A PROCRASTINAÇÃO SEMPRE ME ACOMPANHOU.
Que a mania de deixar quase tudo para depois é algo que tenho desde os meus mais tenros anos de vida, isto não tenho a menor dúvida. Com raríssimas exceções. Por exemplo, uma delas quando tinha oito anos e encontrei uma banana de dinamite na rua da minha pequena cidade, no tempo em que a empresa contratada pela prefeitura usava tal explosivo para esmiuçar pedras para o calçamento local. Essa é outra história que, por intervenção Divina não feriu ninguém, apenas um grande prejuízo e susto.
Já quando era adolescente, quando o meu estudo estudo para ser padre já demonstrava instabilidade, insegurança, o meu coração foi flechado por Cupido e a minha pretendente só veio ficar ciente da minha intenção em namorá-la depois de algum tempo e por carta. Em síntese foi um rápido namoro platônico que só ficou na memória, pelo menos na minha.
A mudança de residência, à minha revelia, do Piauí para São Paulo foi um divisor de águas. Nesta megalópole o assunto era só trabalho, trabalho e trabalho. Enquanto isto, no meu âmago, ia tricotando um anelo sacerdotal que chegou ao fim com a visita de um padre que iria me levar dar continuidade aos meus estudos. A palavra fim que usei na frase anterior não foi relacionada à minha esperança de voltar a estudar em um colégio interno, porém ao meu ideal sacerdotal. Os meus pais ratificaram ao padre visitante as palavras de Cristo: "De nada vale dizer que ama a Deus que não vê se não ama aqueles que estão na sua presença". Em resumo, fui convocado, após o fechamento do seminário no Piauí para ser arrimo de família em São Paulo. Vocação procrastinada.
Finalmente, depois de muito "adiar" relacionamentos mais sérios, casei-me e nesta ocasião não houve procrastinação de filho, pois este já estava como "testemunha" neste dia. Apressadinho, hein? É a vida celibatária que pôs fim a um desejo represado.
Agora, viúvo, dois filhos e dois netos, ao assistir na televisão muitas pessoas concretizando um sonho após 70 anos, só posso desejar boa sorte a todos elas, o que poderia até acontecer comigo também. Mas, como a procrastinação é uma companheira de longos anos, mesmo sentindo que o rio onde fui colocado, hipoteticamente, numa cesta como aquela de Moisés já esteja prestes a desembocar naquele mar sem retorno, eu posso garantir que, como já plantei árvore, tenho dois filhos e publiquei um livro, posso me considerar realizado. A propósito, o livro citado é MENTIRAS INOFENSIVAS E PARADOXOS CORRIQUEIROS. Tenho vários projetos literários ainda para publicar. Isto quando Deus preparar a oportunidade.