A História de um Menino com Autismo Leve - parte 01:
A história que vou compartilhar com vocês é a de um menino com autismo leve que enfrentava desafios diários. Quando tinha apenas quatro anos, sentia-se muito frustrado por não compreender qual era o momento apropriado para realizar suas atividades. Queria almoçar, mas não era hora do almoço; queria brincar, mas era hora de tomar banho; e quando desejava tomar banho, era hora de dormir. Não entendia por que não podia fazer o que queria quando desejasse, o que o fazia chorar muito.
Certo dia, teve uma ideia incrível: perguntar à sua tia como a mãe sabia o momento adequado para fazer cada coisa. Ela me explicou que era o relógio que "falava" para a mãe a hora de fazer as coisas. A partir desse dia, o menino começou a prestar muita atenção ao relógio, querendo ouvir sua conversa do relógio com sua mãe, pois esse menino entendeu esse "falava" de modo literal.
Sua mãe achou estranho que o menino estivesse algumas vezes olhando fixamente para o relógio, mas ela não lhe perguntou nada. Apenas o mandou brincar lá fora, dizendo que era hora de uma criança saudável se divertir. Ele obedeceu prontamente, mas ainda estava confuso. Decidiu então se esconder para descobrir por que o relógio se recusava a falar na sua presença. Talvez fosse porque o relógio era muito tímido, ou havia um grande segredo entre a mãe e o relógio, quem sabe?
A mãe estranhou novamente quando o menino se escondeu atrás de algum móvel e ficou olhando para o relógio, mas ela não disse nada, pois pelo menos o filho estava quieto e não estava causando problemas. Ela nem suspeitava que o menino só queria ouvir o relógio falar. Além desse menino, a mãe tinha mais cinco filhos para cuidar.
Então, o menino teve outra ideia: como a mãe parecia saber de tudo e o relógio a ajudava a saber o momento certo para fazer todas as coisas, ele não faria mais nada sem consultá-la primeiro para saber se podia fazer o que queria, ou então ficaria sentado quietinho e esperaria a mãe dele lhe dizer quando era hora de fazer isso ou aquilo. Dessa forma, ele não receberia mais broncas e poderia brincar no momento adequado sem ter novos problemas com ela.
Então, tudo o que ele pretendia fazer a partir daquela data, consultava a sua mãe. E tudo parecia encaminhar-se na devida ordem e harmonia, até o dia em que esse menino estava um pouco além do limite do quintal de sua casa. Do outro lado da rua havia um senhor idoso que, usando um carrinho adaptado para venda de balas, doces e confeitos em geral, estava estacionado, exibindo seus produtos através de uma vitrine de vidro. O menino viu que o senhor idoso tinha as balinhas que ele tanto gostava: as balinhas de banana. Ele colocou a mão no bolsinho da sua bermuda e tirou três moedas, que eram suficientes para comprar vinte balinhas ou um doce.
O menino já havia dado o primeiro passo em direção ao outro lado da calçada quando se lembrou de que não havia pedido autorização para comer balas naquela hora, e precisava saber se poderia atravessar a rua, coisa que nunca havia feito sozinho. Então, parou, voltou ao ponto de onde estava quando avistou o vendedor e entrou no quintal. Andou cerca de 25 metros, abriu a porta procurando sua mãe. Ele pretendia prestar atenção em suas palavras para obedecer e fazer exatamente o que ela orientasse.
Ele encontrou-a na cozinha, em frente à pia, onde estava lavando a louça do almoço. Ele a chamou, mas ela não o ouviu porque ele falava muito baixo e ela estava ouvindo um programa de rádio. Então, ele puxou delicadamente a saia dela para que ela o percebesse. Ele mostrou as três moedas e perguntou se poderia comprar as balas que estavam do outro lado da rua. A mãe dele se abaixou, pegou as moedas, contou e devolveu-as para ele.
