O TRISTE FIM DE MEU AMIGO, O PADRE FERNANDO

 

   Sempre digo que na cidade onde alguém [nela] nasceu e cresceu eis ali uma grande parte de sua alma. Até porque foi nela que se fecundou suas primeiras “sementes”. Sou do tempo em que a “realidade virtual” das redes sociais ainda não existia. E na necessidade de socialização fazia-se preciso ir nas casas dos amigos e colegas, em que em tais espaços todos se conheciam.

   Estava voltando por estes dias de São Paulo para a minha querida Diamantina, conforme sempre faço em minhas férias de trabalho. E no meio da viagem me lembrei d’uma conversa que tive há mais ou menos uns três anos com o meu amigo Fernando, ou, para o conhecimento de todos, padre Fernando. Sim, um grande companheiro de infância e adolescência que decidiu seguir na contramão da "galera", já que todos se casaram e optaram em ter uma “vida secular” (inclusive eu).

   Recordava-me que na época o meu amigo viva uma crise interna (as conhecidas "crises existenciais"), onde, a partir de uma postura de confissão, disse-me que queria deixar o sacerdócio, já que estava bastante apaixonado por uma jovem (e fiel de sua igreja) que, pelo visto, “roubou-lhe o coração”.

   Pois é! Um religioso [padre] confessando-se com um “leigo”, onde com tais terminologias são definidos assim pela Santa Igreja Católica. E eu confesso que fui tomado por um enorme espanto quando ele se abriu para mim. Oh, são nessas horas que se percebe quando uma pessoa está não apenas pedindo um conselho, mas, sobretudo, desejando uma ajuda no que deve ser decidido em fazer [com a vida]. Cheguei mesmo a perguntar-lhe se não estaria rezando e pedido a Deus por " uma luz" (uma orientação), e eis o que ele me disse: - É o que eu mais faço em minha vida no presente tempo. Mas, o que eu sinto pela moça é mais forte do que eu.

   E naquela conversa eu me lembrei que uma das coisas que lhe disse era que, caso se tratasse de uma “emoção”, aquele “momento mental” passaria, onde seria precipitado de sua parte em “largar a batina” (no modo de dizer). Contudo, “cabeça de apaixonado” todos sabem como funciona: a pessoa fica alucinada, ao que não enxerga, não ouve, não raciocina, e tem o seu “HD todo desconfigurado” (todo bagunçado).

   Retornei-me para São Paulo, dizendo a ele que pensasse bem no que iria fazer, e do fundo de meu coração iria pedir a Deus que o iluminasse em sua decisão.

   Pois bem, hoje, descendo do ônibus na rodoviária de Diamantina, não é que eu encontrei o meu estimado amigo Fernando? Demo-nos um caloroso abraço de reencontro. E naquele momento, antes de ir para a casa de meus pais, decidimos prosear um pouco num restaurante. Perguntei-lhe se estava tudo bem e eis quais foram as suas palavras:

   - Tô levando a vida, abandonei o sacerdócio, estou lecionando Filosofia numa faculdade, mas, no mais, está tudo bem.

   - E quanto àquela questão que tanto te angustiava, como é que ficou? – Perguntei-lhe, então.

   - Assim que deixei de ser padre, eu me casei. Contudo, não foi como eu esperava. Vários desentendimentos começaram a aparecer, brigávamos por motivos ridículos, discutíamos por bobagens. E aquela viva paixão foi cada vez mais apagando a sua chama. Estamos nos divorciando! Vida que segue agora...

 

 

06/03/2023

 

IMAGENS: INTERNET

 

MÚSICA: "POR ENQUANTO" - Legião Urbana

https://www.youtube.com/watch?v=7P8zUOp7HJg

 

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SOMENTE O TEXTO:

 

O TRISTE FIM DE MEU AMIGO, O PADRE FERNANDO

 

   Sempre digo que na cidade onde alguém [nela] nasceu e cresceu eis ali uma grande parte de sua alma. Até porque foi nela que se fecundou suas primeiras “sementes”. Sou do tempo em que a “realidade virtual” das redes sociais ainda não existia. E na necessidade de socialização fazia-se preciso ir nas casas dos amigos e colegas, em que em tais espaços todos se conheciam.

   Estava voltando por estes dias de São Paulo para a minha querida Diamantina, conforme sempre faço em minhas férias de trabalho. E no meio da viagem me lembrei d’uma conversa que tive há mais ou menos uns três anos com o meu amigo Fernando, ou, para o conhecimento de todos, padre Fernando. Sim, um grande companheiro de infância e adolescência que decidiu seguir na contramão da "galera", já que todos se casaram e optaram em ter uma “vida secular” (inclusive eu).

   Recordava-me que na época o meu amigo viva uma crise interna (as conhecidas "crises existenciais"), onde, a partir de uma postura de confissão, disse-me que queria deixar o sacerdócio, já que estava bastante apaixonado por uma jovem (e fiel de sua igreja) que, pelo visto, “roubou-lhe o coração”.

   Pois é! Um religioso [padre] confessando-se com um “leigo”, onde com tais terminologias são definidos assim pela Santa Igreja Católica. E eu confesso que fui tomado por um enorme espanto quando ele se abriu para mim. Oh, são nessas horas que se percebe quando uma pessoa está não apenas pedindo um conselho, mas, sobretudo, desejando uma ajuda no que deve ser decidido em fazer [com a vida]. Cheguei mesmo a perguntar-lhe se não estaria rezando e pedido a Deus por " uma luz" (uma orientação), e eis o que ele me disse: - É o que eu mais faço em minha vida no presente tempo. Mas, o que eu sinto pela moça é mais forte do que eu.

   E naquela conversa eu me lembrei que uma das coisas que lhe disse era que, caso se tratasse de uma “emoção”, aquele “momento mental” passaria, onde seria precipitado de sua parte em “largar a batina” (no modo de dizer). Contudo, “cabeça de apaixonado” todos sabem como funciona: a pessoa fica alucinada, ao que não enxerga, não ouve, não raciocina, e tem o seu “HD todo desconfigurado” (todo bagunçado).

   Retornei-me para São Paulo, dizendo a ele que pensasse bem no que iria fazer, e do fundo de meu coração iria pedir a Deus que o iluminasse em sua decisão.

   Pois bem, hoje, descendo do ônibus na rodoviária de Diamantina, não é que eu encontrei o meu estimado amigo Fernando? Demo-nos um caloroso abraço de reencontro. E naquele momento, antes de ir para a casa de meus pais, decidimos prosear um pouco num restaurante. Perguntei-lhe se estava tudo bem e eis quais foram as suas palavras:

   - Tô levando a vida, abandonei o sacerdócio, estou lecionando Filosofia numa faculdade, mas, no mais, está tudo bem.

   - E quanto àquela questão que tanto te angustiava, como é que ficou? – Perguntei-lhe, então.

   - Assim que deixei de ser padre, eu me casei. Contudo, não foi como eu esperava. Vários desentendimentos começaram a aparecer, brigávamos por motivos ridículos, discutíamos por bobagens. E aquela viva paixão foi cada vez mais apagando a sua chama. Estamos nos divorciando! Vida que segue agora...

 

06/03/2023

 

Estevan Hovadick
Enviado por Estevan Hovadick em 06/03/2023
Reeditado em 06/03/2023
Código do texto: T7733816
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