Meninos e Meninas

 

Num jantar com amigos...

Então, como estão os meninos?

Meninos fazem coisas de meninos.

Silêncio...

Meninas fazem coisas de meninas.

Ham?... porque você disse isso?

Sua pergunta. Respondi.

Tá... Mas o que eu disse foi algo para puxar um assunto, tipo, como estão as coisa, o que tem feito, algo assim. Não entendi esse comentário.

Bom, como você mesmo acaba de dizer, queria puxar um assunto. Puxou.

E...

O que eu disse parece óbvio, mas é isso mesmo, deveria ser assim. Infelizmente não é o que está acontecendo. Eles se encontram, se falam, demonstram interesse uns pelos outros, repetem incansavelmente, acrescento ainda, tediosamente, que se amam. É eu tal de eu te amo­ o tempo todo. Será mesmo? Penso que seja como a sua pergunta, apenas para puxar um assunto e banalizar o sentido de amar. Ficou tudo muito vulgar, muito prato feito, tipo, é o que tenho para hoje. Quantos desse eu te amo é de fato amor? Lembro-me de haver escrito algo sobre isso, ( Qual o tamanho do seu amor ). O ponto é que, meninos e meninas de hoje se deixaram levar, ou foram invadidos de tal forma pelo consumismo e as mídias, que é preciso ser politicamente correto. Do contrário, tornam-se párias. A partir deste conceito, não importa o que você pensa, importa o que vão pensar de você. Nesse ponto o jovem torna-se refém de um conceito adquirido, imposto para que as pessoas se dividam em opiniões e crenças. Sem falar no que eles próprios produzem contra si. Onde foi parar a rebeldia criativa que nossa juventude forjou a duras penas e com lastimáveis perdas? Terá valido a pena entregar toda a riqueza de ações, informações, conceitos e atitudes para que se chegasse a esse ponto? Tente me dizer o nome de uma música criativa, instrutiva, agradável, para ficarmos apenas no campo da cultura? Não têm. Exceções? Provável. O que existe são desabafos de sofrências inconsoláveis e todas com um fundo de revolta ou vingança. Mas tem a turma dos MC's. Aliás, qualquer um que saiba cuspir na mão fechada imitando um microfone, a outra na região da virilha, mandar uns versos sem rima, sem fundamento e falando um tanto de asneiras e muito palavrão, é considerado fodástico, outro termo criado para impressionar e que não se justifica. Bem, não quero entrar na questão da sexualidade e menos ainda na questão de gênero, se tem uma coisa que ajuda a não aumentar as idiotices, é não as divulgar. Me calo.

Muito bem, tudo está ótimo, comida, sobremesa, companhia, mas tenho que ir. Grato pelo jantar!

 

 

Ilustração: da obra O Pequeno Príncipe,.