Entretanto, em vez de usar corretamente os termos específicos para orientar o menino, dizendo que ele poderia atravessar a rua e comprar as balas, mas que deveria apertar bem as moedas na mão, prestar atenção na rua para não chutar as pedrinhas e machucar seus dedinhos, e ao receber as balas, se o homem não tivesse embalagem para colocá-las todas juntas, que ele as colocasse em sua camisa e fizesse uma espécie de sacolinha, lembrando de olhar bem antes de voltar a atravessar a rua para não chutar as pedras, já que a rua não era asfaltada, a mãe deveria também dizer a ele que antes de atravessar a rua, tanto na ida quanto na volta, deveria olhar para ambos os lados e, se avistasse um carro, esperaria que o carro passasse para só então atravessar a rua sem perigo algum. E era preciso olhar novamente para confirmar se não houvesse outro carro vindo do mesmo ou do outro lado, antes de atravessar a rua finalmente. Na hora de voltar, faria a mesma coisa: olharia para ambos os lados e tomaria a mesma providência. Então, ela lhe perguntaria se ele havia entendido e pediria para ele repetir todos os conselhos e ensinamentos. Se visse que ele havia entendido todas as recomendações, ela o liberaria para o menino fazer essa grande exploração até o outro lado da rua, cumprindo assim uma parte da sua independência responsável como indivíduo.
No entanto, não foi isso que a mãe dele fez. Ela olhou para ele, fez uma expressão de assustada e disse: "Olha bem, você pode ir sim, mas eu quero que você atravesse a rua só depois que você esperar o carro passar, porque se não, o carro vem bem rápido e te atropela e acaba com você". Ela falou isso falando rapidamente, alto e parecia meio desesperada ao dizer tudo isso.
E quando ela dizia isso, ela fazia gestos com as mãos. Com uma mão, simulou duas perninhas andando, e com a outra, um carro em alta velocidade empurrando aquelas perninhas simuladas pelos dedos. O menino ficou bastante assustado, mas foi em direção à rua, pois ele queria muito chupar as balinhas de banana.
Em meia hora após essa conversa que ele teve com a mãe dele, ela o encontrou na beira da rua e ele parecia um pouco ansioso. Ela perguntou: "Você já chupou todas as balas?" Ele respondeu que não, e ela ficou muito brava e perguntou: "Por que não? Você não foi lá encher a minha paciência para comprar essas balas? Eu estava ocupada e você foi me incomodar à toa?" Ele disse que não tinha comprado ainda porque estava esperando o carro passar, como ela havia ordenado. O carro ainda não havia passado porque a rua era pouco movimentada, e ela havia esquecido desse detalhe. O menino estava pronto para observar tudo o que a mãe dele mandasse, e ela mandou que ele só atravessasse a rua depois que o carro passasse. Ele obedeceu, pois acreditava que os carros vinham muito rápido, e era muito importante esperar o carro passar, porque assim não haveria perigo. Ele acreditou nisso por causa da informação que a mãe dele lhe deu, e entendia que a mãe jamais iria dar uma informação errada para ele. Para não levar bronca, ele escutou exatamente o que a mãe dele disse, então ficou lá esperando o carro passar. O carro não passava, e ele ficava tentado, querendo atravessar. Várias vezes, o menino ficou assustado porque as pessoas ficavam atravessando o tempo todo, correndo um grande perigo, e ninguém avisava para elas que os carros vinham muito rápido e que elas tinham que esperar o carro passar primeiro para passar com toda segurança. Ele até fechava os olhos para não ver a colisão que ele acreditava que aconteceria. Algumas vezes, ele tentava gritar, avisando às pessoas para esperarem o carro passar, mas elas olhavam para ele sem entender, porque não viam nenhum carro para terem que esperar. Quando a mãe ouviu o relato dele, ela começou a rir, dizendo que ele era engraçado, e quando a tia chegou, ela contou o que havia acontecido e as duas saíram rindo, deixando o menino lá com as moedas na mão. Então ele começou a chorar. Uma velhinha que estava passando o abraçou e disse que tudo ficaria bem. De repente, passou um único carro de corrida em alta velocidade sendo perseguido por uma viatura da polícia.
Isaías Amorim