CASAR PARA SEPARAR?
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou resultados de pesquisa que em 2021, no Brasil, tanto o número de casamentos quanto de divórcio foi crescente. Foram 932 mil casamentos e 386,8 mil divórcios. A relação percentual com referência a 2020 ficou em 23,2% para os casamentos e 16,8% para os divórcios.
O tempo de duração entre o casamento e o divórcio vem diminuindo. Até 2010, a média era de 15,9 anos, tendo caído para 13,9 em 2021. Em uma década, pois, a média caiu 2 anos. Já a proporção de divórcios com guarda compartilhada dos filhos menores evoluiu de 7,5% em 2014 para 34,5% em 2021, ou seja, cresceu 27,0% em 7 anos.
Os casamentos estão durando menos tempo e com tendência de durarem menos ainda. Os divórcios estão crescendo assustadoramente e acontecendo cada vez mais em menor tempo. Estes números demonstram um problema de extrema gravidade, pois, este não fica restrito ao casal, mas se estende às famílias dele.
Há um aforisma que diz: “casamento, a família vem junto”. E de certa maneira, vem mesmo. Embora a família formada pelo casal seja outra, esta guarda relações com as famílias do casal. A questão está no relacionamento das famílias com a nova família, que deve ser de amizade, sem intromissão na vida dela, a não ser quando requerida por ela.
Mas, o problema não para aí. Ele é maior na relação do próprio casal, que devem ambos se esforçar permanentemente em se tornarem uma só pessoa. Este é o grande desafio: a unidade da individualidade dos dois. Aqui reside o cerne da questão, pois na maioria das vezes o nó da corda se esgarça nesse ponto.
Vivemos os dias de hoje numa condição de hipermodernidade. E esta condição ressalta a individualidade, o egoísmo, o prazer, destronando tudo o que foi ensinado e praticado pelas gerações passadas. O sacrifício da satisfação individual não encontra correspondência na satisfação do casal, vivendo cada um deles um hedonismo pelo qual cada um busca só sua própria felicidade.
O casal vai ao casamento já maturando um pensamento: se não der certo, a gente se separa. Desse modo, o casamento não dá lugar ao amor, nele o amor é líquido, fluido, desaparece na primeira dificuldade. Não há esforços para juntos superarem a crise, porque cada um está pensando em si próprio, em seu egoísmo, em seu prazer, quando o maior prazer na realidade gira em torno de um servir o outro, para que ambos possam bem viver.
Se o casal sobe ao altar ou se põe diante do magistrado com esse pensamento de separação, caso não venha dar certo a relação, os compromissos que assumem de nada valem, são vazios, ditos por mera formalidade, sem sentimento algum que grite internamente os lembrando da grave responsabilidade que adquirem perante si próprios, às famílias e à sociedade, ao se unirem em matrimônio.
Os números acima apresentados denotam que a quantidade de casamentos é maior que a de divórcios. No entanto, o número de divórcios representa 41,5% do número de casamentos, significando ser alto o índice de separação. Assim, para que se alcance redução desse índice, que não haja mais casamentos com perspectivas de separação, preparando-se os nubentes para viverem unidos até que a morte os separe.
Que estes se inspirem na possibilidade de que o lar não seja apenas um lugar e sim uma pessoa, a pessoa que resulta dos sentimentos de duas. Como diz o evangelista Marcos: “assim não são mais dois, mas uma só carne. Portanto, o que Deus uniu, não separe o homem” (Mc 10,9). Ou como escreve Gabriel García Marquez, numa bela forma literária de se observar a Palavra de Deus: “te amo não pelo o que você é, mas sim, por quem sou quando estou com você”.