o seu vizinho chegou a levar 50 pontos no braço com o corte que levou com as unhas da onça.

Ouvindo admirado toda aquela história, percebi um clarão, era a lua que havia despontado por detrás das palhas do coqueiro para participar da conversa.

Senhor José havia guardado uma cabaça para dar-lhe de presente a colega que estava com nossa comitiva, pois ela queria levar para mostrar para seus filhos como que se armazenava e bebia água no seu tempo. Sr. José disse que antigamente quando não existia geladeira nem água potável, ele buscava a água diretamente da Cacimba e a noite enchiam as cabaças, onde pela manhã amanheciam geladinhas, prontas para serem levadas ao roçado. Chegando no roçado acomodavam as cabaças em uma moita de mato para conservar água ainda gelada, e assim saciar sua sede.

Dona Luzia lembrou também que no seu tempo quando criança sempre acompanhava seus pais na roça e que seu trabalho era pastorar o dia inteiro pela plantação, tangendo os bichos e principalmente os pássaros para não comerem a plantação de arroz e de milho.

Quantas histórias agradáveis foram contadas! Confesso que estava precisando deste precioso momento e que hoje são raros de ser ver. A noite foi esfriando ainda mais, e assim adentramos na casa para o repouso, pois a lida no campo inicia cedo, junto com o catar do galo.